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    Grupo nova-iorquino tenta atrair jovens para o movimento naturista

    ADRIANA KÜCHLER
    DE NOVA YORK

    29/05/2016 02h00

    Na "Playboy" americana, as peladonas entraram em extinção. As desnudas da Times Square, garotas que, com os corpos seminus e pintados buscam trocados na praça, agora devem ficar restritas a uma área delimitada. Nos campos naturistas americanos, a frequência vem caindo -e a média de idade subindo. Se toda a nudez será castigada por aqui, como com tudo nos Estados Unidos, alguém há de abraçar a causa.

    E quem abraça, com vontade e sem roupa, é a Young Naturists America (Jovens Naturistas da América), organização nova-iorquina que promove o naturismo da nova geração e causas como a aceitação do próprio corpo. Felicity Jones e Jordan Blum, o casal de criadores, me recebem na casa deles muito vestidos. Faz frio naquela tarde de domingo no Queens.

    Adriana Komura
    Ilustração para a coluna I love NY, da Serafina 98, de junho/2016

    Membro da terceira geração de uma família de nudistas, Felicity (o casal usa pseudônimos) aprendeu desde cedo que corpos não respeitam padrões estéticos. "Crescendo entre naturistas, fui exposta a uma diversidade deles, percebi como o corpo envelhece. Ninguém repara nisso com o corpo coberto."

    Felicity se animou a fundar a YNA com Jordan em 2010 para trazer carne nova para a prática. Dos anos 90 pra cá, ficar pelado em público virou sinônimo de diversão de gente mais velha. A culpa, diz o casal, é dos próprios naturistas. "Os clubes se desconectaram da realidade. Os sites são horríveis, eles não têm presença online. Como é que um jovem interessado vai achá-los?", diz Felicity. "Os nudistas reclamam que o movimento está morrendo, mas eles são péssimos marqueteiros", diz Jordan.

    Pra dar um jeito na bagunça, os dois construíram um portal de informações. O site da YNA traz temas básicos (bê-á-bás para iniciantes em praias nudistas ou aulas de ioga peladas), questões atuais (aceitação de transgêneros em ambientes naturistas) e dúvidas embaraçosas (como lidar com uma ereção? Resposta: com uma toalha ou entrando na água até passar). A YNA tem cerca de 400 membros e 10 mil fãs no Facebook.

    Outra tática para angariar adeptos é a promoção de eventos, como o Body Painting Day, realizado em julho, em que voluntários desfilam corpos pintados no melhor estilo Globeleza perto da sede das Nações Unidas.

    Em Nova York, o topless é permitido por lei. E o nu total é liberado desde que em nome da arte. Quando participava de uma performance pelada em Wall Street que viraria peça no MoMA, em 2011, Felicity foi presa assim que tirou a camiseta. Processou a prefeitura e ganhou. Outros processos se seguiram e a prefeitura, cansada de perder dinheiro pros pelados, decidiu treinar a polícia, com orientações como: se você vir uma mulher de topless, não aborde, atravesse a rua, ela não está infringindo a lei.

    "Nós americanos somos conhecidos por sermos superpudicos, nossas raízes puritanas ainda estão bem vivas", diz Felicity. "As pessoas são criadas para terem vergonha dos seus corpos e passam isso pros filhos até que alguém fale: peraí, isso não faz sentido!" A YNA dá uma amenizada em todo esse puritanismo. No primeiro Body Painting Day, em 2014, rolou certa tensão com os policiais. No ano seguinte, o clima melhorou.

    "O chefe de polícia até nos ajudou", diz Jordan. "Sei que ele não gosta do que vê, mas está fazendo o trabalho dele: cem pessoas nuas, dançando, e eles lá protegendo."

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