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    Premiada em Berlim, diretora Suzana Amaral torce o nariz para filmes femininos

    RAFAEL ANDERY
    DE SÃO PAULO

    25/01/2015 02h00

    Mãe de nove filhos, já na meia idade e desconhecida do grande público, Suzana Amaral virou uma espécie de mito entre as mulheres cineastas quando seu primeiro longa de ficção, "A Hora da Estrela", inspirado no livro homônimo de Clarice Lispector, ganhou três prêmios no Festival de Berlim de 1986 —incluindo o prêmio da crítica de melhor diretora para a estreante. Ela já passava dos 50 e a lenda da dona de casa rebelde e genial que se aventurava pelo cinema de arte se espalhou pelo Brasil.

    "As pessoas achavam que eu estava parada na minha cozinha, tive uma ideia do nada e fui fazer um filme", diz. "Dona de casa, até parece! Fazia dez anos que eu estudava cinema, trabalhei na TV Cultura por 18 anos. Ninguém vai fazer 'A Hora da Estrela' de sua cozinha. Até porque eu odeio cozinha, como todo dia fora de casa. Dessas coisas femininas, eu só tive uma porrada de filhos. E isso porque eu gostava de transar."

    Hoje, aos 82 anos, Suzana rechaça traços da própria feminilidade e torce o nariz para quem quer discutir o papel da mulher no cinema: "Isso é bobagem. A gente tem é que reivindicar dinheiro para ter o que fazer", reclama. "O marceneiro que não tem madeira não é marceneiro, não adianta. E o cineasta que não tem dinheiro não é cineasta. Ele pensa que é, mas não é."

    Depois do início promissor, Suzana dirigiu apenas outros dois longas, "Uma Vida em Segredo" (2001) e "Hotel Atlântico" (2009). "Eu queria ter feito mais filmes, nossa senhora! Tenho roteiros prontos, que podem ser feitos a qualquer hora, mas os produtores não querem esse tipo de filme, mais inspirado na literatura".

    E qual tipo de filme querem os produtores? "A menos que você faça 'Cidade de Deus' ou blockbusters, você só vê dinheiro por binóculos", diz. "Eu lia muito, tinha outros ideais, temas, pontos de vista. Eu queria fazer uma coisa melhor, um tipo de cinema pouco comercial."

    Mas não vá sugerir que seus temas são femininos. "Que besteira filme feminino!", grita. "Isso é 'bullshit'. Eu falo sobre problemas de comunicação. Por acaso, nos meus filmes, eles acontecem com mulheres. Mas, se qualquer outra história fizer 'plim' no meu coração, eu faço."

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