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    Em retorno ao Twitter, Jack Dorsey quer seguir caminho de Steve Jobs

    STEVEN DAVIDOFF SOLOMON
    DO "NEW YORK TIMES"

    22/06/2015 02h00

    Stephen Lam /Reuters
    Jack Dorsey, fundador do Twitter, fala durante evento em São Francisco
    Jack Dorsey, fundador do Twitter, fala durante evento em São Francisco

    Talvez devamos culpar Steve Jobs pelo retorno de Jack Dorsey à presidência executiva interina do Twitter.

    Jobs estabeleceu o precedente. Derrubado pelo conselho, ele deixou a Apple e era encarado como uma espécie de fracasso, depois de uma brutal disputa com John Sculley. Mas Jobs foi levado de volta ao posto depois que Sculley (presidente-executivo entre 1987 e 1993) e Gil Amelio (1996-1997) fracassaram miseravelmente.

    Quando Jobs voltou, o momento era sombrio para a Apple. A empresa havia sido forçada a formar parceria com a arquirrival Microsoft e a aceitar um investimento de US$ 150 milhões da companhia então comandada por Bill Gates.

    Jobs foi reconduzido ao posto para salvar a empresa. E fez isso, e muito mais, comandando a reviravolta do milênio.

    A lenda de Steve Jobs persiste no Vale do Silício. Uma das muitas formas que ela toma encoraja os fundadores de companhias a retornar em triunfo para "salvar" suas marcas.

    Pensar no legado de Jobs não era difícil depois dos acontecimentos no Twitter nos últimos dias. Dick Costolo, o presidente-executivo da empresa, anunciou sua saída de surpresa, mas não muito inesperadamente. O Twitter vinha sendo encarado com suspeita pelos investidores por não elevar com rapidez suficiente seu número de usuários.

    Costolo, que detém centenas de milhões de dólares em ações da empresa, já havia dado a entender que pretendia deixar o posto no final do ano, de qualquer jeito. Mas os planos mudaram e, na quinta-feira, Costolo anunciou que sua renúncia se efetivaria em 1º de julho.

    Ele será substituído por Dorsey, 38, um dos fundadores do Twitter. Nos últimos anos, Dorsey vem ganhando respeito depois de ajudar a criar a companhia de pagamentos online Square, da qual atualmente é presidente-executivo.

    Dorsey não foi indicado como presidente-executivo permanente do Twitter; em lugar disso, assumirá o cargo como interino até que o conselho da empresa possa selecionar um novo líder. Mas é preciso lembrar que Jobs retornou à Apple como presidente interino, também, e só retomou o posto em caráter formal três anos mais tarde, em 2000.

    Ainda que escolher Dorsey possa parecer racional, houve quem estranhasse a decisão, de imediato. Para começar, ele já está no comando de uma empresa proeminente de tecnologia, a Square. Dirigir uma grande empresa já costuma ser suficientemente difícil; duas pode ser um desafio apavorante, mesmo para os melhores gestores.

    Em resposta à pergunta de um analista, Dorsey ressaltou ter boas equipes de liderança já instaladas em ambas as companhias. "E trabalharei diretamente com essas, e por meio dessas, equipes", ele afirmou em conversa telefônica com investidores na quinta-feira. "Tenho dedicado tempo significativo às duas companhias, e continuarei a dividir meu tempo entre elas".

    Quem mais fez isso? Voltamos a falar de Jobs, que comandou a Pixar e a Apple simultaneamente por nove anos.

    O retorno de um fundador também pode estabilizar. Em lugar de dedicar meses a uma busca de executivos para tentar identificar alguém que compreenda a empresa e seu negócio, reconduzir um fundador ao posto tem vantagens.

    Fundadores têm um relacionamento em longo prazo com suas empresas, e por isso precisam de pouco embasamento sobre o seu negócio. O fundador é a "alma" da companhia e um "visionário", argumentos que sempre caem bem no Vale do Silício.

    Dorsey não é o único homem que talvez esteja ouvindo ecos de Jobs ao percorrer o caminho de volta à sua antiga empresa. Entre aqueles que retornaram para segundas passagens pelo comando de suas empresas, no mundo da tecnologia, estão Jerry Yang, um dos fundadores do Yahoo; Larry Page, um dos fundadores do Google; e Marc Pincus, fundador da Zynga. Quando fundadores criam empresas, são empreendedores com uma ideia e muitas vezes poucos ou nenhum funcionário. Não é a mesma coisa saltar de volta a uma empresa estabelecida com milhares de empregados.

    Dorsey certamente está mais velho e mais sábio. Faz parte do conselho da Disney e ajudou a comandar o sucesso da Square, cujo valor de mercado é estimado em bilhões de dólares.

    E é justo afirmar que o Twitter continua a ser uma propriedade de enorme sucesso. É um dos polos da mídia social, e tem muito potencial. Mas também existem sinais de alerta e de que essa não será uma jornada tranquila.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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