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    Campus do Google para start-ups em Londres já abrigou talentos de 97 países

    BRUNO FÁVERO
    ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

    21/07/2014 14h55

    Quem entra no Google Campus, uma antigo prédio de sete andares na região leste de Londres, encontra exatamente o que se espera de um prédio de uma empresa que se tornou famosa por, entre outros motivos, ter escritórios "cool".

    Na entrada, dois atendentes jovens e sorridentes recepcionam os visitantes de trás de um balcão branco decorado com peças de Lego gigantes. Passando por eles, há uma estante –feita de caixas de madeira, daquelas que se encontra na feira– exibindo uma miríade de invenções tecnológicas concebidas no Reino Unido.

    "Queremos que as pessoas vejam isso [a estante] e pensem: um dia, alguma coisa que eu fizer pode estar aqui", disse a diretora do Campus, Sarah Drinkwater.

    Às 9h da última quarta-feira (16), quando a Folha visitou o prédio a convite do Google, o local já estava movimentado, principalmente por jovens entre 20 e 30 anos vestidos informalmente e falando inglês com diferentes sotaques, como é característico de Londres e da indústria de tecnologia.

    De acordo com uma pesquisa encomendada pelo Google em março à consultoria Populus, 30 mil pessoas de 97 nacionalidades diferentes já se registraram no Campus. A maioria é homem (80%) e vem do Reino Unido (47%), seguido por Itália (5%), Estados Unidos (4%), Espanha (4%), França (3%) e Índia (3%).

    No subsolo, funciona um espaço com café, mesas e internet banda larga, que pode ser acessada de graça por qualquer um que se cadastrar. Nos demais andares, estão também outras empresas, dedicadas a assistir start-ups –e, claro, ganhar dinheiro com isso– como a Techhub, que aluga mesas de trabalho, e a Seedcamp, que financia ideias promissoras em troca de uma parte das ações das futuras companhias.

    Em 2013, segundo a mesma pesquisa, mais de 260 startups registradas no local conseguiram um total de 20 milhões de libras (cerca de R$ 76 milhões) em financiamento.

    Além disso, o Campus sedia eventos e palestras, alguns deles gratuitos, para aconselhar novos empresários em assuntos como legislação, plano de negócios, monetização, etc. Entre outros nomes, Jimmy Wales, fundador da Wikipédia, e Erick Schimidt, ex-presidente do Google, já falaram em dos dos auditórios.

    A ideia do espaço, fundado em abril de 2012, é criar na cidade o que o israelense Eze Vidra, idealizador do campus, chama de "densidade de rede", ou seja, concentrar vários talentos da tecnologia no mesmo lugar. Em quase toda entrevista que dá, Vidra aponta esse aspecto como maior responsável pelo sucesso de grandes polos de tecnologia.

    O projeto casou com uma das ambições do primeiro-ministro inglês David Cameron e do prefeito Boris Johnson: transformar Londres no Vale do Silício europeu. Ou melhor, na "Rotatória do Silício", como é chamado, não sem alguma ironia, o coração da região entre os bairros de Shoreditch e Old Street, que concentra as iniciativas de tecnologia da cidade –entre elas, o empreendimento do Google.

    "Quando decidi abrir uma empresa, podia ter ido para Nova York, onde tenho vários amigos e circula muito dinheiro", disse a anglo-americana Lucy Stonehill, 26, fundadora da BridgeU, uma startup registrada no Campus que usa algoritmo para ajudar estudantes internacionais a decidirem para quais instituições de ensino devem se candidatar.

    "Lá nos Estados Unidos, me sentiria mais um peixe em um cardume enorme. Aqui, posso ajudar a moldar o futuro da indústria de tecnologia", disse.

    "GENTRIFICAÇÃO"

    Quando lançou a "Tech City", iniciativa para estimular o crescimento na região da Rotatória do Silício, David Cameron identificou uma tendência conhecida há anos pelos moradores de Londres. Um bairro degradado até o fim dos anos 90, Shoreditch atraía cada vez mais artistas, universitários e pequenos empreendedores dispostos a aproveitar os alugueis baratos e grandes espaços vazios do lugar.

    O investimento do governo levou a um crescimento explosivo no número de empresas de tecnologia no bairro –76% entre 2009 e 2012, segundo dados do governo britânico–, mas também alavancou a especulação imobiliária.

    Segundo o Google, um dos motivos para sediar o Campus na região foi voltar a oferecer espaços com preços acessíveis para jovens empresários.

    A região, que se acostumou a ser reduto hipster, virou "mainstream" e hoje sofre com a gentrificação. De acordo com o jornal britânico "The Independent", o preço do aluguel na região triplicou nos últimos 3 anos.

    Em artigo publicado em janeiro no jornal "The Telegraph" o empresário Alex Proud, ligado a indústria de cultura do bairro de Camden –"concorrente" de Shoreditch pelo posto de bairro descolado de Londres–, criticou o processo por que passou o leste da cidade.

    "Você encontra uma vizinhança desconhecida, idealmente um pouco degradada. Os primeiros hipsters se mudam para lá e fazem com que a região vire tendência no Twitter. Um ano depois, a grande mídia descobre o lugar e, por um ano, ele vira sinônimo de 'cool' na cidade. Logo, o preço dos imóveis dispara, expulsando os moradores originais, os banqueiros se mudam para lá, e uma [agência imobiliária] Foxtons é aberta".

    O número de start-ups em Shoreditch e Old Street continua crescendo em ritmo intenso, foram mais de 15 mil fundadas em 2013, mas, pela primeira vez desde que virou polo tecnológico, o crescimento teve uma ligeira queda em relação ao ano anterior.

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