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    Tailandesa cria primeira agência exclusiva para modelos trans de NY

    POR ADRIANA KÜCHLER
    DE NOVA YORK

    25/10/2015 02h00

    Quando era moleque, na Tailândia, Peche Di pescava com a mão e estudava em colégio militar. Aos cinco, explorou os armários do pai e da mãe, só para ter certeza que era de saia mesmo que gostava. Na adolescência, participou de concursos de beleza. Com o prêmio de um deles, fez a cirurgia de mudança de sexo.

    Lá na Tailândia, é mais comum topar com mulheres transgênero que em outras partes do mundo. Trans brilham no cinema e na TV. Mas o suposto cenário perfeito tinha um problema. "A concorrência era grande. Achei que podia chamar mais atenção aqui." Aqui é Nova York, onde Peche, 26, chegou há cinco anos já levando a coroa de Miss Asia NY, um concurso só para modelos transgênero asiáticas.

    De lá pra cá, estudou cinema na New York University, teve aulas de atuação com a atriz Laverne Cox (de "Orange is the New Black") e, inspirada em modelos trans como a brasileira Lea T, conseguiu trabalhos na moda. Mas contrato com uma agência que é bom, nada. Sem tempo pra esperar a aceitação se difundir, decidiu criar em maio a Trans Models, primeira agência exclusiva para modelos trans de Nova York.

    Peche chega com um chapelão preto, daqueles que só gente da moda usa sem tropeçar, num café do Greenwich Village. A agência, vizinha dali, está em reforma e já conta 19 modelos, entre trans homens e mulheres.

    A ideia surgiu depois que Peche foi fotografada, com outras 16 pessoas que nasceram com gêneros diferentes daqueles que exibem hoje, para uma campanha da Barneys. O ensaio fez sucesso, mas os colegas de Peche não encontravam oportunidades.

    "Tem gente que acha que trans são divas, porque muitas vezes são instáveis, emotivos. Quase ninguém entende que as variações de humor podem ter a ver com a terapia hormonal ou com a preparação para mudança de sexo", diz Peche. "Quis criar um lugar onde elas fossem compreendidas."

    A tailandesa confessa que até ela se atrapalha pra escolher o pronome certo na hora de chamar seus agenciados.

    Peche desfila objetivos como quem enfileira modelos na passarela: vai produzir um documentário, um evento da série TED Talks e, num movimento que ela sabe ser polêmico, quer incluir crianças no casting -diz que muitos pais a procuram para falar sobre seus pequenos trans. Um sonho: colocar um modelo trans homem na capa de uma revista masculina. "Aí vou saber que cheguei lá."

    Ela espera estimular a compreensão do que é identidade de gênero e facilitar a vida das gerações futuras. "A ideia é chamar atenção pra diferença, até que a gente não precise mais chamar a atenção, até que escalar modelos trans se torne uma coisa normal."  

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