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    O saldo da CES: em breve estaremos ainda mais conectados e com menos privacidade

    DAN GILLMOR
    DO "GUARDIAN"

    10/01/2014 16h11

    As empresas de tecnologia promovem a internet das coisas, onde nós, nossas casas e carros estarão conectados, mas isso tem consequências. A feira anual CES (Consumer Electronics Show) é uma prévia parcial de um futuro não tão distante.

    Se o evento desse ano traz algum indicativo é de que em pouco tempo estaremos vivendo dentro do que a comunidade de tecnologia costuma chamar de internet das coisas onde não apenas os nossos 'gadgets' estarão conectados, como também nossas casas, carros e nós mesmos.

    A CES é uma celebração, na maioria das vezes merecidamente, da imaginação e ingenuidade humana. Talvez alguém devesse lançar um evento concorrente para focar nas formas não tão positivas em que todos esses dispositivos podem ser usados. Poderia se chamar, talvez, Show das Consequências Não Intencionais (nem tão sem intenção).

    Dada a mentalidade da multidão da CES que invade Las Vegas todos os meses de janeiro, entretanto, o evento pode não atrair muita atenção. A tecnologia avança e se desenvolve, não importando como nós nos sentimos sobre isso, e a internet das coisas é, em algum nível, inevitável. Cada vez mais, tudo que tocamos diariamente tem alguma forma de inteligência incorporada através de microprocessadores.

    As coisas têm memória. E crescentemente, estão conectadas através de redes digitais. Nossos carros estão se tornando redes de computadores sobre rodas, cada vez mais confiáveis e seguros. Termostatos e televisões em nossas casas estão mais inteligentes e úteis.

    Os seres humanos estão vestindo e implantando dispositivos que nos medem e nos melhoram, ajudando a nos manter mais saudáveis e produtivos. E isso é apenas o começo, caso os sonhos corporativos e de startups se tornem realidade.

    Ao mesmo tempo, no entanto, nossos carros também estão nos observando e enviando relatórios para fábricas, montadoras, seguradoras e quem sabe mais sobre como e onde nós dirigimos. Nossas TVs estão nos assistindo, chegando perto do pesadelo da visão de Orwell sobre o Big Brother. Dispositivos que carregamos e vestimos estão oferecendo uma série vasta de informações sobre como vivemos para companhias e governos.

    Eu mantive a sintonia com a CES de longe este ano, aproveitando a volumosa cobertura da mídia (quase sempre rasa) e evitando as horrendas linhas de táxi e os inflacionados custos de hotéis que afligem Las Vegas durante todas as grandes conferências.

    O contato remoto não é a mesma coisa que ver as coisas e as pessoas ao vivo, mas é um dos melhores usos para a tecnologia que eu já encontrei. Uma das tendências mais notáveis atualmente é o impulso para a tecnologia vestível, enfatizada pelo executivo-chefe da Intel, Brian Kzranich, durante sua apresentação. O que ele chama de amplo ecossistema de vestíveis pode ter no Google Glass o exemplo mais elogiado, ainda que distante no horizonte.

    Nesse e em outros aspectos da internet das coisas, irá emergir uma enorme riqueza para fabricantes, mas ainda mais, muito provavelmente, para os exércitos de programadores que estarão escrevendo os softwares que fazem tudo funcionar, tanto de forma individual quanto em redes com outros pessoas.

    A indústria de tecnologia é, pelo menos, ciente de que há um problema de percepção, no mínimo, em seu esforço para incorporar chips e comunicações nas pessoas e nas coisas que as cercam. De acordo com vários relatos, os participantes da CES são incomodados em voz alta sobre a regulação dessas novas ferramentas e tecnologias.

    Pelo menos um regulador, Maureen Ohlhausen da Comissão Federal de Comércio, deixou claro que ao mesmo tempo em ninguém quis impedir desnecessariamente o progresso, não existe também qualquer preocupação séria sobre privacidade, segurança e outras questões.

    A melhor maneira de antecipar a regulação, é claro, é se comportar de maneira que não induza isso. A indústria de tecnologia e alguns de seus maiores clientes, notavelmente grandes empresas e governos, têm demonstrado uma atitude casual, na melhor das hipóteses, em direção à segurança e à privacidade dos usuários finais, pessoas como eu e você, e em alguns casos, as suas políticas e/ou modelos de negócios têm negado a nossa privacidade.

    A recente notícia de que o SnapChat estava revelando nomes e números de telefone e o acanhamento do fundador da empresa, que não pareceu se importar, é o exemplo mais recente da atitude ocasional da indústria nesta arena.

    Os especialistas dirão que a verdadeira segurança pode ser inserida nos próprios produtos. Ela precisa ser trabalhada e constantemente melhorada numa 'corrida armamentista' em curso com hackers mal intencionados (criminosos e governamentais).

    Muitas vezes, esta é uma reflexão tardia e os maus argumentos ganham. Entre os aspectos mais problemáticos da internet das coisas (incluindo nossos corpos) está o de quem possui os dispositivos e os dados que criam os dispositivos. As empresas geralmente vendem aparelhos que podem ser alterados remotamente, e eles insistem que eles, não nós, possuímos os dados que nós criamos e utilizamos. Se nós não virarmos o jogo, e logo, os escândalos de privacidade corporativa e segurança que temos visto até agora parecerão suaves. Será que a indústria irá ouvir ou irá apenas seguir alegremente?

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