• Tec

    Thursday, 02-May-2024 08:40:34 -03

    Mudança no WhatsApp irrita usuários, mas não deve ser revertida

    BRUNO ROMANI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    11/11/2014 02h00

    O Facebook fez de novo: sem alarde, promoveu uma mudança em um de seus serviços e conseguiu deixar uma legião de usuários irritados.

    A fonte do barulho é o WhatsApp, o popular app de mensagens comprado por Mark Zuckerberg em fevereiro por US$ 22 bilhões.

    Na quinta (5), o serviço implementou um "recurso" que avisa quando os contatos leem as mensagens. Ao lado de cada uma, aparecem duas setas azuis. Foi o suficiente para causar uma onda de descontentamento.

    E o potencial para causar desconforto é gigante. São 600 milhões de usuários do WhatsApp, segundo a empresa –até fevereiro, eram 38 milhões de brasileiros. Segundo a empresa de capital de risco Andreessen Horowitz, o app serve 7,2 trilhões de mensagens ao ano, quase o número global de mensagens SMS, que é de 7,5 trilhões.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Muitos não querem ser descobertos ao ler as mensagens. Sentem-se cobrados a responder. De certa forma, seria uma invasão de privacidade por parte do WhatsApp.

    "Não gostei, pois assim não posso mais usar desculpas", queixou-se o gaúcho Mathias Wiedemann.

    Outros dizem que sentirão mais ansiedade por ver que um contato leu e não respondeu imediatamente.

    "Odiei. Mais motivo pra quem sofre de ansiedade cortar os pulsos", tuitou Leticia Caxias, 19, de Manaus.

    "Para as pessoas que já se sentem mal consigo mesmas, o recurso do WhatsApp acelera o processo de autodepreciação", diz Cristiano Nabuco, coordenador do grupo de dependência tecnológica do Hospital de Clínicas (SP).

    A onda de descontentes tomou as redes sociais. O assunto ficou entre os mais comentados do Twitter por quase dois dias ininterruptamente.

    "Esse negócio do lido' do WhatsApp vai f... meu humor!", dizia uma outra usuária do Twitter.

    Para Andréa Jotta, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP, os usuários ainda precisam entender como usar a ferramenta. "O WhatsApp é um app de mensagem, não um rastreador. Falta educação no uso das tecnologias digitais. Consequentemente, falta respeito e sobram controle do outro e insegurança."

    "Independentemente dos risquinhos azuis, é preciso que cada um assuma as demandas tecnológicas. Se você não souber dosar, se torna um escravo, criando uma ansiedade digital", diz Nabuco.

    TENDÊNCIA

    Para frustração dos descontentes, o recurso não podia ser desativado até a sexta-feira (14), quando o WhatsApp lançou uma nova versão para Android que inclui a opção (de não ler nem enviar alertas de lido). Donos de iPhone podem driblá-lo, ao acionar o modo avião.

    Procurado, o WhatsApp não se manifestou.

    Mas é pouco provável que o serviço mude sua posição. Embora seja operado de maneira independente do Facebook, o WhatsApp seguiu o caminho trilhado pela rede social há dois anos.

    Em 2012, o Facebook implementou o recurso para identificar mensagens lidas no seu serviço de chat, o que causou gritaria. Hoje, é comum encontrar na web formas de driblar o dedo-duro, como extensões para o navegador.

    Facebook e WhatsApp, porém, não são os únicos a dedurar os usuários. Mensageiros indiscretos são quase uma norma na indústria. Tudo começou com o BBM, da BlackBerry. Hoje o recurso é encontrado nos principais serviços, como Snapchat e Telegram.

    Apenas dois permitem desativar o monitoramento: o Viber e o iMessage, que é restrito a usuários de iPhone.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024