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    Humanos 'tomam' lugar de algoritmos em serviços de música e paquera

    BRUNO ROMANI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    30/11/2015 02h03

    Nesta terça-feira (1º) começa a funcionar no Brasil o Once, um app de paquera à moda antiga. Em vez de um código de computação escolher um "cardápio de pretendentes" para o usuário, como se dá no Tinder, um humano é que vai determinar quem combina com quem.

    "Há muito de instinto nessa decisão. Ao olhar a foto de um usuário, um algoritmo não consegue ver que uma determinada tatuagem significa algo, um colar muito caro também. Há detalhes em uma imagem que só um humano pode ver", diz Eva Peris, diretora de marketing do serviço, que tem 250 mil usuários nos países em que já atua (França, Reino Unido e Estados Unidos).

    O usuário vai receber uma sugestão de pretendente por dia, feita por "matchmakers" do Once (são 42 na França e no Reino Unido, e seis estão sendo treinados para atuar em São Paulo e no Rio).

    Diogo Cesar/Folhapress
    Homem x Máquina
    Homem x Máquina

    Desde a criação do Google, em 1998, estabeleceu-se a era dos algoritmos superpoderosos, fórmulas complexas capazes de determinar nossos gostos e comportamentos. Resultado: as máquinas passaram a ditar as músicas que escutamos, as notícias que acompanhamos e até quem namoramos.

    Mas esse modelo está em xeque, e os humanos estão reagindo. É cada vez mais comum em serviços tecnológicos a curadoria e a mediação humana de conteúdo. Em outras palavras, pessoas estão fazendo recomendações com base em informações que vão além de volumes gigantescos de dados digitais. Detalhes, contexto e emoções são levadas em consideração.

    "O humano consegue entender melhor o usuário na hora de entregar um conteúdo", diz Bruno Telolli, responsável pela curadoria musical no Spotify Brasil. "Nós sabemos o que está acontecendo no mundo em tempo real." O serviço tem profissionais espalhados por vários países com a missão de entender os diferentes climas e assuntos do momento.

    Recentemente, surgiram listas para ajudar os usuários a superar a tristeza com acontecimentos como os atentados em Paris e o desastre ambiental em Mariana (MG).

    Além do Spotify, Apple Music e Google Play Música trouxeram profissionais para criar listas e fazer recomendações de novos artistas. "Você tem de humanizar um pouco o sistema, porque é uma arte real dizer que música deve vir depois da outra. Os algoritmos não conseguem fazer isso sozinhos", afirmou, Jimmy Iovine, responsável pelo Apple Music, ao jornal britânico "The Guardian".

    A preferência por humanos vai além do mundo da música, em que a construção de listas e recomendações é uma tradição. As pessoas avançam também sobre as redes sociais, seara em que os algoritmos são fortes –o Facebook trabalha para deixar seus códigos cada vez mais calibrados a fim de decidir o que aparece na linha do tempo de cada um, dando ao usuário, automaticamente, conteúdo a curtir e clicar.

    Outros serviços apelam para humanos. Snapchat e Twitter lançaram ferramentas que organizam seus conteúdos pelos temas mais comentados do dia, como a Operação Lava Jato ou a eleição do melhor futebolista do mundo. O trabalho é feito por jornalistas.

    "Fazer buscas é um processo insatisfatório. É bom para chegar aos fatos, mas não para mostrar possibilidades", afirmou Ben Silbermann, executivo-chefe do Pinterest, que também usa curadoria humana. Para ele, os algoritmos conseguem captar grandes tendências, mas são ineficazes para encontrar aquilo que está fora da curva –o que fecha as portas para descobertas.

    CRÍTICAS

    Nem todo mundo concorda com isso. Em artigo para a BBC, Eric Schmidt, presidente-executivo da Alphabet (empresa que controla o Google), disse que "é melhor construir um sistema inteligente que possa aprender com o mundo real" –o Google usa recomendações humanas em alguns de seus serviços, como o Google Play Música e o Google Maps.

    Outra crítica direcionada ao modelo humano diz que ele não tem escala. Ou seja, apenas os computadores são capazes de lidar com grandes volumes de dados.

    "Humanos são necessários, mas algoritmos sofisticados também. Não conseguimos viver mais sem eles, porque permitem que operemos a 'dadosfera'. Mas transformar o dado em informação ainda é um privilégio humano, demasiadamente humano", afirma Giselle Beiguelman, professora de design da USP e especialista em curadoria da informação.

    HOMEM X MÁQUINA

    SPOTIFY
    Uma equipe mundial de 50 pessoas cria listas com diferentes climas e temas, reagindo a acontecimentos

    PANDORA
    O serviço de música se orgulha do seu sistema de recomendações com base no que o ouvinte curte

    TWITTER
    A ferramenta Moments é alimentada por uma equipe de jornalistas, que agrupa tuítes dos temas do dia

    FACEBOOK
    Secreto, um algoritmo determina aquilo que você vê na timeline e é calibrado constantemente

    ONCE
    A recomendação de pretendentes é feita por uma equipe, com base nos dados fornecidos pelo usuário

    TINDER
    Usa dados do Facebook (amigos em comum, lugares visitados e interesses) para sugerir paqueras

    GOOGLE MAPS
    Em cidades de EUA e Inglaterra, o serviço oferece sugestões de humanos sobre restaurantes e bares; no resto do mundo, as sugestões têm por base a localização do usuário e o histórico da conta do Google

    CANOPY
    Serviço organiza produtos interessantes encontrados na Amazon. A seleção é feita por profissionais

    AMAZON
    Faz ofertas de produtos utilizando dados do seu comportamento ao navegar pelo site

    Colaborou FELIPE MAIA, de São Paulo

    Edição impressa

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