• Seminários Folha

    Saturday, 27-Apr-2024 14:00:31 -03

    o futuro da amazônia

    Economista é vaiado ao falar que país desperdiça dinheiro com Zona Franca

    LEONARDO NEIVA
    ENVIADO ESPECIAL A MANAUS

    27/11/2017 21h45

    Os gastos do país com a manutenção da Zona Franca de Manaus provocou discussão entre especialistas e autoridades durante debate sobre os 50 anos da implantação daquele polo industrial.

    Roberto Castello Branco, economista e diretor da FGV Crescimento e Desenvolvimento, centro de estudos da Fundação Getúlio Vargas, foi vaiado pelo público ao afirmar que a ZF representou um desperdício de dinheiro para o país.

    Segundo ele, os custos sociais do polo industrial alocado em Manaus, que recebe incentivos fiscais do governo federal, são elevados e trazem benefícios questionáveis.

    "Em 2016, o custo da Zona Franca foi de 20% dos gastos com educação ou saúde, de 6,6 vezes os incentivos com inovação e pesquisa e de 2,2 vezes os gastos do governo com segurança pública", afirmou, citando dados do Ministério da Fazenda.

    Ao mesmo tempo, disse Castello Branco, a renda média dos habitantes da capital amazonense está entre as mais baixas do país, além de a região enfrentar problemas graves de saneamento básico e ter baixo rendimento per capita.

    Castello Branco criticou ainda o fato de o polo não exportar seus produtos e produzir apenas bens duráveis, sujeitos à volatilidade dos ciclos econômicos. "Cinquenta anos é tempo suficiente para avaliar os resultados de um projeto. O Brasil moderno não suporta mais que se tire recursos da sociedade para fazer gastos improdutivos."

    O economista defendeu uma retirada gradual dos incentivos dados à região ao longo dos próximos dez anos e sua substituição pelo investimento de recursos públicos e parcerias com a iniciativa privada.

    O prefeito de Manaus (PSDB-AM), Arthur Virgílio, o superintendente da Zona Franca de Manaus, Appio da Silva Tolentino, e o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, Nelson Azevedo, que também integravam a mesa, rebateram as afirmações.

    Virgílio disse que a visão do economista estava equivocada e recebeu aplausos ao afirmar que os recursos gerados pela Zona Franca foram os principais responsáveis pela manutenção de 98% da floresta nativa do Estado e que o polo industrial financia a vida dos amazonenses do interior do Estado.

    O prefeito, no entanto, admitiu a existência de defeitos que precisam ser corrigidos. "Devemos virar também um polo exportador de produtos, e para isso precisamos de um projeto nacional de inovação tecnológica e de formação de mão de obra. É necessário investir na telefonia celular, na infraestrutura de internet da região e em hidrovias, que barateariam o custo do transporte no Estado."

    O superintendente da Zona Franca, Appio da Silva, defendeu que o custo do projeto para o governo federal não é elevado, pois ajudaria a passar uma boa imagem do país para o exterior.

    Segundo Appio, os recursos gerados no polo são usados na manutenção de reservas indígenas, da biodiversidade, na limpeza de rios e na redução da desigualdade social na região. "Isso ocorre hoje graças ao modelo de crescimento econômico e desenvolvimento ambiental que é a Zona Franca de Manaus."

    Nelson Azevedo declarou que o economista da FGV demonstrou não conhecer a região e lamentou haver um formador de opinião com visão tão negativa e, segundo ele, incorreta sobre a Zona Franca.

    "Esse modelo da Zona Franca, por incrível que pareça, é nossa única fonte de riqueza. Sem ele nós não temos alternativa, infelizmente."

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024