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    Bug interrompeu primeiro jantar de sábado de cofundador do WhatsApp como bilionário

    ROBERTO DIAS
    ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

    26/02/2014 03h00

    No sábado passado, Jan Koum foi comer no Tickets, bar de tapas do chef Ferran Adrià em Barcelona. Mas seu primeiro jantar de final de semana após fechar o bilionário contrato com o Facebook acabou interrompido prematuramente pelo maior bug da história do WhatsApp, que deixou o app fora do ar e instável algumas horas.

    "Fui embora de volta para o hotel, abri meu laptop e comecei a trabalhar. O que eu fiz? Digitei comandos", disse Koum à Folha. "Trabalhei algumas horas, até os servidores voltarem. Mas não só eu. Todo mundo, meu cofundador, todos os engenheiros."

    Nem foi, aliás, o primeiro jantar interrompido que Koum presenciou na série de dias nada ortodoxa que vem vivendo.

    A conversa definitiva com Zuckeberg aconteceu em 14 de fevereiro —Dia dos Namorados nos EUA. Quando chegou à casa do dono do Facebook, descobriu que ele estava oferecendo morangos cobertos com chocolate à sua mulher, Priscilla Chan.

    Reprodução
    Jan Koum, cofundador do WhatsApp, assina contrato de venda para o Facebook
    Jan Koum, cofundador do WhatsApp, assina contrato de venda para o Facebook

    "Eles [os morangos] estavam bons mesmo", reconhece. "Mas na verdade eu me senti mal [por interrompê-los]". Anteontem, aniversário tanto de Koum quanto de Chan, ele tentou limpar a barra com a mulher do novo parceiro de negócios, que também estava em Barcelona. Ofereceu flores e bolo, para ser "especialmente simpático".

    Depois que Koum e Zuckerberg acertaram o preço em meio aos morangos e anunciaram a novidade ao mercado, faltava assinar os papéis.

    Mas ele começou a temer que os advogados não conseguissem terminar os contratos até o dia D, quarta passada. O problema é ele havia comprado a passagem para Barcelona para quinta —e tinha usado milhas.

    No blog de aviação Flyertalk, descreveu assim a situação: "Quando o risco de atraso ficou real, eu disse: 'eu tenho bilhete que comprei com milhagens e eles não são facilmente trocáveis. Isso tem que ser feito na quarta'" (ontem, confirmou à Folha ser mesmo o autor do post).

    Depois que os papéis ficaram prontos, nova surpresa. Dez minutos antes da assinatura, Koum foi chamado por Jim Goetz, investor do Sequoia — –fundo que, segundo a agência Bloomberg, investiu US$ 8 milhões no WhatsApp em 2011 e faturou US$ 3,5 bilhões com a venda.

    Goetz lhe disse para irem para o carro. Levou-o até o prédio do North County Social Services. Era ali que, após se mudar para os EUA, em 1992, Koum pegava tíquetes do programa de alimentação do governo.

    "Eu me senti um pouco acabrunhado", explicou ontem o inventor do WhatsApp. "Um negócio tão grande que assinamos...mas no fim eu gostei [de ter assinado os papéis ali], foi um momento muito marcante."

    Koum nasceu na Ucrânia, quando ela ainda fazia parte da União Soviética. Seu pai supervisionava obras de engenharia, sua mãe era dona de casa.

    Muito do que faz hoje é narrado pela ótica da vivência soviética. Sua casa tinha telefone, mas seus pais sentiam medo de serem espionados — viria daí sua preocupação com privacidade. O aparelho era franqueado aos vizinhos, episódio lembrado por ele anteontem ao anunciar o serviço de voz no WhatsApp.

    Emigrou para a Califórnia, apenas com a mãe, por causa da instabilidade política soviética e do ambiente antissemita, segundo relato da revista "Forbes". Na mudança, com medo de não ter dinheiro para o material escolar, ela levou uma série de cadernos soviéticos.

    Passou a estudar computação e começou a trabalhar no Yahoo!, assim como seu principal sócio, Brian Acton. Foi lá que ambos cristalizaram a aversão por negócios calcados em publicidade — era o período em que o Google destronava a empresa em que estavam.

    Em 2007, Koum deixou o Yahoo! e viajou pela Argentina (no Brasil nunca esteve). Passou um bom tempo vivendo dos US$ 400 mil que havia acumulado no emprego. Até que, em janeiro de 2009, comprou um iPhone e resolveu criar um aplicativo. No mês seguinte, registrou o WhatsApp, que lhe transformaria em bilionário e em pop star, como se viu nos últimos dias em Barcelona ("Eu nem penso nisso", desconversou quando questionado sobre seus dois novos papéis).

    Até agora, tentou segurar um estilo low profile, tanto pessoalmente como para a empresa. "Se eu posso ter tempo livre, sem trabalhar, já está suficientemente bom para mim", explica. Mas, como pergunta o próprio Koum: "O que é tempo livre?"

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