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    Cadeirante supera preconceitos sem perder o bom humor

    CHICO FELITTI
    DE SÃO PAULO

    23/03/2018 02h00

    Um veículo passa a 20 km por hora na calçada da avenida São Luiz, centro de São Paulo. Atrás dele, há uma placa: "Para o seu preconceito eu dou as costas". É Eliete Pereira dos Santos, 62, dando uma das suas voltas diárias.

    A instrumentadora cirúrgica se aposentou quando, 17 anos atrás, perdeu o movimento das pernas por causa de uma cisticercose, parasita que pode afetar o cérebro, como aconteceu com ela. Naquela altura, a mulher que havia saído do interior da Bahia para São Paulo aos 20 anos, e foi babá por anos no Paraíso, trabalhava em hospitais e em clínicas de estética.

    "Mas estou mais ativa do que nunca", diz ela, dentro do seu conjugado na Bela Vista. Mora com a empregada Valéria, 51, que também veio da Bahia e é analfabeta. A cama da empregada fica na única sala, e a de Eliete, no único quarto.

    Marcus Leoni
    Cadeirante Eliete Pereira dos Santos. A Folha passou oito horas com oito mulheres para o especial de Dia das Mulheres.
    Cadeirante Eliete Pereira dos Santos. A Folha passou oito horas com oito mulheres para o especial de Dia das Mulheres.

    8h Eliete acorda. Assiste TV na cama por uma hora, enquanto manda mensagens de áudio do celular. "Conheço muita gente. Eu quase saí candidata a vereadora pelo PV. Mas desisti"

    9h Toma café da manhã na sala. Diz que ainda não superou completamente a perda do vira-lata Jack, que também ocupou o apartamento por 17 anos. "Não penso em pegar outro."

    10h30 Eliete sai para almoçar. Chega a rodar 20 km para ir almoçar em uma cantina dos Jardins. "A rua é um horror, mas isso não vai me impedir. Eu vou, com a cidade querendo ou não."

    11h Para no Estadão Lanches. Conversa com moradores de rua. Paga uma marmita para um deles. "A aposentadoria é pouca, mas ainda dá pra ajudar."

    12h30 Almoça, e toma um aperitivo, em um restaurante a quilo da rua 7 de Abril. "E aí, Eliete, vai querer o homus hoje?", pergunta o dono quando a vê chegando

    13h15 Sai para comprar empadas para a irmã, que vem visitá-la. Acelera em locais como a praça da Repúlica. "Você acredita que roubaram a cadeira de um amigo meu?"
    15h Compra maquiagem em uma galeria do centro, enquanto espera a chuva passar.

    16h Encontra com sua empregada, na padaria que fica no pé do prédio. Precisa de ajuda para entrar pela garagem, já que o prédio não é acessível.

    16h15 Estaciona a cadeira elétrica e a liga para carregar, na garagem. O veículo não tem seguro. "Ganhei do Antônio Ermírio de Moraes, que encontrei em um evento e ficou meu amigo"

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