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    Vetadas do Facebook, crianças ganham redes sociais que são vigiadas

    YURI GONZAGA
    DE SÃO PAULO

    11/05/2015 02h04

    Um playground virtual: povoado só por crianças, que conversam e jogam sob observação dos adultos. Essa é a tônica da rede social Grom, que ganhou uma versão brasileira na semana passada e tem pretensão de atrair pais que desejam atender aos apelos dos filhos para criar contas em redes sociais, sem arriscar a segurança deles.

    "Há um monte de crianças aqui que querem ter acesso a mídias sociais, mas seus pais não deixam", disse à Folha Zach Marks, 14, que teve a ideia de fundar o site aos 11 anos, depois de negativas de seus pais para criar um perfil no Facebook (cuja idade mínima permitida é 13).

    A rede conta com 400 mil perfis verificados, e Zach veio ao Brasil para lançar o site em português. O Brasil é o primeiro a ganhar versão própria do Grom Social. Esse interesse se justifica pelo tamanho do mercado –a empresa está se preparando para abrir capital na Bolsa em julho.

    Samuel Costa/Folhapress
    Zach Marks, 14, fundador da rede social para crianças Grom Social
    Zach Marks, 14, fundador da rede social para crianças Grom Social

    Zach diz continuar sendo o responsável pela parte criativa do serviço. A administração ficou com o pai, Darren.

    Só pode usar o serviço quem tem entre 5 e 16 anos, com a autorização de um adulto, que tem que ligar para a empresa, nos EUA, ou fazer o pagamento on-line de US$ 1 no cartão de crédito.

    A empresa diz monitorar tudo o que é postado para evitar conteúdo considerado impróprio, como endereço residencial ou outra informação privada e mensagens de bullying. Palavrões são bloqueados automaticamente.

    A ideia é semelhante à do site Kidzworld, que não tem versão em português. Restrito a usuários entre 8 e 16 anos, também é moderado por funcionários. "Permitimos uma experiência on-line sem que haja preocupação com bullying ou conteúdo inadequado", diz Deanna Beaudoin, gerente de comunicação e negócios do Kidzworld.

    Para Fernando Luz, um dos responsáveis pela campanha Não Desvie O Olhar contra pornografia infantil, e assessor jurídico do Sesi, o Facebook é um lugar arriscado, mas espaços virtuais controlados também.

    "Recebemos denúncias com casos de jogos para primeira infância usados para criminosos se aproximarem das crianças, construir uma relação de confiança e conseguir mais informações", diz.

    Por isso, Luz diz acreditar que a melhor forma de evitar problemas é instruir a criança. "O grande caminho é 'empoderar' a criança, para que ela mesma fique alerta."

    A antropóloga Mizuko Ito, da Universidade da Califórnia em Irvine, não vê sentido nas redes sociais controladas.

    Para ela, é importante que crianças interajam com pessoas de diferentes idades. Também acha valoroso que os pequenos "tenham espaço para se comunicar livre da vigilância de adultos".

    VAI EMPLACAR?

    O primeiro desafio dessas redes para crianças é justamente atraí-las. Muitas se inscrevem nas já consagradas, como Facebook, Twitter e Instagram, não liberadas a menores de 13 anos, mentindo a idade no cadastro.

    Para o radialista e sonoplasta Rafael Bueno, 35, que permite que seu filho de oito anos use redes sociais, um serviço restrito a crianças poderia ser bem-sucedido –se tivesse sido lançado há dez anos. Foi quando surgiu o Facebook, que, com seu 1,4 bilhão de usuários, acaba atraindo também crianças.

    Bueno apenas impõe restrições ao uso do site, como não conversar com quem o filho não conhece e não mencionar dados pessoais.

    Segundo pesquisa do NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR), a maioria (58%) das crianças de nove e dez anos que usam a internet acessa redes sociais no Brasil. A fatia aumenta para 75% na faixa entre 11 e 12.

    O estudo foi feito pela web com 2.261 jovens de 9 a 17 anos entre setembro de 2013 e janeiro do ano passado.

    Outra pesquisa aponta para um índice de 86% de uso de redes sociais pelos internautas de 9 a 14 anos no Brasil, ante uma média global de 61%. O estudo é da Viacom, com 6.200 entrevistas em 32 países, divulgada em 2014.

    GRANDE MERCADO

    As grandes companhias estão de olho nesse mercado. Em fevereiro, o YouTube lançou aplicativo de vídeos para crianças.

    O próprio Facebook, segundo o jornal "The Wall Street Journal", cogitou criar acesso com restrições a menores de 13. E, de olho em pais que lançam perfil até de recém-nascidos, lançou em março o Scrapbook, álbum que funciona como perfil reduzido e que permite a marcação de bebê nas fotos.

    Reprodução
    KidzWorld (à esq., acima), Grom Social (à esq., abaixo) e Kuddle (à dir.)
    KidzWorld (à esq., acima), Grom Social (à esq., abaixo) e Kuddle (à dir.)

    DENTE DE LEITE
    Conheça redes sociais voltadas para crianças

    KIDZWORLD
    Como é O site lembra versões antigas do Facebook. Textos, imagens e vídeos são feitos por profissionais. O que é compartilhado pelos usuários é monitorado. Em inglês
    Faixa etária 8 a 16 anos
    Usuários 3 milhões

    GROM SOCIAL
    Como é Transforma a criança em um "avatar" virtual que fala com outros. Zach, o fundador, também está no site em forma de desenho e em vídeos. Palavrões não são permitidos
    Faixa etária 5 a 16 anos
    Usuários 400 mil verificados

    KUDDLE
    Como é espécie de Instagram infantil, mostra mensagens educativas entre as imagens coloridas compartilhadas pelos contatos na rede. Há moderação de conteúdo
    Faixa etária sem restrição
    Usuários estimativa de 1 milhão

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