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    Na era dos smartphones, americano lança celular 'subversivo' que só liga

    DANIEL THOMAS
    DO "FINANCIAL TIMES"

    15/01/2016 14h00

    Divulgação
    O protótipo do Light Phone
    O protótipo do Light Phone

    Joe Hollier, 25, antigo skatista tornado empresário de tecnologia, descreve o momento de calma transcendental que surgiu quando ele abriu mão de seu smartphone. Hollier havia começado a "viver leve", deixando para trás seu companheiro de bolso de alta tecnologia e se desconectando de um mundo definido pelo acesso imediato à Internet.

    Não foi fácil, ele admite. "Há uma ansiedade inicial", ele diz. "É muito intenso. Você começa a dedilhar o bolso, a se mexer sem parar. Mas depois vem uma sensação de imenso alívio".

    Hollier, radicado em Nova York, e seu sócio Kawei Tang usaram essa experiência como base para um celular subversivo que será lançado na metade do ano –revolucionário não por todos os seus recursos avançados, mas pela completa falta deles.

    O Light Phone permite que você faça e receba ligações, mas nada mais. A capacidade de memória do aparelho basta para apenas dez números. Nada de serviço de mensagens, de câmera, de internet.

    O design é importante: não poderia ser mais simples, com um revestimento de plástico branco e do tamanho de um cartão de crédito, na qual os números brilham em uma tela matricial. O incômodo causado pela necessidade constante de recarga dos smartphones modernos é evitado por meio de uma bateria com 20 dias de duração.

    "Testamos o conceito", diz Hollier, que conheceu Tang em uma incubadora de tecnologia operada pelo Google. "Descobrimos que o valor não estava no que ele pode fazer, mas na falta disso. A ideia era oferecer o máximo de desconexão e o mínimo de escolha".

    Tang vinha trabalhando para um fabricante de smartphones, mas descobriu que o ciclo anual de pequenas melhoras nos produtos se havia tornado "gratuito e perdulário", de acordo com Hollier.

    Em um mercado no qual até mesmo os smartphones mais baratos têm o poder de processamento de um computador pessoal básico, o Light Phone é em parte um protesto contra a era digital. Mas Hollier espera que ele possa se tornar mais que isso: uma maneira de os usuários evitarem distrações.

    "Solidão e tédio são duas das coisas de que mais gosto", ele diz, apontando para a oportunidade de ser criativo que isso oferece. "Pegar o telefone enquanto você espera o trem se tornou um hábito nervoso. E os efeitos colaterais disso são surpreendentemente severos".

    Os dois conseguiram US$ 415.127 em capital junto a 3.187 investidores, via Kickstarter, para desenvolver o celular. O aparelho ainda está em estágio de protótipo, mas uma empresa na China começou a fabricar os aparelhos para entrega a partir de junho. Eles aceitaram pré-encomendas ao preço de US$ 100 por aparelho, mas afirmam que o preço de venda exato ainda não está definido. Uma versão com revestimento preto pode ser lançada mais tarde.

    O aparelho encontrou fãs inesperados. Hollier, que já trabalhou com uma série de coisas, de dirigir sua fábrica de skates a cinema e design gráfico, presumiu que pessoas parecidas com ele poderiam querer um celular como o que ele criou: usuários mais jovens que talvez prefiram não levar produtos caros de tecnologia para a praia ou quando vão andar de skate.

    Mas o aparelho encontrou ressonância oficial na forma de usuários de negócios com mais de 45 anos de idade, ele diz, que gostavam da época anterior à distração constante causada pelos smartphones. "Eles se lembram de que é importante sentar em um banco de praça e só pensar".

    Hollier diz que a recepção ao aparelho foi surpreendentemente calorosa na Ásia, talvez em reação contra a popularidade dos smartphones maiores, conhecidos como phablets, criados primordialmente para acesso à Internet e para assistir vídeo.

    Hollier admite que a maioria das pessoas vai querer também um smartphone, que pode ser conectado ao Light Phone para transferir chamadas. Como segundo aparelho, ele diz, o Light Phone seria útil para emergências ou para uso quando o portador estiver fazendo exercícios físicos ou sair para uma noitada.

    Mas ao tentar criar um aparelho cujo propósito explícito é ser usado o menos possível, Hollier e seu sócio podem ter tropeçado em algo que terminará por ser muito usado.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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