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    Caótico, jogo colaborativo de 'Pokémon' imita convívio em sociedade

    ANDERSON LEONARDO
    DE SÃO PAULO

    10/03/2014 03h30

    Quando milhares de pessoas se unem para concluir um mesmo jogo de videogame, de forma simultânea, elas não só saem vitoriosas. Com um quase milagre, elas passam a partilhar de uma mesma cultura ao redor do que fazem.

    É isso que aconteceu em Twitch Plays Pokémon (TPP), um "experimento social" –como definiu seu criador– que reuniu, em fevereiro, um grupo de internautas em busca de zerar uma mesma campanha de "Pokémon Red", lançado em 1996 para Game Boy.

    TPP consistia de uma cópia digital de "Pokémon Red" emulada num PC e transmitida 24 horas por dia pelo Twitch, site de compartilhamento de vídeos de games. Um software específico era capaz de reconhecer comandos (como "left", para esquerda, e "right", para direita) publicados no bate-papo do site e executá-los no jogo.

    A ideia foi de um programador australiano, que preferiu não revelar sua identidade. "Estou contente em saber que criei algo significante. Não preciso do meu nome anexado a isso", afirmou ele por e-mail à Folha.

    Quando deu início à transmissão, no dia 12 de fevereiro, ele esperava no máximo 300 espectadores on-line ao mesmo tempo, disse. Mas em poucas horas o contador de visualizações alcançou os milhares. "Foi surpreendente ver a transmissão ganhar tanta popularidade de maneira tão rápida."

    Em 19 de fevereiro, a transmissão chegou a ultrapassar a marca de 120 mil espectadores simultâneos. "Pokémon Red", então, se tornou o jogo mais popular do Twitch, desbancando até "League of Legends", que costuma ser o campeão de audiência.

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    Com tanta gente apertando tantos botões, é possível imaginar a desordem que reinou durante aproximadamente 16 dias, tempo que levou para o jogo ser concluído. A confusão, no entanto, foi justamente o que deu origem a acontecimentos únicos do tal experimento.

    Por exemplo, um fóssil chamado Helix, que é tradicionalmente obtido no início do game, se tornou uma espécie de deus para a comunidade na web. Isso porque os jogadores, descoordenados, acabavam quase sempre fazendo com que ele fosse selecionado em horas erradas. No entendimento de quem jogava, o Helix parecia guiá-los.

    De uma certa maneira, TPP refletiu outras características do convívio em sociedade.

    Da metade do game até sua conclusão, por exemplo, os jogadores se dividiram entre dois modos de controle (anarquia e democracia), votando sem parar na implantação de um a fim de derrubar o outro.

    Na anarquia, o modo padrão, os comandos eram executados na ordem em que eram publicados no bate-papo. Já na democracia, o jogo realizava o comando mais popular num intervalo de 20 segundos.

    Embora facilitasse a jogabilidade em partes mais complicadas do game –como, por exemplo, um labirinto–, esse último sistema deixava tudo mais lento. Não tardou para que a democracia fosse reprimida pela maioria, sendo ativada em pouquíssimos momentos.

    SEGUNDA GERAÇÃO

    O sucesso de TPP levou o criador a iniciar uma nova campanha em 2 de março, dessa vez com o game "Pokémon Crystal", lançado em 2000.

    O australiano pretende continuar apostando em experiências de interação automatizada. "Esse diálogo com a audiência é uma vantagem-chave que está sendo pouco utilizada", diz.

    A segunda geração, no entanto, não tem feito tanto sucesso quanto a primeira. Apesar de permanecer entre os jogos mais populares do Twitch, com uma média de 25 mil visualizações simultâneas, esse número tem caído gradativamente.

    "As pessoas devem estar menos interessadas, ou elas encontraram uma outra transmissão mais atraente", opina.

    COLABOROU CAMILA MARQUES

    Editoria de Arte/Folhapress

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