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    Garotas desenvolvem game sobre menstruação para 'acabar com tabu'

    ANDERSON LEONARDO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    17/09/2014 02h15

    Duas estudantes do ensino médio de Nova York criaram um game para tentar acabar com o tabu que envolve a menstruação.

    "Tampon Run" é um jogo de tiro em 2D que substitui armas de fogo por pacotes de absorventes. Segundo as criadoras Andrea Gonzales e Sophie Houser, o game é uma "forma acessível" de discutir o tema.

    Numa corrida infinita, a protagonista precisa atirar tampões nos meninos que vêm em sua direção para sobreviver. Se os garotos a alcançam, ela perde seus absorventes e, então, o jogo.

    "[Nós garotas] temos a sensação de que não podemos conversar sobre menstruação, ou de que devemos nos envergonhar dela", disse Houser à Folha por e-mail. "Acho que tem a ver com o fato de que, de acordo com algumas tradições, a mulher é vista como suja quando menstrua."

    Reprodução
    Jogo criado por garotas questiona o tabu que envolve a menstruação
    Jogo criado por garotas questiona o tabu que envolve a menstruação

    De fato, algumas culturas e religiões consideram as mulheres impuras durante o período da perda de sangue. O Velho Testamento da Bíblia, por exemplo, diz até que elas poderiam "contaminar" outras coisas ou pessoas.

    Além disso, um estudo internacional realizado em 2011 pela SCA (Companhia Sueca de Celulose, na sigla sueca) revelou que 56% das mulheres se sentem desconfortáveis em situações sociais quando estão menstruando.

    "Embora o conceito [do 'Tampon Run'] possa ser estranho, é ainda mais esquisito que nossa sociedade tenha aceitado e normatizado armas e violência nos videogames", afirmam as garotas no início do jogo.

    Para elas, existe um paradoxo: enquanto o sangue resultante da violência nos filmes e nos games é "totalmente aceitável", o de algo tão natural quanto a menstruação não o é.

    DESIGUALDADE

    Houser e Gonzales se conheceram em julho num curso da Girls Who Code, organização sem fins lucrativos voltada a ensinar programação para meninas e acabar com a desigualdade de gênero na área de tecnologia.

    Neste ano, grandes nomes da indústria como Apple, Google, Facebook e Yahoo! divulgaram dados internos de diversidade. Em todos os quatro casos, o sexo feminino não representava nem metade dos funcionários em todo o mundo –homens brancos eram (e ainda são) a maioria.

    "Programação é divertido, criativo e empodera. Com ela, você pode alcançar e transformar milhares de pessoas", diz Houser. A amiga complementa: "Toda garota que tenha pelo menos um pouco de interesse em programação ou ciência da computação deve tentar entrar na área."

    Elas ainda não pensam em outros projetos: querem melhorar o "Tampon Run" e lançar uma versão para dispositivos móveis primeiro.

    O curso da Girls Who Code representou o primeiro contato de Houser com programação. Gonzales, por outro lado, já conhecia os fundamentos.

    Ela conta que era obcecada pelas personagens "tecnológicas" dos vários livros que lia quando criança: "Elas podiam hackear o 'mainframe' dos computadores, basicamente facilitando o sucesso do protagonista".

    "Eu queria ser como elas. (Risos.) Ainda quero."

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