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    Aparelhos conectados à rede ainda dependem muito dos smartphones

    STEVE LOHR
    DO "NEW YORK TIMES"

    28/04/2015 10h23

    Dustin Bond, de Cottonwood Heights, Utah, reduziu sua conta de eletricidade em cerca de 40% no verão passado graças a sensores e ao software inteligente de um termostato digital.

    Seu termostato Nest monitora a temperatura interna e externa da casa e as idas e vindas da família –e envia informações a um app de smartphone. A história de Bond parece servir como prova do brilhante futuro energético que novos aparelhos da era da Internet tornarão possível na chamada "casa inteligente".

    Mas sua experiência também aponta para o impacto incerto que a transformação digital de equipamentos caseiros básicos, como o termostato e as lâmpadas, terá sobre o consumo de energia. Bond diz ter comprado o aparelho da Nest basicamente pela aparência –um círculo de aço inoxidável, polímero reluzente e uma tela colorida. Mas ainda assim ele se divertiu acompanhando o consumo de energia em sua casa via smartphone, determinando padrões e fazendo ajustes.

    "Para mim não é muito importante economizar alguns dólares na conta de eletricidade", diz Bond. "Mas gosto da maneira pela qual o sistema funciona."

    A promessa de economia de energia das casas inteligentes enfrenta desafios econômicos e de adoção. O aparelho, pioneiro entre os termostatos conectados à Internet, foi introduzido em 2011 e serve como exemplo.

    Kim Raff/The New York Times
    Smartphone usado para controlar o termostato Nest
    Smartphone usado para controlar o termostato Nest

    Pesquisas independentes conduzidas em centenas de residências, e em milhares de outras casas usadas como grupo de controle, constataram economia significativa de energia –de 7% a 17%, em média, para o aquecimento a gás e o ar condicionado elétrico. Mas como porcentagem do consumo total de gás e eletricidade da casa, a redução ficou entre 2% e 8%.

    Uma economia apreciável, talvez, mas não suficiente para convencer todo mundo a agir. E há o custo de conversão. Os termostatos convencionais custam muito menos que o Nest, cujo preço é de US$ 249.

    ECONOMIA COLETIVA

    Mas o benefício maior da nova tecnologia domiciliar pode vir longe da casa, porque o aparelho contribuirá para criar um ecossistema de eficiência energética. Se somarmos muitos domicílios tomando medidas que propiciem economia de energia ao mesmo tempo, o pico de carga das empresas distribuidoras se reduz, o que requer menos geração de eletricidade. A usina de energia mais limpa e mais barata que se pode ter é aquele que não será construída.

    "Se você puder alterar a carga durante algumas horas em um dia de verão, isso faz muita diferença para a companhia de energia", diz Jonathan Koomey, pesquisador do Centro Stefer-Taylor de Financiamento e Política da Energia, na Universidade Stanford. "É daí que virá a grande economia."

    As empresas de energia dos Estados Unidos reconhecem o potencial. Muitas delas começam a oferecer programas de recompensa para as casas que usem termostatos inteligentes para reduzir o uso de energia nos horários de pico, e ocasionalmente descontos retroativos para a compara de termostatos conectados à Internet produzidos por Nest, Honeywell, Ecobee e outras.

    Os produtos para a casa inteligente vão bem além dos direcionados à eficiência energética. Eles incluem câmeras de segurança, sistemas de segurança com sensores de movimento, trancas de portas, abridores de garagens, persianas automatizadas, alto-falantes estéreo e balanças de banheiro.

    IMPORTÂNCIA DO CELULAR

    O que define o setor de produtos para a casa inteligente, além de serem digitais e domésticos, é que tipicamente eles podem ser monitorados remotamente e controlados por meio de smartphones e tablets. E o acesso via Internet abre as portas para ameaças à segurança e privacidade, como acontece no caso de qualquer app para smartphone ou rede wi-fi caseira.

    O setor emergente de produtos para a casa inteligente é, em larga medida, um subproduto da tecnologia, da economia e da cultura de consumo associadas aos smartphones.

    Um aparelho bacana instalado em casa é só mais uma coisa que pode ser ativada pela tela que a pessoa tem nas mãos. "As pessoas estão experimentando a casa conectada como extensão do smartphone", disse Frank Gillett, analista da Forrester Research.

    Na rede Home Depot, Joe Zuniga, gerente distrital que supervisiona oito lojas na região de Washington, concorda sobre a importância do smartphone. Mas a experiência do lar conectado, diz ele, é determinada pelo valor do aparelho caseiro ligado a um app no celular.

    A Home Depot começou a vender o termostato Nest em 2011 e agora tem 700 produtos para a casa inteligente à venda em suas lojas e site.

    A administração do consumo de energia, ele diz, é um dos três motivos principais para que as pessoas comprem produtos desse segmento; elas também adquirem produtos de segurança e produtos de conforto e conveniência.

    Quando os compradores procuram termostatos e lâmpadas, ele diz, "a economia de energia pode ser grande motivo". Mas acrescenta que "é preciso educar o público, mostrar o que podemos de fato fazer".

    O NEGÓCIO

    Independentemente da motivação –baixar a temperatura, preocupação com o ambiente ou economizar gastos–, os produtos para casas inteligentes vêm registrando rápida ascensão. De acordo com o grupo de pesquisa Parks Associated, 10 milhões de termostatos, tomadas, extensões e lâmpadas inteligentes foram vendidos no ano passado, com valor total de US$ 850 milhões. Em 2017, prevê a Parks, esse mercado deve dobrar para 19 milhões de itens e um valor de US$ 1,6 bilhão.

    Grandes empresas estão abocanhando as start-ups mais promissoras. O Google adquiriu a Nest por US$ 3,2 bilhões no ano passado. Em seguida, a Nest, já como subsidiária do Google, adquiriu a fabricante de câmeras de vigilância Dropcam por US$ 555 milhões, para ampliar a sua linha de termostatos e detectores de fumaça. "A casa conectada se desenvolverá um produto de cada vez", disse Maxime Veron, diretor de marketing de hardware da Nest.

    A Samsung, fabricante de bens eletrônicos de consumo, pagou US$ 200 milhões pela SmartThings, uma das diversas start-ups que produzem hubs e softwares que permitem que usuários controlem diversos aparelhos caseiros com um mesmo app.

    E a Apple lançou tecnologia que une o software de apps de automatização residencial, em um ambiente de programação para desenvolvedores chamado HomeKit.

    ILUMINAÇÃO

    Velhas empresas também estão reformulando seus produtos em busca de maior eficiência energética e conectividade. A Philips e a General Electric, por exemplo, introduziram versões conectadas de suas lâmpadas de alta economia produzidas com LED. O preço das lâmpadas de LED caiu acentuadamente nos últimos anos, com o avanço da eficiência industrial e da escala de produção.

    No final do ano passado, a GE lançou sua lâmpada GE Link por US$ 15. A lâmpada de LED emprega 80% menos energia do que uma lâmpada incandescente e dura mais de 20 anos, em uso normal. Também pode ser controlada por meio de um app em um smartphone.

    A economia de energia e custos que uma lâmpada LED propicia em longo prazo parece esmagador, mas a adoção ainda não ganhou impulso. Com a lâmpada GE Link, a empresa está acrescentando outro ingrediente à eficiência energética.

    "É a conveniência e a possibilidade de usá-las com o smartphone que criam um argumento convincente", disse Tom Boyle, vice-presidente de inovação da divisão de iluminação da GE.

    As lâmpadas da GE se conectam a um app criado pela Wink, uma das produtoras de hubs e softwares para comunicação com diferentes aparelhos. A Wink foi criada como parte da Quirky, uma start-up dedicada à comercialização de invenções na qual a GE tem participação acionária.

    As empresas de integração como a Wink, SmartThings (da Samsung), Revolv e iControl enfrentam o formidável desafio de tentar simplificar a complexidade dos produtos e dos padrões de comunicações, para a casa automatizada. Elas servem como o equivalente de um sistema operacional para a casa inteligente.

    A Wink, a despeito de problemas iniciais, vem crescendo firmemente desde seu lançamento em julho. Está a caminho do milhão de usuários, controlando 3,2 milhões de aparelhos, até o final deste ano, de acordo com Brett Worthington, o gerente geral da companhia.

    A tecnologia para a casa inteligente, ele disse, "ainda é muito difícil de instalar e usar".

    O potencial de economia de energia das casas inteligentes também continua a ser um trabalho em progresso.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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