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    EUA dizem que espionagem é 'desculpa' para derrubar internet multissetorial; Rússia rebate

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    23/04/2014 14h50

    O chefe da delegação americana na NETMundial, Michael Daniel, coordenador de Segurança Cibernética da Casa Branca, saudou a adoção do principio multissetorial (multistakeholder) pelo evento organizado pelo Brasil.

    Mas questionou "alguns que gostariam de usar as recentes revelações sobre nossos programas de vigilância de sinais como desculpa para derrubar a abordagem multissetorial, em favor de um sistema estatal, dominado por governos".

    Imediatamente antes de Daniel, com posição contrária, haviam falado no evento os representantes da Arábia Saudita e da Rússia, em defesa da determinação de um papel para o Estado no documento final da NetMundial.

    O ministro russo de Comunicações, Nikolai Nikiforov, questionou diretamente a Icann, órgão de governança da internet hoje ainda vinculado ao governo americano e que, tornado independente, serviria de base para um sistema multissetorial.

    Daniel, em posição também sustentada pelo ministro sueco do exterior, Carl Bildt, defendeu que a governança continue multissetorial para seguir estimulando a "inovação" na internet.

    O representante americano observou, por outro lado: "Não se deve duvidar de que tomamos seriamente as preocupações levantadas como resultado das revelações não-autorizadas [de Edward Snowden]. E continuamos a adotar reformas significativas em conexão com nossas atividades de inteligência".

    Mais à tarde, em outro debate e dirigindo-se publicamente à direção da NETMundial, um integrante da comissão russa foi mais duro.

    "Na minha visão, estamos lidando com um dos documentos mais sem transparência que já vi na vida. Porque não é claro como comentários são levados em conta ou não levados em conta. E correções sérias ao texto não serão permitidas. Infelizmente, meu país teve duas contribuições que não foram levadas em conta e não serão. Não está claro que tipo de mandato tem a comissão de alto nível [que define o que entra no documento]. Temos que lembrar de Edward Snowden e da transparência [que ele representa e inspirou a NetMundial]", disse.

    Ao comentar a posição da Rússia, Zahid Jamil, membro do comitê executivo da Icann, disse que as intervenções do país não foram levadas em conta no documento base porque acabaram sendo feitas fora de hora. "Se levássemos os comentários russos [que chegaram fora de hora] em conta, eles teriam um tratamento diferente em relação a outros atrasados", disse.

    Procurados pela Folha, os representantes russos disseram que iriam se reunir para decidir sua estratégia e não se pronunciariam oficialmente.

    "Nós consideramos todas as propostas que vieram em fevereiro, da França, dos Estados Unidos, da Alemanha, da China, do Google, do Facebook, da Microsoft", disse o presidente da NETMundial, Virgílio Almeida, à Folha.

    ENCONTRO

    O NETMundial, que ocorre hoje e amanhã em São Paulo com participação de mais de 80 países, tem representantes da sociedade civil, academia, governos e do setor privado para pensar, entre outras coisas, como estabelecer um controle mais global -leia-se menos concentrado nos EUA- da rede mundial.

    Foi idealizada pelo governo brasileiro e pela Icann em resposta às denúncias de que os EUA teriam usado a rede para espionar autoridades e empresas do mundo todo, inclusive Dilma e a Petrobras.

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