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    Criticado, projeto do Facebook será lançado no Brasil com operadoras

    YURI GONZAGA
    DE SÃO PAULO

    12/05/2015 03h45

    O Internet.org, programa de inclusão do Facebook, será lançado em parceria com todas as operadoras no Brasil para permitir acesso gratuito no celular a serviços considerados essenciais, disse em entrevista o executivo responsável pela iniciativa.

    A ideia é que os usuários das provedoras parceiras possam acessar grátis a Wikipédia, sites de órgãos do governo e educativos, além da própria rede social. Tal mecanismo vai contra a chamada neutralidade da rede e que, por isso, recebeu críticas de entidades no país e boicote de algumas empresas na Índia.

    "Estamos em conversas com as operadoras para o lançamento assim que elas estiverem prontas para isso", afirmou à Folha por telefone Chris Daniels, diretor do Internet.org no Facebook. "Falamos com todas as operadoras no mercado, e queremos que esteja disponível por meio de todas elas."

    Daniels não deu prazo para o lançamento, nem detalhou como funcionaria. Procuradas, Oi, Tim e Vivo preferiram não comentar o caso. A Claro afirmou que o projeto está "em análise".

    O Facebook também tem um projeto de alfabetização digital no bairro de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, onde criou um laboratório de informática e onde instalará wi-fi gratuito para os moradores.

    O executivo disse que a instalação dessa rede de alta velocidade está programada para ser terminada no verão do hemisfério norte (entre junho e setembro).

    Daniels mencionou a possibilidade de levar wi-fi para outros lugares no Brasil. "Dados móveis são caros, e queremos empoderar as pessoas com informações de trabalho, saúde, educação etc", disse. "No futuro, poderíamos lançar em outras áreas, áreas onde não há conectividade ainda."

    O wi-fi é uma rede sem fio, assim como a de telefonia celular, mas de baixo alcance e geralmente de velocidade mais alta. Sua instalação em áreas amplas costuma ser mais cara que redes 2G ou 3G por demandar maior número de antenas.

    Reprodução/YouTube/LeWeb
    Chris Daniels, vice-presidente do Internet.org no Facebook, durante o evento LeWeb'13, em Paris
    Chris Daniels, vice-presidente do Internet.org no Facebook, durante o evento LeWeb'13, em Paris

    O projeto foi implementado em dez países: Bangladesh, Colômbia, Filipinas, Gana, Guatemala, Índia, Indonésia, Quênia, Tanzânia e Zâmbia.

    Há pouco mais de um mês, a presidente Dilma Rousseff anunciou uma parceria ao lado de Mark Zuckerberg, fundador da rede social, para outra vertente do Internet.org, a de conectividade para áreas remotas.

    Para levar internet a populações isoladas, como as que vivem na Amazônia, a empresa está testando o uso de drones (aeronaves não tripuladas) e outras tecnologias.

    O projeto Loon, que é do Google, tem ambição semelhante, mas emprega balões. Está em testes no Brasil.

    Segundo cálculos do Facebook, só 10% da população mundial vivem em regiões não atendidas por uma rede 2G. Mais de metade (55%) vive com a possibilidade de se conectar à tecnologia 3G, de terceira geração, mais rápida e estável. O padrão mais recente comercialmente disponível é o 4G, mais veloz.

    Na segunda da semana passada (4), a empresa anunciou a abertura do Internet.org a desenvolvedores que possam criar serviços baseados no sistema, em teoria com apelo social e que se beneficiariam da gratuidade do tráfego de dados.

    Daniels afirma que o Facebook não paga às operadoras a troca de dados gerada pelos usuários do Internet.org, mas que as teles acabam ganhando mais clientes ao que estes se interessam em pagar por um plano de "internet ampla".

    "Não pagar as operadoras alinha a motivação de todos os envolvidos e prova que isso funciona", diz. Segundo Daniels, o Facebook criou 8 milhões de novos assinantes para as operadoras nos países onde atua seu projeto de inclusão. O total de beneficiados pelo projeto é de 800 milhões até agora, diz a empresa.

    NEUTRALIDADE

    Sobre o embate com a Proteste e outras entidades que entregaram uma carta a Dilma pelo fim da parceria do governo com o Facebook, Daniels afirmou que as regras da neutralidade de rede deveriam ser flexibilizadas.

    "Somos apoiadores da neutralidade, mas ela tem de coexistir com iniciativas que conectam as pessoas", disse. "Precisamos chegar a um acordo, com todos, de que mais usuários de internet beneficiam o país. A neutralidade pode coexistir com projetos de inclusão."

    No dia 15 de abril, a start-up indiana Cleartrip seguiu os passos de outras três empresas originalmente participantes do Internet.org no país asiático e rompeu com a iniciativa após uma ampla repercussão negativa.

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