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    A revolução foi, sim, tuitada, mostra estudo

    LUCIANA COELHO
    DE WASHINGTON

    21/09/2011 17h36

    Não era só impressão: uma análise quantitativa mostra que o Twitter e outras redes sociais foram o pivô das revoltas populares que derrubaram ditadores na Tunísia e no Egito no início do ano.

    A pesquisa do pITPI (Projeto sobre a Tecnologia da Informação e o Islã Político), da Universidade de Washington, analisou mais de 3 milhões de tuítes relacionados à Primavera Árabe.

    Ela conclui que, embora não tenham provocado a revolução em si, Twitter, Facebook, YouTube e blogs, nessa ordem, deram aos protestos velocidade suficiente para culminar na queda dos ditadores Zine Ben Ali, na Tunísia, em janeiro, e Hosni Mubarak, no Egito, em fevereiro.

    "A velocidade foi importante porque os ativistas puderam pegar os ditadores com a guarda baixa", disse à Folha Philip Howard, chefe do projeto e autor de "The Digital Origins of Dictatorship and Democracy" (2010).

    Segundo Howard, a maioria dos regimes autoritários não tem, ainda, "compreensão mais sofisticada das mídias sociais" --o que dá aos ativistas chance de compensar, até certo ponto, desvantagens numéricas e de poder. Mas ele evita, porém, usar expressões como "Revolução do Twitter" ou "Revolução do Facebook", pois os regimes usam as redes também para colher dados e arquitetar a contrainsurgência.

    Grandes protestos foram precedidos por picos de tuítes e diálogos on-line, mostra o estudo. Na Tunísia, onde 20% dos 10 milhões de habitantes usam redes sociais, 1 em cada 5 blogs analisava o governo no dia da renúncia; o quádruplo de um mês antes. Em um intervalo de dois meses, foram mais de 13 mil tuítes com a hashtag #sidibouzi, a principal da revolta.

    Já no Egito, 82 milhões de habitantes e 10% de acesso, foram mais de 2,3 milhões de tuítes com #egypt entre 14 de janeiro e 24 de março.

    Nos dois casos, o impacto foi ampliado por mensagens de celular --esses sim com penetração alta na população.

    O estudo ainda mostra que o debate se espalhou na região e no mundo rapidamente e incluiu mais mulheres que a política tradicional. Além disso, ele não foi alimentado por estrangeiros e expatriados. Com o correr dos dias, tuítes vindos dos dois países passaram, em média, de 18% para 36% (a maior parte não declara origem).

    Para Howard, o perfil demográfico dos dois países --população majoritariamente jovem, muitos deles urbanos e versados nas redes sociais-- selou o sucesso dos protestos. Jordânia e Marrocos, diz, têm perfil semelhante.

    A questão difícil, por ora, é se o debate acabará restrito a uma elite educada, jovem e urbana, em detrimento da massa rural, mais pobre. "Pode haver um sentimento pró-islamismo mais forte da população sem acesso à rede. Se liberais versados em tecnologia vierem a dominar o debate, será às custas dos islamistas conservadores."

    Editoria de Arte

    PRIMAVERA ÁRABE

    Tunísia e Egito foram os epicentros da Primavera Árabe e os únicos países onde as revoltas pacíficas de fato derrubaram ditaduras longevas. A raiz das revoluções está no cenário econômico ruim e na restrição às liberdades civis.

    Na Tunísia, o estopim foi a morte de Mohamed Bouazizi, em 4 de janeiro --ele protestara contra maus-tratos da polícia política.

    Fotos e ideias se espalharam de forma viral na rede e incitaram o Egito, onde a blogosfera é muito ativa. Em 25 de janeiro, o primeiro grande ato na praça Tahir, no Cairo, reuniria mais de 100 mil.

    Em 11 de fevereiro, cairia a ditadura de 30 anos de Hosni Mubarak. Ben Ali, na Tunísia, renunciara quatro semanas antes.

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