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    O que as vitórias do supercomputador do Google dizem sobre o futuro

    RICHARD WATERS
    Do "FINANCIAL TIMES"

    14/03/2016 02h00

    Lee Jin-man/Associated Press
     South Korean professional Go player Lee Sedol, right, prepares for his second stone against Google's artificial intelligence program, AlphaGo, as Google DeepMind's lead programmer Aja Huang, left, sits during the Google DeepMind Challenge Match in Seoul, South Korea, Wednesday, March 9, 2016. Google's computer program AlphaGo defeated its human opponent, South Korean Go champion Lee Sedol, on Wednesday in the first game of a historic five-game match between human and computer. (AP Photo/Lee Jin-man) ORG XMIT: LJM110
    O jogador campeão de Go, Lee Sedol, à direita, na segunda partida com o computador do Google

    Nem todas as formas de inteligência artificial são iguais. A versão que esteve em exibição em Seul esta semana pertence a uma variedade mais intrigante que a inteligência mecânica corriqueira usada nos serviços de recomendação e sistemas de assistência a clientes.

    Se ela puder se mostrar à altura da hipérbole, causará uma mudança de passo em ampla gama de aplicativos para o mundo real –ainda que a história sugira que os avanços mais vistosos no campo da inteligência artificial costumam cumprir muito menos do que prometeram em seu momento de máxima proeminência.

    Na semana passada, a subsidiária DeepMind, do Google, venceu o torneio do jogo de Go contra Lee Se-dol, o campeão mundial desse antiquíssimo jogo de tabuleiro.

    O programa usado pelo DeepMind, chamado AlphaGo, já vinha atraindo atenção no mundo da inteligência artificial. Agora, conquista uma vitória histórica para o poder cerebral do silício.

    Eventos publicitários que opõem homem e máquina nada têm de novo. A IBM estabeleceu o padrão, 19 anos atrás, quando seu Deep Blue, um computador de xadrez, derrotou o então campeão mundial Garry Kasparov.

    Na época, parecia que uma cidadela da inteligência humana havia caído diante da ciência da computação. Mas a vitória do Deep Blue se devia mais à potência do hardware do que à qualidade dos algoritmos, que normalmente é vista como a base da inteligência.

    Os programas de xadrez em computadores vêm realizando firme progresso ao longo dos anos, usando o poder bruto de sua capacidade de cálculo para tentar antecipar todos os possíveis lances futuros e calcular qual é o melhor. Graças ao avanço inexorável da Lei de Moore –que prevê avanços exponenciais na capacidade de computação –era quase inevitável que o Deep Blue viesse a esmagar seus rivais humanos, no final. Era apenas questão de tempo.

    Passadas duas décadas, a vitória do Deep Blue ainda reverbera, mas ela pouco fez para avançar os usos da inteligência artificial. Embora o sistema seja capaz de executar milagres dentro dos estreitos limites de um tabuleiro de xadrez, eles não foram reproduzidos diante da natureza confusa e "desestruturada" dos fenômenos do mundo real.

    A IBM tentou uma jogada completamente diferente em 2011, quando o Watson - computador que leva o nome do fundador da companhia –enfrentou os campeões do game show televisivo "Jeopardy!", um programa norte-americano de conhecimentos gerais. Para tanto, a IBM se atribuiu a tarefa notoriamente difícil de "processamento de linguagem natural" –ou seja, compreender o significado da linguagem mesmo que esta venha disfarçada por trocadilhos e jogos verbais.

    O sucesso do Watson foi uma vitória para a engenhosidade dos profissionais da companhia. A IBM tomou uma coleção de estratégicas de raciocínio conhecida dos pesquisadores há anos e as adaptou para criar um sistema mais flexível, no tratamento da linguagem, do que se imaginava possível anteriormente.

    O programa lançou a mais promissora operação nova da IBM: a divisão Watson, que se tornou o carro-chefe de suas operações de análise de dados.

    Mas embora a IBM tenha corrido para aplicar a tecnologia a problemas do mundo real, até o momento ela vem enfrentando dificuldade para executar as tarefas realmente difíceis que esperava estarem ao seu alcance.

    O DeepMind, em contraste, envolve uma categoria completamente diferente de tecnologia. Ao contrário do xadrez, o Go permite movimentos demais para que um computador possa calculá-los. Como resultado, a única abordagem que uma máquina pode adotar é a do reconhecimento de padrões a fim de "compreender" de que maneira um jogo está se desenvolvendo, e em seguida desenvolver uma estratégia e adaptá-la ao longo do caminho.

    O sistema deve portanto confiar no chamado aprendizado profundo –a tecnologia por trás dos mais recentes e surpreendentes avanços na inteligência artificial– e aplicar redes de neurônios artificiais à ordenação de massas de dados, em busca de padrões e "significados".

    Para ensinar o seu sistema, o DeepMind colocou dois programas de Go em competição um contra o outro, usando uma técnica conhecida como "reforço de aprendizado" a fim de ajudar a tecnologia a mudar de versão e se adaptar. Nessa competição, os dois computadores desenvolveram estratégias que nenhum deles havia aprendido sozinho.

    Os especialistas em inteligência artificial hesitam em classificar esse avanço como nascimento de uma nova inteligência, mas sugerem que ele representa algo de novo na evolução do aprendizado por computadores.

    O objetivo do Google para sua pesquisa de inteligência artificial era nada menos do que reconstruir sua atividade central na Internet: não só apresentar informações relevantes por meio de seu serviço de buscas existentes mas compreender e antecipar as necessidades dos usuários e aconselhá-los. Essa tecnologia poderia ser aplicada a novos mercados, como o de serviços de saúde.

    Continua difícil determinar que vantagens o Google poderá extrair do seu sucesso em um jogo de tabuleiro. Mas Lee claramente se tornou vítima de uma demonstração altamente visível da capacidade do DeepMind.

    Falando ao "Financial Times" antes das partidas, o jogador desdenhou a possibilidade de uma vitória do computador. Pelo menos a arrogância continua a ser uma capacidade incontestada dos seres humanos.

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