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    TESTE FOLHA

    Apple Music é confuso e não tem versão web; veja comparação

    YURI GONZAGA
    DE SÃO PAULO

    13/07/2015 15h36

    Com seu novo serviço de música por assinatura, o Music, a Apple parece querer enfrentar a concorrência dando o maior número de opções possível, em vez de tentar fazê-lo sobressair em qualidade.

    A pioneira no segmento de música digital (o iTunes foi a primeira loja de MP3s realmente popular) empresta o modelo de streaming consagrado pela empresa sueca Spotify, mas há um quê do app de rádio virtual Pandora e um pouco de Myspace, a rede social musical.

    Disponível para iOS e computadores Mac e PC, o Music peca por não estar disponível pelo navegador e por exigir o pesado software iTunes. Uma versão para Android será lançada até setembro, segundo a empresa.

    Sua estação Beats 1, maior diferencial do Apple Music, é de fato uma rádio on-line: não permite pular músicas, tem locutor, vinhetas e convidados ao vivo –e, em breve, terá também propaganda.

    Comparativo de serviços de streaming

    STREAMING?

    "Streaming", que significa transmissão, pode ser explicado pela expressão "download progressivo": o usuário ouve música ao mesmo tempo em que baixa. A técnica também é empregada para vídeo, caso do Netflix, e difere da rádio on-line.

    Os principais aplicativos do tipo são Deezer, Google Play Music All Access, Rdio, Spotify e o Tidal, que será disponibilizado no Brasil em breve e que é patrocinado pelo rapper Jay-Z.

    Nem todo artista tem a obra nos acervos dessas empresas –os célebres discos dos Beatles são o exemplo mais notável do que não se pode ouvir em streaming–, mas a maior parte dos mais populares está.

    PREÇO

    Cobrado em dólares, diferentemente da concorrência, o Music sai por US$ 5 (cerca de R$ 16, um pouco mais que os rivais) no plano individual e US$ 8 (R$ 25) em um plano "familiar" para até seis pessoas.

    Este último é significantemente mais barato que os análogos no Rdio e no Spotify, que cobram a tarifa básica de R$ 15 adicionada de cerca de R$ 7,50 por membro extra, num máximo de cinco pessoas por R$ 45, patamar que só seria alcançado pelo Apple Music se o dólar chegasse a R$ 5,62 –e ainda assim daria direito a uma pessoa a mais.

    Os três primeiros meses do Music são gratuitos, mas é preciso inserir um cartão de crédito internacional que funcione –e tomar o cuidado de cancelar a assinatura automática antes do fim do período.

    Considerando que um MP3 no iTunes custa quase sempre US$ 0,99 (R$ 3,15) cada, ou US$ 8 (R$ 25) pelo álbum, é vantajoso financeiramente deixar para lá a coleção digital e migrar para as assinaturas.

    Serviços de streaming, ainda que demandem conexão para acessar conteúdo novo, permitem aos assinantes baixar o que quiserem para ouvir off-line. (É bom lembrar que essa função também ocupa espaço no aparelho e exige a conclusão do download, geralmente lento)

    A conveniência de acessar um acervo gigantesco de música pagando uma mensalidade relativamente baixa pode converter até quem pirateia tudo o que ouve –ainda mais em dias em que o Grooveshark, streaming dos piratas, tornou-se só uma lembrança.

    O Deezer e o Play Music All Access, do Google, permitem que o usuário faça upload de sua biblioteca para que ela se torne parte da biblioteca disponível on-line, incluindo conteúdo próprio ou de bandas groenlandesas obscuras.

    'INTELIGÊNCIA'

    O sistema de recomendação ainda precisa ser refinado para se tornar útil. A página de um videoclipe de "Negro Drama", dos Racionais MC's, sugeria ver "Sugar", por Maroon 5, e "Gangnam Style". O de "Whiskey in the Jar", por Metallica, tinha como recomendação "Imagine", de John Lennon.

    A rádio Caetano Veloso traz, com a mesma frequência, música interpretada pelo artista, por Chico Buarque e por Ivete Sangalo.

    Na minha experiência com os principais serviços, a sensação é que o Spotify tem o algoritmo mais preciso de recomendação, apesar de manter a lista "surfando" quase sempre entre canções e artistas bastante conhecidos, o que é diferente do funcionamento do Rdio –que traz mais surpresas, às vezes aprazíveis, mas nem sempre.

    O Google usa no Play Music All Access o sistema de recomendação da empresa Songza, que adquiriu no ano passado, e também é bom.

    DESIGN

    A interface não é limpa como a de outros aplicativos da empresa, ou a do próprio sistema iOS. A página inicial (intitulada Para Você) sobrepõe as capas dos discos na parte dedicada às listas de reprodução, a primeira que é vista pelo usuário.

    Ao mesmo tempo, não permite navegação entre os álbuns e exibe longos título ("A caminho do trabalho com MPB") e sua descrição –o resultado é uma desnecessária poluição visual.

    Os concorrentes, com destaque para o Deezer e seu enorme botão play, simplificam e abreviam o início da reprodução de música –não há rádio baseada nos artistas favoritos e no histórico do usuário (graciosamente chamada "estou com sorte" no serviço do Google).

    Os menus de contexto –exibidos com um "clique longo" sobre, por exemplo, uma canção ou um álbum– têm ora opções de mais, ora de menos. Em um exemplo disso, a página de buscas só oferece as ações "iniciar emissora", uma lista de reprodução que toma o músico ou conjunto como base; e "compartilhar artista". No mínimo, uma terceira ação deveria ter sido disponibilizada, a de adicionar aos favoritos. Para álbuns e canções, há sete ações.

    (Vale lembrar que as opções para compartilhamento são as limitadas oferecidas por todo o sistema da Apple: SMS, e-mail usando o app padrão do sistema, post no mural do Facebook, copiar link)

    O controlador de mídia é bastante limpo e mostra uma foto grande da capa do álbum que está sendo reproduzido, mas, enquanto minimizado para a navegação por outras partes do aplicativo, só dá a opção de pausar o conteúdo –nada de passar ou retroceder a faixa atual.

    Há um problema também com o reprodutor de vídeo, que não tem a opção de entrar em tela cheia enquanto a orientação do celular é vertical e, quando ele está na horizontal, não dá para sair dela.

    Um ponto positivo é a seção de playlists baseadas em atividade (escondida na aba Novo), que tem estética impecável e utilidade evidente. Mas, em vez de tê-la "enterrado" na seção dedicada às novidades, a Apple poderia tê-la mesclado às estações de rádio automáticas.

    A impossibilidade de navegar lateralmente entre o conteúdo é um dos maiores fatores causadores da sensação de "prisão" no Music.

    RÁDIO

    Em inglês somente, a Beats 1 pode ser ouvida também por usuários não pagantes e é capitaneada por Zane Lowe, DJ neozelandês que comandou por 12 anos a Radio 1, da BBC, que tem público-alvo jovem.

    A estação é baseada em Los Angeles, em Nova York e Londres e tem conteúdo exclusivo, como foi o caso da entrevista de estreia, concedida pelo rapper Eminem, relativamente pouco midiático.

    Como a estação é a mesma para os mais de cem países em que está disponível, a programação é menos heterogênea que algumas difusões tradicionais –que por vezes têm na madrugada conteúdo menos comercial, por vezes puxado para o erudito e o experimental.

    Assim, prepare-se para muito pop e hip-hop americano. Um exemplo da programação pode ser visto nessa lista de reprodução no Spotify, feita por um internauta.

    As demais estações, baseadas em gênero (dance, sertanejo etc), são fruto da atividade de algoritmos. Apesar de poder passar a música atual, não dá para voltar à anterior.

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