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    Lava Jato

    Após homenagear Marcelo, político é acusado por caixa dois da Odebrecht

    FELIPE BACHTOLD
    DE SÃO PAULO

    26/12/2017 02h00

    Bruno Santos/Folhapress
    CURITIBA, PR, BRASIL, 19-12-2017, 11h40: O ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, deixa Justica Federal de Curitiba, apos colocar tornozeleira eletronica. (Foto: Bruno Santos/Folhapress, PODER) ***EXCLUSIVO***
    Marcelo Odebrecht deixa Justiça Federal de Curitiba, após colocar tornozeleira eletrônica

    "Fica concedido o título de Cidadão Paulistano ao sr. Marcelo Odebrecht pela sua dedicação às causas sociais e dos trabalhadores, luta e sacrifício pela democracia, defesa das liberdades civis e restauração do Estado de Direito."

    Assim dizia um decreto da Câmara Municipal de São Paulo assinado em 2011 concedendo a honraria ao herdeiro da empreiteira, preso desde 2015.

    Seis anos depois, o autor da sugestão de homenagear o empreiteiro está sendo processado pelo Ministério Público sob acusação de receber caixa dois da empresa.

    Então vereador pelo PT, Francisco Chagas propôs o título a Marcelo Odebrecht por "promover emprego e renda" para a cidade e por ser uma "jovem liderança empresarial". Até a construção do estádio do Corinthians, tocada pela empreiteira na zona leste, foi listada por ele na época como justificativa.

    Na última terça (19), dia em que Marcelo enfim deixou a cadeia no Paraná e passou ao regime domiciliar, o Ministério Público do Estado de São Paulo ajuizou uma ação civil contra Chagas –e contra a Odebrecht– por suposto pagamento de caixa dois.

    A delação apontou pagamento de R$ 30 mil na campanha de 2010, na eleição dele para deputado federal, sob o codinome "Campinas". Para os promotores, esses repasses configuram improbidade administrativa.

    A Odebrecht fez um acordo com o Ministério Público paulista em que se comprometeu a pagar aos cofres públicos quantias equivalentes às repassadas via caixa dois.

    O promotor Valter Santin chamou o processo de "simbólico" pelo valor baixo, se comparado a outros casos relativos à empreiteira.

    A sessão solene na qual o empreiteiro recebeu o título ocorreu em 2 de agosto de 2012 no salão nobre da Câmara paulistana. O então prefeito Gilberto Kassab (PSD) compareceu, chamou Marcelo de "homem exemplar e referência" e posou para fotos com ele.

    Kassab, hoje ministro do governo Michel Temer, também se tornou alvo na semana passada de ação de improbidade dos promotores paulistas, que o acusam de receber R$ 21,2 milhões em caixa dois da Odebrecht –ele nega.

    Vereadores tentam revogar a homenagem.

    A Odebrecht fez ainda doações oficiais a campanhas de Chagas por meio da Braskem. Em 2014, a empresa foi a principal doadora de sua campanha a deputado federal, com R$ 381,5 mil pagos. Também doou R$ 30 mil na eleição de 2008.

    A Folha procurou o ex-vereador desde quinta (21), mas não conseguiu contatá-lo. Segundo o Ministério Público, Chagas foi ouvido durante a investigação e negou ter cometido irregularidade.

    Câmara Municipal de São Paulo
    Marcelo Odebrecht recebe título de Cidadão Paulistano na Câmara de São Paulo em 2012, com o então prefeito Gilberto Kassab Foto: Câmara Municipal de São Paulo DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
    Marcelo Odebrecht (à esq.) e Kassab durante homenagem na Câmara Municipal de São Paulo em 2012
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