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    Paulo Nazareth retoma os anos 1970 para fazer arte como exercício de liberdade

    FABIO CYPRIANO
    CRÍTICO DA FOLHA

    25/08/2013 02h30

    Jovens artistas brasileiros estão seduzidos demais pelo mercado de arte. Ainda em cursos universitários, eles buscam inserção em galerias comerciais com obras em formatos de fácil aceitação, longe da experimentação que se espera de quem está em início de carreira.

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    Paulo Nazareth é uma das exceções a essa regra. Em sua carreira breve e meteórica, diferenciou-se por retomar procedimentos do experimentalismo conceitual dos anos 1970, usando panfletos, como na série "Aqui é arte" (2005), ou realizando performances.

    No caso do panfleto distribuído gratuitamente "Aqui é arte", por exemplo, ele simplesmente reproduzia uma foto de um muro real com um buraco, o endereço de sua localização e o texto "onde você pode ver o mato crescer no período de chuva". Assim, com ações efêmeras e sem intenção diretamente comercial, Nazareth conquistou um espaço particular, que aborda até mesmo sua biografia.

    O artista, partindo de suas próprias características mestiças –é descendente de índios krenak, italianos e negros–, problematiza em algumas obras essa herança, como é o caso do projeto "Cara de Índio". Nesse trabalho, Nazareth busca fazer uma espécie de mapeamento de outros mestiços por todo o continente americano, usando seu rosto ao lado de outros semelhantes.

    Escapa dos formatos tradicionais do chamado cubo branco, o imaculado espaço expositivo de galerias, para usar "o mundo como museu", o que defendia Hélio Oiticica nos anos 1970.

    Assim, a poética de Nazareth pode não ser original, mas, em um circuito por demais comportado e pasteurizado, suas ações e imagens irônicas, como quando se apresenta com um cartaz escrito "My image of exotic man for sale" (minha imagem de homem exótico à venda), retomam uma estética um tanto ingênua, mas que reposiciona a arte como exercício da liberdade.

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