O Uber mais que dobrou suas reservas de caixa e seu valor de mercado, em seis meses, a despeito dos "problemas de crescimento significativos" admitidos pelo líder do serviço de carros.

Os investidores optaram por não se preocupar com as recentes controvérsias sobre o tratamento de concorrentes e da privacidade de seus usuários pelo Uber, e conferiram à companhia uma imensa avaliação de mercado de US$ 40 bilhões, na conclusão de uma rodada de capitalização de US$ 1,2 bilhão na quinta-feira (4).

O número não só torna o Uber uma das companhias de capital fechado mais valiosas do planeta como excede a capitalização de mercado de diversas companhias de transporte de capital aberto, entre as quais Delta Air Lines, American Airlines e United Continental, e é diversas vezes mais alto que o valor de mercado de locadoras tradicionais de automóveis como a Hertz e Avis.

A avaliação da Uber também supera a capitalização de mercado do Twitter e LinkedIn, e está se aproximando dos US$ 48 bilhões do Yahoo, o que demonstra a tendência das empresas do Vale do Silício a levantar mais dinheiro como companhias de capital fechado, a fim de evitar o escrutínio público associado a uma abertura de capital em bolsa.

A mais recente rodada de capitalização da companhia se segue ao US$ 1,2 bilhão que ela levantou em junho, quando foi avaliada em US$ 17 bilhões, e deixa as portas abertas a centenas de milhões de dólares adicionais em investimento "estratégico".

	Chris Ratcliffe - 30.mai.14/Bloomberg
	O aplicativo Uber, acessado pelo iPhone

Em post de blog confirmando a nova rodada de venda de ações, que o "Financial Times" revelou inicialmente no mês passado, Travis Kalanick, presidente-executivo do Uber, expôs uma visão que envolvia a criação de um milhão de empregos no ano que vem como resultado do serviço de carros compartilhados da companhia, o que substituiria a propriedade de automóveis e reduziria congestionamentos.

Mas ele também reconheceu os recentes distúrbios envolvendo a empresa, entre os quais a sugestão por um executivo de que ela lançasse uma campanha de difamação contra repórteres que a criticam, e uma carta do senador Al Franken contestando a maneira pela qual o Uber administra os dados sobre os percursos de seus usuários.

"Acabamos de concluir uma rodada de capitalização de US$ 1,2 bilhão, e com capacidade adicional para investimentos estratégicos", escreveu Kalanick, especificando que a região Ásia-Pacífico seria o foco para o emprego desse capital.

A mais recente injeção de capital da Uber surge dias depois que o SoftBank, do Japão, investiu US$ 250 milhões na GrabTaxi, rival malásia da companhia. O SoftBank também liderou um investimento de US$ 210 milhões na Ola, a principal rival do Uber na Índia.

Nas últimas semanas, a empresa vem enfrentando ameaças de ação judicial em áreas tão dispersas quanto Nevada, Toronto, Índia e Vietnã, a despeito de uma promessa de Kalanick de que o Uber adotaria tom mais sensível.

A empresa sediada em San Francisco já recebeu mais de US$ 2,6 bilhões em capital desde agosto do ano passado, e nesse meio tempo sua avaliação disparou de US$ 3,5 bilhões para US$ 40 bilhões. A despeito de repetidos choques com autoridades regulatórias em todo o mundo, ela agora opera em mais de 250 cidades em 50 países.

"Essa espécie de crescimento vem acompanhada por significativos problemas", afirmou Kalanick em seu post na quinta-feira, em aparente referência aos ferimentos autoinfligidos sofridos pela empresa recentemente. "Os acontecimentos das últimas semanas nos demonstraram que também precisamos investir em crescimento e mudança internos. Reconhecer erros e aprender com eles são os primeiros passos".

O Uber contratou o escritório de advocacia Hogan Lovells para conduzir uma auditoria interna de suas políticas e práticas, e anunciou que responderia ao senador Franken este mês. Se realizadas corretamente, as mudanças propostas como resultado da auditoria podem fazer do Uber uma companhia "mais inteligente e mais humilde", disse Kalanick.

Um porta-voz confirmou a avaliação de US$ 40 bilhões mas se recusou a revelar as identidades dos investidores envolvidos na nova rodada de capitalização. Os investidores atuais do Uber incluem o Google Ventures, BlackRock, TPG, Benchmark e Goldman Sachs, que também estão trabalhando em uma rodada separada de capitalização por meio de emissão de títulos de dívida junto a clientes privados.

Tradução de PAULO MIGLIACCI