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    Por que eu uso o Snapchat: é rápido, feio e efêmero

    NICK BILTON
    DO "NEW YORK TIMES"

    28/01/2014 16h12

    "Pergunta: você usa Snapchat?", me questionou um amigo em uma mensagem de texto na semana passada. "Não consigo achar ninguém que use".

    Enquanto eu comecei a digitar para responder que eu, na verdade, uso o serviço que faz suas mensagens desaparecerem depois de serem vistas por 10 segundos, esse amigo mandou outra mensagem. "Bom, mentira, minha crianças usam o tempo todo".

    Como adulto, você deve ter dificuldades para achar um ser ser humano que realmente use Snapchat, e, se achar, deverá ficar confuso se perguntando para que a pessoa o usa.

    Nós vivemos em um mundo em que há literalmente milhares de formas de falar com as pessoas por meio dos nossos smartphones. Mensagens de texto, mensagens diretas no Twitter e aplicativos de chat em grupo como Whatsapp, GroupMe, Line, WeChat, Tango e Kik. Se preferir se comunicar com fotos –que é a especialiadade do Snapchat– tem o Facebook Messenger e o Instagram. E se você é um masoquista, pode até usar email.

    Um internauta experiente pode olhar para as pessoas que usam Snapchat da mesma maneira que julgaria alguém que escolhe beber uma garrafa de sidra Cereser em uma mesa cheia de vinhos tintos franceses dos anos 60.

    Então por que o Snapchat?

    Uma resposta simples e óbvia é que o Snapchat é intencionalmente efêmero. As fotos são vistas por de 1 a 10 segundos e então desaparecem como um truque de mágica. (Mas não totalmente. Elas sobrevivem no servidor do Snapchat).

    Mas não é só isso. Esse recurso é ótimo, mas outras pessoas oferecem aplicativos concorrentes com possibilidades parecidas.

    O Snapchat pode muito mais do que fazer imagens desaparecerem.

    Se você relembrar a mensagem do meu amigo, pode ver a resposta mais importante. "Minhas crianças usam o tempo todo". As duas palavras-chave aqui são "crianças" e "tempo".

    Crianças são incrivelmente impacientes –especialmente as crianças de um tempo em que baixar uma música, assistir a um vídeo ou pesquisar alguma coisa é tão rápido quando um toque na tela do smartphone. E é nisso que o Snapchat é tão bom.

    Quando você abre o app, a câmera do celular já está ligada. Então você já entra direto na tela de mandar mensagens e pode tirar uma foto e um vídeo em segundos. Você escolhe para quem vai mandá-las depois disso.

    Outros aplicativos sociais exigem que você aperte outros botões antes de tirar uma foto ou digitar algumas palavras. No Twitter, por exemplo, você abre o app, vai para o canto superior esquerdo para apertar o botão Mensagens Diretas, e pressiona o botão da câmera, tudo para chegar ao ponto em que o Snapchat já começa. A maioria dos outros apps, incluindo Facebook e Instagram, exigem um processo igualmente trabalhoso.

    Apertar uns botões a mais pode parecer trivial, mas, se você for um adolescente, essas três ações extras são mais do que insuportáveis.

    Decidir para quem você vai mandar as mensagens no Snapchat também é vapt-vupt. Você não digita o nome das pessoas, simplesmente as seleciona em uma lista e aperta "Enviar". O aplicativo até adivinha quem são seus BFFs (melhores amigos para sempre, em inglês, para os leitores adultos) e os põe no topo da sua lista de contatos. Uma etapa a menos; um segundo economizado.

    Isso tudo, claro, deve te deixar com a pergunta de por que eu, um adulto, uso o Snapchat.

    Em parte, é por que eu sei que as imagens podem ser jogadas fora, o que nos leva a outro aspecto importante do Snapchat. O aplicativo e o serviço são muito, muito feios. A interface e o design parecem um cruzamento de um desenho animado estranho do Japão e uma comédia dos anos 80. O resultado é que eu sinto que as imagens que eu mando podem ser feias também.

    A feiura dá para a pessoa que usa o app a sensação de que qualquer coisa que fizer pode ser jogada fora.

    Em comparação, quando estou enviando uma mensagem em outro app, há uma sensação de perenidade que me faz checar cada palavra, cada ponto, cada "a" e cada filtro antes de enviar. Tudo porque eu sei que a imagem pode durar mais de 10 segundos. Eu chamo isso de ansiedade do perene.

    E quando você pode jogar as coisas fora, pode se divertir mais, que é o que crianças gostam de fazer. E alguns adultos também. Isso ainda desperta a ideia de algo ser pessoal: para algumas pessoas, não para todos.

    Mesmo que eu não tire "selfies" no Twitter, Instagram, Facebook ou Google Plus, tiro no Snapchat. Minhas mensagens podem ser atrapalhadas e descompromissadas, sem a cautela que tenho em outros serviços. E, mais importante, posso fazer isso muito, muito rápido.

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