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    'Banda larga brasileira é equiparável à dos EUA', diz pioneiro da internet

    YURI GONZAGA
    DE SÃO PAULO

    03/02/2015 02h00

    Conhecido como o pai do DSL, tecnologia que deu origem aos padrões usados na internet de banda larga atual, o professor da Universidade Stanford John Cioffi vê no mercado brasileiro uma concorrência mais saudável –e benéfica para o consumidor– que nos EUA, onde "paga-se muito por um serviço muito pobre", nas palavras dele.

    O acadêmico e engenheiro eletricista, que é fundador da Assia, uma empresa que gerencia conexões à internet no mundo todo –inclusive cerca de 10 milhões no Brasil, segundo Cioffi– por meio de clientes corporativos, vem a São Paulo para palestrar durante a Campus Party.

    Em entrevista por telefone à Folha, o engenheiro eletricista falou sobre a sobrecarga da rede por serviços como Netflix, neutralidade de rede e iniciativas para "conectar o mundo". Leia os melhores trechos da conversa abaixo.

    Divulgação
    John Cioffi, professor da Universidade Stanford e conhecido como "pai do DSL", um dos protocolos que deu origem as conexões de banda larga usadas atualmente
    John Cioffi, professor da Universidade Stanford e conhecido como "pai do DSL", um dos protocolos que deu origem as conexões de banda larga usadas atualmente

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    O ESTADO DA INTERNET

    Muitas vezes começo uma aula ou palestra perguntando quantos dos presentes tiveram algum problema com sua conexão na última semana, e praticamente todos levantam a mão. O que vejo, junto com minha empresa, é que problemas acontecem em frequência inaceitável.

    Em altas velocidades, acima de 10 Mbps, praticamente metade dos consumidores sofre com alguma interrupção ou oscilação em frequência que não se pode aceitar. E a maior parte se resigna.

    SOLUÇÕES

    Muitas vezes não se sabe onde está o mau funcionamento. Pode ser no roteador do consumidor, na rede ou no serviço. Você não consegue achar só um culpado –as pessoas ficariam surpresas com o número de vezes em que a questão está, na verdade, no acesso [no wi-fi, por exemplo], e não no servidor.

    Criei um aplicativo, o Cloudcheck [para Android e para iPhone ] que ajuda o consumidor a ter uma conexão mais rápida e encontrar o gargalo.

    VELOCIDADE

    Sempre há um movimento para conseguir preços mais baixos [um estudo da Akamai sobre a internet global mostrou uma redução da velocidade média em países desenvolvidos], mas a busca por qualidade na conexão não se restringe à velocidade: tem mais a ver com a estabilidade. Isso deve mudar conforme a demanda por vídeo aumenta.

    Esses usuários, satisfeitos com sua internet, podem ter filhos ou começar a desejar conteúdo em 4K [resolução ultra-alta] e, com isso, trocar por uma conexão mais veloz.

    INFRAESTRUTURA

    Muitas vezes, as operadoras fazem investimentos de maneira errada, com conexões que compartilham cabos e causam congestionamento nos horários de pico.

    Posso contratar um plano de altíssima velocidade que só funciona bem quando não há outras pessoas usando. Não é o que eu quero. Quero assistir meu vídeo 4K entre as 19h e as 23h, o horário de pico, e estar dormindo às 3h, quando minha conexão funciona bem. E o consumidor tem seu papel em exigir isso.

    BRASIL

    A concorrência é melhor no Brasil que nos EUA no serviço de banda larga fixa, sim. No serviço de celular, é parecido, mas no cabeado só temos basicamente duas opções e temos de pagar US$ 150 [cerca de R$ 400] em média por um serviço pobre. O Brasil vem dando importantes passos rumo a tornar-se um país desenvolvido no quesito internet nos últimos anos.

    NEUTRALIDADE

    Os provedores de serviço que demandam muito da rede, como o Netflix, deveriam ser responsáveis, sim, pelo custeio da infraestrutura. Não me posiciono sobre a neutralidade de rede, porque esse é um assunto político, mas as pessoas se esquecem ao debater o tema de que não há uma autoridade que policia a operação do serviço, se o consumidor está sendo tratado conforme as regras. Isso sim que deveríamos discutir.

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