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    Com vídeos de Jout Jout, YouTube quer incentivar mulheres a criarem canais

    ISABEL SETA
    DE SÃO PAULO

    03/03/2016 11h26

    O YouTube iniciou nesta quarta-feira (2) um projeto global e uma parceria com a ONU para potencializar a participação feminina na plataforma e dar visibilidade às mulheres às vésperas do Dia Internacional da Mulher, celebrado no 8 de março.

    A plataforma, que pertence ao Google, não divulga dados da quantidade de usuários homens e mulheres no site, mas o relatório da ONU sobre mulheres, divulgado ano passado, indica que apenas 36% das mulheres têm acesso à internet no mundo, contra 41% dos homens.

    Apesar do descompasso numérico não ser muito grande, o documento destaca que as mulheres sofrem mais riscos ao usar a internet, como assédio e abuso sexual –principalmente as mais jovens.

    Nos últimos meses, o YouTube selecionou produtoras de conteúdo de cinco países: Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Japão, além de diretoras criativas, para gravar um total de 50 vídeos, "que evidenciam a força das mulheres", diz Maia Mau, gerente de marketing do YouTube Brasil.

    O time brasileiro, composto por 13 youtubers, é bastante variado. Conta com mulheres negras (Afro e Afins ), mulheres lésbicas, mulher trans (Mandy Candy ), mulher discutindo maternidade (Flávia Calina ) sexualidade (Canal das Bee ), maquiagem (Petiscos TV ), cabelo afro (Apenas Ana ), cotidiano (Depois dos Quinze ), relacionamentos (Canal da Lili ), jogos (malena010102 ), literatura (Tiny Little Things ), culinária e viagens (Ana de Cesaro ) e música (Isa Lima ), e até uma drag queen (Lorely Fox, do canal Para Tudo ).

    A responsável por amarrar todas essas narrativas e gravar vídeos com cada uma das criadoras foi a carioca Julia Tolezano –mais conhecida na internet como Jout Jout (do canal homônimo ).

    "Quando me ligaram fazendo o convite, eu estava no happy hour da empresa (no caso eu e Caio, meu namorado, bebendo cerveja em um bar). Fiquei muito emocionada", contou ela à Folha.

    Julia também foi a Los Angeles, nos Estados Unidos, para participar do vídeo manifesto da iniciativa com outras seis youtubers estrangeiras.

    Na produção, cada uma delas encarnou uma mulher importante na história, como a pilota Amelia Earhart, a pintora Frida Kahlo e as atrizes Katherine Hepburn e Marilyn Monroe. Jout Jout aparece como a escritora e militante comunista Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, que foi uma das primeiras brasileiras do século 20 a ser presa política.

    Divulgação
    Jout Jout como Pagu
    Jout Jout como Pagu

    Ao longo da próxima semana, os outros vídeos, inclusive os brasileiros, serão divulgados.

    "A ideia é acabar com os impedimentos que as mulheres colocam na cabeça para não estar no YouTube, porque acham que não é o lugar delas, que não são bonitas, ou que não falam bem o suficiente, ou que não têm ideias legais", disse Julia, que vê uma discrepância grande na quantidade de homens e mulheres na plataforma.

    Jessica Tauane, 24, do Canal das Bee, concorda: "Tem menina que tem tudo para fazer um canal, mas não faz e é muito importante estimular o trabalho das mulheres".

    Para Taty Ferreira, do canal Acidez Feminina, que conta com mais de 960 mil inscritos, é nítida a falta de mulheres produtoras de conteúdo: "Estamos em menor número do que os homens e, além disso, as meninas que fazem sucesso falam de assuntos menos variados do que homens que fazem sucesso", afirmou ela à Folha.

    INCENTIVO

    Para Nátaly Nery, 21, do canal Afro e Afins, enfrentou uma série de dificuldades técnicas para conseguir viabilizar seu canal, iniciado em julho do ano passado.

    "Eu não tinha luz, um celular ou um laptop bom para editar os vídeos. Os três primeiros meses foram um inferno, mas eu percebi que o que eu tinha para falar era urgente e precisava ser dito."

    Ela fala, principalmente, de feminismo negro e sobre as suas próprias experiências de vida como uma jovem negra que saiu do interior de São Paulo para estudar na capital e buscou alternativas para ganhar independência econômica dos pais. No canal, Nátaly ensina, por exemplo, a costurar as próprias roupas ou a trançar o cabelo.

    "Meu objetivo com o canal é falar de autonomia, principalmente para a mulher negra".

    ONU

    Divulgação
    Embaixadoras da Mudança Ingrid Nilsen, Louise Pentland, Jackie Aina, Yuya, Chika Yoshida, Taty Ferreira e Hayla Ghazal na ONU
    Embaixadoras da Mudança da ONU, (da esq. para dir.) Ingrid Nilsen, Louise Pentland, Jackie Aina, Yuya, Chika Yoshida, Taty Ferreira e Hayla Ghazal na ONU

    O YouTube também fechou uma parceria com a ONU com outras sete youtubers que farão parte de um grupo de embaixadoras da plataforma, voltado para a luta pela igualdade de gêneros.

    "O grande objetivo dessa parceria é potencializar ainda mais as vozes femininas na plataforma", afirma Maia. As youtubers vão participar de eventos da ONU, criar vídeos para promover a igualdade de gêneros e mobilizar suas audiências para essas discussões, explicou.

    "São mulheres de perfis diferentes que já quebraram algum tipo de estereótipo", disse Taty Ferreira, 29, do Acidez Feminina. A mineira, que fala de sexo, foi escolhida como embaixadora do YouTube do Brasil.

    "A missão do meu canal é mostrar que nós, mulheres, podemos falar do que quisermos, sem medo, e fazer o que quisermos", contou.

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