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    campus party

    Brasileiros criam luva para que pessoas se comuniquem por vibrações

    ISABEL SETA
    DE SÃO PAULO

    27/01/2016 14h05

    Isabel Seta/Folhapress
    Luva criada pela Unifesp que permite que pessoas se comuniquem a distância por vibração
    Luva criada pela Unifesp que permite que as pessoas se comuniquem a distância por vibrações

    Um rapaz faz gestos usando uma luva preta com um sensor incrustado. Ao lado, uma pessoa com tiras presas ao corpo sente vibrações, ora nos braços, ora na barriga ou nas costas, de acordo com os movimentos da luva. A ideia é estabelecer uma comunicação.

    Trata-se de um projeto da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) apresentado nesta quarta-feira (27) na Campus Future, área gratuita da Campus Party –acampamento com palestras e workshops sobre tecnologia que acontece em São Paulo até domingo (31).

    O aparelho, composto por uma luva com sensores e várias fitas de velcro equipadas com motores conectados por diferentes fios coloridos a um outro dispositivo, parece complexo e pouco funcional. Mas o objetivo por trás de toda a aparelhagem é bastante simples: associar um gesto a um estímulo tátil, tornando possível que duas pessoas se comuniquem a distância, por exemplo.

    "O aparelho pode ser usado para uma pessoa muda ou com problemas de fala se comunicar com uma pessoa cega", explica Mateus Souza Franco, 22, estudante de engenharia de computação na Unifesp e membro do núcleo de neuroengenharia.

    Mateus criou um sistema de sinais simples baseados em gestos de Libras (língua brasileira de sinais): para frente, para trás, para a direita, para a esquerda, para cima e para baixo. Conforme ele mexe a mão adornada com a luva, os seis motores distribuídos em faixas no corpo de outra pessoa vibram. No caso do sinal para ir para frente, sente-se vibrações nos braços e, imediatamente depois, no centro (na barriga), dando a sensação instintiva de se movimentar para frente.

    A ideia é desenvolver uma linguagem de vibrações bem mais complexa e com um maior número de motores, podendo transmitir, inclusive, a amplitude do movimento.

    "Queremos saber qual é o limite dessa comunicação "crossmodal" [que cruza estímulos diferentes, um visual, o gesto, e outro tátil, a vibração] e depois associar a uma prótese", explica Jean de Abreu, 38, coordenador do núcleo de neuroengenharia da Unifesp e orientador do projeto.

    "Há um índice de rejeição à prótese, pois as pessoas não sentem que aquilo é parte delas. O nosso dispositivo quer criar uma associação entre o movimento da prótese com as vibrações, assim a pessoa não vai realmente sentir os dedos, mas vai sentir, pelas vibrações, a força que está fazendo", diz Jean. "É menos invasivo que um estímulo direto no cérebro, como tem sido estudado em animais."

    O projeto, financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) está em desenvolvimento há um ano e Jean crê que em seis meses será possível começar a testar a prótese –que será criada por uma impressora 3D.

    No futuro, eles vislumbram a possibilidade de criar uma veste com os motores –mais práticos que as faixas e fios, que se embolaram todos quando a reportagem da Folha testou o aparelho– e substituir a luva com sensores pelas próteses. "Parece grande e desajeitado agora, mas é uma questão de refinamento", diz Mateus.

    Campuseiros curiosos rodeiam a demonstração do aparelho. Um deles dá seu pitaco: "Dá até para adestrar um animal com isso".

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