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    Família se muda de Brasília para SP para investir no YouTube das filhas

    MATEUS LUIZ DE SOUZA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    21/12/2015 03h00

    Arquivo Pessoal
    Eloah, (em pé), Giotone (à esq.), Ester (em cima), Silas, e Eliane: de Brasília para SP
    Eloah, (em pé), Giotone (à esq.), Ester (em cima), Silas, e Eliane: de Brasília para SP

    O casal de Brasília Eliane Rocha, 32, e Giotone Rocha, 35, está de mudança para o interior de São Paulo. A proximidade com cursos, palestras e eventos do YouTube, além de convites para estreias de filmes, impulsionaram o desejo de novos ares em 2016.

    Com duas filhas youtubers, Eloah Rocha, 8, e Ester Rocha, 4, a vida na capital federal não permitia frequentar esses eventos. Eloah, do canal "Eloah e Diversão", tem 124 mil inscritos, enquanto a irmã, do canal "Ester e Diversão", conta com 20 mil inscritos. Elas fazem brincadeiras com bonecas, maquiagens e desafios.

    A família já estava insatisfeita em Brasilia, mas, não fosse pelas duas filhas, provavelmente continuaria na capital federal. "Sabe quando vamos empurrando as coisas, deixando para o futuro?", diz a mãe.

    Pesou bastante para os pais estarem mais perto de tudo que a capital paulista oferece. As meninas ganham convites para pré-estreia de filmes, por exemplo, mas a distância impede de ir com maior frequência.

    "São momentos legais para elas viverem, é a infância delas em jogo. Tudo está centralizado em São Paulo, por isso vamos morar lá, ver se dá certo", afirma Eliane. "Está sendo uma mudança bem planejada. Não posso sair de qualquer jeito, por causa dos meus filhos.O canal não tem nada a ver com nossa vida financeira."

    O pai viaja frequentemente a São Paulo para definir o colégio das filhas e saber exatamente onde vão morar. Eliane e Giotone não querem o agito de São Paulo, por isso escolheram uma cidade com um ar mais tranquilo, cujo nome o casal prefere não revelar para não expor a família.

    O marido vai continuar gerenciando, à distância, a empresa de que é dono em Brasília, uma locadora de impressoras –a principal fonte de renda da família– e irá para a capital federal sempre que necessário.

    A família já faz planos. Um deles é colocar as meninas em aulas de teatro e de dicção, para que elas possam falar melhor e ampliar o vocabulário. "Acho importante investir no futuro delas, já que têm esse dom. E indo para São Paulo eu consigo me profissionalizar", diz.

    Eloah está bastante animada, mas não ansiosa. Ela, garante a mãe, tem voz ativa nas discussões familiares, que ultimamente têm sido frequentes para decidir o futuro de todo mundo.

    O sonho de Eloah é morar em Paris ou Nova York, ser modelo e desfilar nas grandes passarelas. A mãe vê a mudança para São Paulo como o primeiro passo rumo à carreira.

    A professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Nádia Laguárdia, que pesquisa a relação dos jovens com a internet, diz que é preciso ter ainda mais precaução com crianças uma situação como essa. "Não é apenas uma mudança de cidade. É uma mudança de vida", afirma.

    Segundo a pesquisadora, as crianças e adolescentes não dominam completamente a tecnologia, como é comum supor. "Eles são bastante ousados nesse universo, pois as transformações são muito rápidas. Mas o principal é que eles são totalmente despreparados para lidar com as consequências negativas que podem existir, como exposição excessiva e repercussão de uma imagem compartilhada indevidamente."

    O CANAL

    No aniversário de sete anos, Eloah ganhou um tablet e começou a assistir a canais de meninas brincando com boneca no YouTube, como a Jamine Vitória e a Julia Silva.

    Ela pediu, então, uma boneca de presente. "Mamãe, quando você me der uma, posta no YouTube eu dando papinha para ela, igual as meninas fazem?" A mãe preparou toda a cena, de surpresa, e colocou na internet.

    Os vídeos entravam sem edição. Eliane não sabia que poderia postar diariamente e que aquilo renderia um público. Nunca tinha ouvido falar em canais. Certo dia, descobriu um editor de vídeos, que deixou Eloah ainda mais à vontade nas gravações, já que qualquer erro poderia ser cortado no produto final.

    Eliane não tem ideia de quando o canal começou a ganhar audiência. Segundo ela, o crescimento é diário e é difícil ter uma real dimensão de números. Não foi feito nenhum tipo de divulgação. Eloah é uma criança espontânea e isso certamente ajuda no sucesso, avalia a mãe. Sempre foi assim, desde pequena. Com três anos a menina já pegava o celular para brincar, tirar fotos, gravar vídeos. A memória do telefone vivia lotada.

    O YouTube às vezes dá suporte para a família. Um dia mandaram um e-mail avisando que o canal dela era bom e que seria interessante continuar o trabalho. O nome "Eloah e Diversão" foi adotado para diferenciar o canal do caso Eloá (o sequestro que acabou em morte em 2008, na Grande SP). A mãe ficou preocupada quando buscou o nome da filha no YouTube e só aparecia resultado dessa história com desfecho trágico.

    Já o canal da filha mais nova começou porque, toda vez que Eliane ia gravar vídeos da Eloah, Ester queria participar e acabava atrapalhando. A mãe prometeu fazer um vídeo para a caçula também. "Ela me perguntou: 'Mas vai colocar no meu canal?'. Com três anos e falando uma coisa dessa, achei o máximo", diz Eliane.

    A mãe coruja vê muito talento nas duas meninas. "Nasceram para isso, dá para ver a intimidade na frente das câmeras."

    LONGE DA FAMA

    "Tem gente que acha que ter um canal no YouTube é supervalorização, esquecem que por trás existe uma vida real", diz Eliane. A mãe afirma que a maior parte dos ganhos com o canal são investidos na própria plataforma, como na aquisição de câmeras, na iluminação, nos microfones, nos brinquedos que aparecem nos vídeos. O resto vai para uma poupança –Eloah nunca pediu dinheiro, segundo a mãe.

    Os recados para a filha são constantes. "Você não é uma celebridade, mas sim uma criança normal, como qualquer outra." A única diferença, explica, é que outras crianças gostam e seguem o que a filha produz, mandam mensagens carinhosas. Até reconhecida na rua a menina já foi. Uma vez, em São Paulo, uma fã saiu em disparada gritando "Eloah, Eloah". Eliane se emocionou muito com a cena.

    As pessoas da família às vezes comentam que ela "está ficando famosa", e o recado da mãe é para não levar em consideração. "A fama, o estrelato, é tudo passageiro. Eu tenho uma conversa bem aberta com ela, porque não quero que se decepcione lá na frente", conta.

    A MÃE SE ENCONTROU

    Logo depois que o filho mais novo, Silas, 2, nasceu, Eliane parou de estudar. Ociosa em casa, sentia-se desconfortável nessa situação. Comentários de amigos sobre vida profissional incomodavam profundamente. "O que eu ia conquistar? Fulano já é médico, fulano já é fisioterapeuta. Eu não sei fazer nada. Meu Deus, qual é meu dom?", questionava.

    Até que começou a editar os vídeos da Eloah. E agora diz sentir-se ocupada, feliz. Ela mesma vê um talento, acha que edita bem. A vocação recém-descoberta ajudou inclusive na vida de Eliane. Conversar era mais difícil, por causa da timidez. Agora ela conhece muita gente.

    É a própria mãe quem administra as redes sociais, responde os comentários no canal. "Minha vida ganhou um outro sentido. Estou o tempo todo com os filhos, fazendo o que eu gosto e o que elas gostam", comemora.

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