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    Aderir a partidos cria dilema em grupos de renovação política

    JOELMIR TAVARES
    DE SÃO PAULO

    31/12/2017 02h00

    Avener Prado/Folhapress
    Juliana Cardoso, 28, integrante do movimento Agora!
    Juliana Cardoso, 28, integrante do movimento Agora!

    Pode a integrante de um movimento que propõe renovação estar filiada a um partido que esse mesmo grupo associa à "velha política"?

    Pode. Um exemplo é o de Juliana Cardoso, 28. Homônima da vereadora petista de São Paulo, a participante do Agora! –coletivo que ganhou holofotes após a entrada do apresentador Luciano Huck– aparece também nas fileiras do PR (Partido da República).

    Juliana, que já passou por PSDB, PSL e PRB, quer se candidatar a deputada federal. Sua situação ilustra um impasse no ecossistema de grupos que se preparam para lançar ou apoiar candidaturas.

    O dilema é: sair por um partido com o qual há identificação ideológica (como Rede, Novo e PSOL), porém com estrutura menor para oferecer, ou aderir a uma legenda tradicional, que pode representar uma chance maior de eleição, pelos recursos e potencial de quociente partidário.

    No caso de Juliana, a opção até agora se encaminhou pelo pragmatismo. Cálculos que a engenheira ambiental mostrou a colegas do Agora! indicam que no PR ela se elegeria com metade dos votos que precisaria caso estivesse na Rede, segundo suas projeções.

    A diferença é explicada pelo quociente levado em conta na apuração, em que partidos e coligações com mais votos "carregam" mais eleitos. No PR, Tiririca puxou dois colegas de coligação em 2014, com seu 1 milhão de votos. O deputado federal, no entanto, tem dito que não disputará mais uma reeleição.

    Em legendas maiores o financiamento também pode ser facilitado, já que obtêm fatias maiores dos fundos partidário e eleitoral –dinheiro público repartido entre candidatos a critério das direções. Parte dos políticos da nova safra, porém, não quer esses recursos.

    Em 2014, quando disputou vaga na Assembleia Legislativa pelo PRB, Juliana teve 10 mil votos. Ela é cofundadora do Brasil 21, outro movimento que quer rejuvenescer a política, e uma das contempladas pelo RenovaBR, que dará bolsas de até R$ 12 mil para pré-candidatos se capacitarem.

    Apesar de ter sido criado em 2006, o PR é identificado, por grupos que querem reformar a cena pública, como uma das siglas "velhas", com pouca democracia interna e baixa transparência, por exemplo.

    Na propaganda do partido na TV, dias atrás, Juliana apareceu dizendo que o PR "apoia os movimentos inovadores da juventude" e abre espaço para mulheres. A Folha apurou que outras legendas têm feito convites à pré-candidata.

    ADESÃO CRÍTICA

    Partidos como Rede, PPS e PSOL acenam, nas conversas com os grupos, com a oferta de candidatura independente. Nesse caso, os "abrigados" manteriam agendas individuais, mas ajudariam a inflar as bancadas, se eleitos.

    Outra hipótese considerada nas organizações é que os candidatos escolham um só partido e façam filiação em bloco, para se fortalecerem.

    Organizações como Brasil 21, Acredito e Frente pela Renovação estão em fase de definição –o Agora! não lançará candidatos, mas parte de seus membros disputará a eleição.

    Para Felipe Oriá, do Acredito, novatos podem aderir a legendas tradicionais de forma crítica, tentando provocar mudanças. "No nosso caso, a ideia é interagir com os partidos sem abrir mão de nossa agenda de igualdade social e economia moderna", diz o cofundador, que fala em não "demonizar" partidos.

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