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    Um Bill Gates diferente volta à Microsoft

    NICK WINGFIELD
    DO "NEW YORK TIMES", EM SEATTLE

    10/02/2014 02h30

    Lucas Jackson - 24.set.13/Reuters
    Gates durante a Clinton Global Initiative 2013, em Nova York
    Gates durante a Clinton Global Initiative 2013, em Nova York

    No último papel ativo que Bill Gates desempenhou na Microsoft, o de vice-presidente de arquitetura de software, ele viu a companhia fracassar em seus esforços iniciais para desempenhar papel importante nas buscas, nos smartphones e nos tablets.

    Nos seis anos transcorridos desde então, ele assistiu ao setor de tecnologia mudando, sem sua participação.

    A era do computador pessoal, que a Microsoft dominou com tanta competência durante e depois dos dias áureos de Gates como presidente-executivo, estava começando a desaparecer. O foco havia mudado para a mídia social e os aparelhos móveis, que dependem em larga medida da computação em nuvem.

    E quais são as tecnologias sobre as quais Gates, que tem se dedicado à filantropia, falou com mais entusiasmo nos anos de mudança? Coisas como vasos sanitários autônomos e vacinas.

    "Eu ando um pouco obcecado com fertilizantes", diz a primeira frase de uma coluna que ele escreveu para uma edição recente da revista de tecnologia "Wired".

    Ainda assim, na terça-feira passada a Microsoft anunciou que ele estava voltando à companhia como consultor de produtos e tecnologia para Satya Nadella, o novo presidente-executivo da empresa. E isso provocou perguntas óbvias sobre a utilidade que Gates, 58, pode ter para a Microsoft quanto a uma nova geração de tecnologias.

    Ao menos uma coisa está clara: ainda que Gates tenha dedicado a maior parte de seu tempo nos últimos anos à sua fundação de caridade, que promove esforços de erradicação da poliomielite e de redução da fome, ele não perdeu a paixão pela tecnologia.

    De quatro a seis vezes por ano, diz uma pessoa próxima a ele, Gates recebe briefings sobre tecnologia dos executivos da Microsoft, em seu escritório particular em Kirkland, Washington, não muito longe da sede da empresa.

    Esses "dias de demonstração" geralmente duram de quatro horas a metade do dia, e servem para mostrar a ele produtos da Microsoft e dos concorrentes.

    As sessões de demonstração são um acréscimo aos briefings regulares que Gates vem recebendo sobre a tecnologia da Microsoft desde que começou a dedicar toda a sua energia à filantropia. Essas sessões de informação, mais curtas, são realizadas por equipes de produto e pesquisadores da Microsoft, a quem ele faz perguntas sobre suas escolhas tecnológicas.
    Gates também se manteve próximo de executivos de capital para empreendimentos e está a par das tendências de investimento em empresas iniciantes do ramo de tecnologia.

    Kevin P. Casey - 3.out.12/The New York Times
    Satya Nadella, o novo diretor, na sede da Microsoft em Redmond, Washington
    Satya Nadella, o novo diretor, na sede da Microsoft em Redmond, Washington

    Ainda assim, é difícil dizer se o pensamento de Gates sobre a missão da Microsoft mudou, com seu relativo distanciamento. Durante o período dele como presidente-executivo, boa parte das ações da empresa eram motivadas pelo impulso soberano de proteger o Windows, o sistema operacional para computadores que era a base de seus maiores lucros.

    A companhia passou anos envolvida em disputas judiciais, em processos antitruste relacionados aos seus esforços de usar o Windows para esmagar produtos concorrentes.

    Dentro da companhia, a forte proteção ao Windows ocasionalmente prejudicou o desenvolvimento de novas tecnologias, e também enfraqueceu a influência da Microsoft junto aos criadores externos de software, que transferiram seus esforços a outros aparelhos e formas de programação.

    CHANCES PERDIDAS

    Após 2000, quando Steve Ballmer assumiu a presidência executiva e Gates se tornou presidente do conselho e vice-presidente de arquitetura de software, a companhia perdeu mais oportunidades.

    Não foi capaz de avaliar cedo o suficiente os grandes investimentos requeridos para produzir um serviço de buscas competitivo com o do Google, e desconsiderou a grande virada nos smartphones que o primeiro iPhone causou.

    Um dos últimos grandes produtos para o qual Gates trabalhou de perto, o Windows Vista, foi reprovado pelos críticos devido aos seus problemas técnicos iniciais.

    Não está claro se Gates e Nadella estarão preparados para desagrilhoar a Microsoft de seu passado no Windows.

    Uma possibilidade seria promover mais agressivamente o desenvolvimento de versões móveis do software Office da companhia, sem favorecer o Windows. A Microsoft já anunciou que está desenvolvendo uma versão do Office para o iPad.

    Na descrição oferecida pela Microsoft, Gates estará envolvido em qualquer reconsideração de estratégia empreendida na gestão de Nadella. E é isso, dizem alguns antigos funcionários da Microsoft, o que ele faz melhor.

    "Ao contrário de todo o mundo que conheço, Bill tem a capacidade de avaliar rapidamente uma paisagem extremamente complexa, que incluirá muito mais que as características dos produtos", escreveu Gary Flake, antigo pesquisador da Microsoft.

    E Flake diz que as extensas viagens mundiais de Gates nos últimos seis anos –e o distanciamento que ele ganhou da empresa– podem ajudá-lo a conferir novas perspectivas à Microsoft.
    "Espero que a perspectiva fechada que ele talvez tivesse antes de deixar o trabalho em tempo integral para a companhia tenha sido substituída por uma nova apreciação sobre a maneira pela qual outras pessoas veem o mundo, e sobre o que é realmente importante para elas."

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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