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    Após habeas corpus, executivo do Facebook deixa prisão em SP

    ISABEL SETA
    DE SÃO PAULO

    02/03/2016 08h27

    Jorge Araujo/Folhapress
    Sao Paulo,SP,Brasil 02.03.2016 O vice-presidente da rede social Facebook na America Latina, o executivo argentino Diego Jorge Dzodan, deixou o Centro de Detenco Provisoria (CDP) de Pinheiros, em Sao Paulo, na manha desta quarta-feira (2) Ele tinha sido preso na terça (1º) a pedido da Justica de Sergipe Foto:Jorge Araujo/Folhapress COD 0703
    O vice-presidente do Facebook na América Latina, Diego Dzodan, deixa o CDP de Pinheiros

    Após habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça de Sergipe, Diego Dzodan, vice-presidente do Facebook para a América Latina, deixou a prisão por volta das 10h30 desta quarta-feira (2) –ele estava preso desde ontem, por decisão de um juiz de Lagarto (SE), após a empresa não divulgar informações sobre conversas no WhatsApp para investigações da Polícia Federal.

    Após deixar o Centro de Detenção Provisória, em Pinheiros, o executivo foi levado à Superintendência da Polícia Federal, na Lapa, para procedimentos de rotina (por ser estrangeiro, ele precisa passar por averiguação) e já foi liberado. Dzodan passou a noite em uma cela isolada, como é padrão na instituição quando o preso chega ao sistema prisional.

    "A prisão do Diego foi uma medida extrema e desproporcional e ficamos felizes pelo tribunal em Sergipe ter emitido uma liminar ordenando a sua liberação. Prender uma pessoa que não tem qualquer relação com uma investigação em andamento é uma medida arbitrária e nos preocupam os efeitos dessa decisão para as pessoas e a inovação no Brasil", disse o Facebook em nota.

    Em sua decisão pela liberação do executivo, divulgada no site do TJ-SE, o desembargador Ruy Pinheiro afirma que "o paciente está a sofrer evidente coação ilegal" e disse considerar precipitada a decretação de detenção preventiva de Dzodan.

    Na nota, Pinheiro ressalta ainda que, mesmo que a acusação de desrespeito à ordem judicial fosse admitida, não seria possível cogitar a decretação de prisão preventiva por suposto descumprimento da ordem, "na medida em que o paciente nem é parte no processo judicial, nem investigado em inquérito policial".

    A decisão do juiz Marcel Maia Montalvão, da cidade de Lagarto (SE), veio depois de a empresa não colaborar com investigações da Polícia Federal a respeito de conversas no WhatsApp, aplicativo que pertence ao Facebook desde 2014 —o crime em apuração é o de tráfico de drogas.

    A Polícia Federal em Sergipe informou que a investigação começou há cerca de quatro meses, após uma apreensão de drogas em Lagarto. Foi pedido, então, que o WhatsApp repassasse dados sobre a localização e a identificação de suspeitos de tráfico, mas a companhia não divulgou as informações.

    O magistrado, então estipulou uma multa (inicialmente de R$ 50 mil por dia e, depois, de R$ 1 milhão por dia -valor que, de acordo com a PF, chegou a ser bloqueado dos bens da empresa americana).

    Como os diálogos não foram liberados, Montalvão mandou prender o executivo "por impedir a investigação policial, com base no artº 2º, §1º, da Lei 12.850/2013", conforme divulgado em nota pelo magistrado.

    Reprodução/Facebook
    Diego Dzodan, vice-presidente do Facebook para a América Latina
    Diego Dzodan, vice-presidente do Facebook para a América Latina

    O PRESO

    Mais alto executivo da companhia na América Latina, Dzodan assumiu o comando do Facebook na região em junho do ano passado, no lugar de Alexandre Hohagen, que havia montado a operação da empresa no Brasil e se desligou do cargo.

    Nascido na Argentina, Dzodan foi presidente da empresa de softwares SAP na América Latina e Caribe antes de chegar à rede social.

    OUTRO LADO

    Em comunicado, o Facebook disse estar desapontado com a medida "extrema e desproporcional de ter um executivo do Facebook escoltado até a delegacia devido a um caso envolvendo o WhatsApp, que opera separadamente."

    O WhatsApp também classificou como "extrema" a decisão do juiz. "Nós estamos desapontados que os órgãos de segurança tenham tomado essa medida extrema. O WhatsApp não pode fornecer informações que não possuímos. Nós cooperamos ao máximo nesse caso e, apesar de respeitar o trabalho importante das autoridades, discordamos fortemente dessa decisão", disse a companhia, em comunicado.

    De acordo com app de mensagens, as conversas dos usuários não são guardadas. "Isso significa que a polícia prendeu alguém por causa de informações que não existem", diz a empresa.

    A companhia vem adotando gradativamente, desde 2014, um tipo de criptografia das mensagens conhecido como "end-to-end", nas quais nem mesmo as companhias podem acessar a comunicação.

    A mensagem sai codificada e chega à outra ponta ainda cifrada, o que dificulta o monitoramento –até mesmo se instituições de vigilância pressionarem empresas a entregarem dados de usuários.

    Mas, para Frederico Ceroy, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Digital e promotor, o Judiciário não está pedindo o conteúdo das mensagens trocadas, mas sim dados sobre a localização e a identificação de suspeitos de tráfico.

    "O WhatsApp está totalmente errado e indo contra o Marco Civil da Internet" diz ele.

    "O Facebook tem ido na contramão do que o Google, Hotmail e outros provedores fazem. Não se trata de uma discussão sobre privacidade ou liberdade, e sim de segurança, já que temos investigações de crime organizado, tráfico de drogas e pedofilia em andamento."

    OUTROS CASOS

    Não é o primeiro embate entre a Justiça brasileira e o Facebook. Em dezembro do ano passado, o WhatsApp foi bloqueado em todo o país depois de uma decisão da 1a vara criminal de São Bernardo do Campo (SP), também em decorrência de uma investigação criminal.

    Na ocasião, como agora, o WhatsApp não liberou as informações solicitadas com autorização judicial pelas autoridades que investigavam o caso –o bloqueio foi determinado como represália.

    Em fevereiro, um juiz do Piauí também determinou o bloqueio do aplicativo no Brasil para forçar o Facebook a colaborar com investigações da polícia do Estado relacionados a casos de pedofilia.

    A decisão acabou sendo derrubada, e o app não chegou a sair do ar.

    Em 2012, o diretor-geral do Google Brasil, Fabio José Silva Coelho, foi detido em São Paulo pela Polícia Federal, sob suspeita de crime de desobediência.

    Coelho foi levado à sede da PF na capital paulista por ter infringido ordem judicial que determinava a exclusão do YouTube, site de vídeos do Google, de dois vídeos com ataques ao então candidato a prefeito de Campo Grande pelo PP Alcides Bernal. Ele foi ouvido e liberado no mesmo dia.

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