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    Certinhos, carros que se dirigem sozinhos podem deixar viagem quase chata

    FERNANDA EZABELLA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MOUNTAIN VIEW (EUA)

    12/10/2015 03h00

    Não tem volante, pedais ou câmbio. Só cabem duas pessoas: colocamos o cinto, apertamos um botão e tchau. Estamos num estacionamento a céu aberto do Google, dentro do carro que se dirige sozinho, aquele redondinho.

    Há três meses, o Google começou a levar esses protótipos para testes nas ruas de Mountain View, cidade no Vale do Silício, sede da empresa. Ao contrário do carro-teste no qual andei no estacionamento, os que rodam no mundo real precisam ter volante e pedais por questões de segurança e de leis locais.

    Reprodução
    A repórter Fernanda Ezabella antes da carona no carro sem motorista do Google
    A repórter Fernanda Ezabella antes da carona no carro sem motorista do Google

    "Chega até a ser perigoso, porque muitas pessoas querem parar para tirar fotos e fazer vídeos", disse o "motorista de segurança" Reko Ong, que está no projeto há um ano. "Se percebemos que a situação não é segura, tomamos a direção. Basta tocar no pedal e temos o controle."

    A voltinha pelo estabelecimento foi bastante controlada e, por isso, pouco realista. Obstáculos surgiam no caminho, como um homem atravessando a pista a pé e um rapaz de bicicleta. O carrinho desacelerava, parava, dava espaço e tal, tudo com a maior tranquilidade.

    Uma experiência mais real é andar no veículo da marca Lexus que o Google transformou em um carro autônomo, repleto de câmeras, sensores e parafernálias tecnológicas. Mas não é tão simpático quanto o protótipo -que nem o Google sabe se um dia chegará ao mercado.

    A empresa tem cerca de 20 Lexus rodando em estradas da Califórnia e ruas de Mountain View e Austin, no Texas.

    O carro impressiona pelos poderes sobre-humanos. Ele vê coisas que nós, meros humanos, não vemos, graças a sensores e câmeras que enxergam 360 graus e num raio de dois campos de futebol.

    SÓ ELE VIU

    Logo na saída do estacionamento, o Lexus para bruscamente. Ixi, já deu zebra, eu penso. E então surge uma van do outro lado da rua, saindo de uma loja e fazendo um retorno ilegal no meio da pista, algo que não atrapalharia nossa rota e que nem eu e minha "motorista de segurança" tínhamos notado.

    O carro tende a parar mais tempo do que o necessário nas placas de "pare" e nos cruzamentos, além de nunca ultrapassar em nada a velocidade vigente (seu máximo é de 56 km/h).

    E, assim tão conservador, fica quase chato andar de carro. Um dos desafios do Google é deixar o carro "mais humano", como, por exemplo, mais hábil para atravessar cruzamentos pesados. O protótipo de hoje poderia ficar numa eterna espera.

    "Nem todo motorista é paciente e às vezes recebemos umas buzinadas. Há também os que querem testar nossos limites, dão fechadas", conta a minha "motorista", Meridith Armstrong.

    Em casos assim, o carro pode agir rapidamente, mudando de faixa na hora, já que sabe de forma automática se a pista ao lado está livre (não é como nós, que precisamos virar o pescoço, checar a situação e então mudar).

    Ou o carro pode frear bruscamente. Esses veículos já se envolveram em 16 acidentes pequenos desde 2009, 12 dos quais foram batidas em sua traseira -graças ao seu mecanismo de freio, um tanto brusco.

    Ao voltar para casa à noite, penso no prazer que tenho em dirigir meu próprio carro, sem robôs para me controlar. Mas logo lembro de como somos "versáteis", e portanto perigosos, com as leis de trânsito. De repente, me senti uma motorista bem imprudente, humana, demasiadamente humana.

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