• Tec

    Saturday, 04-May-2024 16:32:10 -03

    Superados por telas menores, computadores querem voltar a brilhar

    QUENTIN HARDY
    DO NEW YORK TIMES

    05/04/2016 02h00

    Jeff Chiu/Associated Press
    ORG XMIT: CAJC109 People test the the Google Chromebook Pixel laptop after an announcement in San Francisco, Thursday, Feb. 21, 2013. Google is adding a new touch to its line of Chrome laptops in an attempt to outshine personal computers running on software made by rivals Microsoft and Apple. (AP Photo/Jeff Chiu)
    Consumidores testam laptops Chromebook, do Google

    Dion Weisler, presidente-executivo da HP, recentemente exibiu um laptop gorducho que era o orgulho da empresa em 2012. "Esse era o laptop que tínhamos quando cheguei", ele disse.

    Weisler abriu o invólucro do velho laptop e mostrou, dentro de seu interior oco, um segundo laptop - que ele terminou por abrir para revelar mais um laptop, menor e mais leve. Como em um conjunto de bonecas russas, mesmo o terceiro laptop servia apenas como revestimento para ainda outra máquina, mais esbelta.

    "Bem espetacular, não?", disse Weisler, um australiano dentuço e sorridente.

    Foi um truque visual impressionante -e com propósito. Na terça-feira, Weisler lançará publicamente um computador pessoal parecido com o mais esbelto que ele exibiu dentro do conjunto de laptops ocos, dotado de tela de 13,3 polegadas mas muito esguio. Com espessura de apenas 11 milímetros, ele disse, o novo modelo supera os melhores esforços da Apple e demonstra que os computadores da HP continuam a ser bacanas e inovadores. Na verdade, a HP produziu alguns desses novos laptops esbeltos em ouro e diamantes, e os venderá a US$ 25 mil por peça, doando o dinheiro para caridade. Os modelos devem ser lançados na New York Times Luxury Conference, em Paris.

    O novo laptop da HP, chamado Spectre, mostra até que ponto os fabricantes de computadores precisam ir para atrair a atenção dos consumidores. Além da HP, fabricantes como Dell e Lenovo estão injetando dinheiro no design de computadores de mesa e laptops, e desenvolvendo máquinas cada vez mais esguias, além de modelos "dois em um" com telas destacáveis que servem como tablets. Existem computadores que cabem no bolso, compreendem comandos de voz e gestos, ou sentem quando necessitam de reparos e se conectam sozinhos para ajustes automáticos.

    Mas à medida que os consumidores gravitam cada vez mais para os smartphones e tablets, como forma de atender suas necessidades de computação, avançando para a chamada "era pós-PC", o investimento em design e novas inovações feito pelos fabricantes pode render resultado zero. No ano passado, foram vendidos 289 milhões de computadores no planeta, uma queda de 8% ante as vendas de 2014, de acordo com o grupo de pesquisa Gartner.

    O declínio nas vendas foi apenas o mais recente dos últimos anos, nos quais o mercado de computadores vem enfrentando a carga dos smartphones e tablets, vistos como alternativas mais atraentes. A queda deve se nivelar este ano, e as vendas de computadores pessoais podem até começar a crescer lentamente a partir de 2017. Mas isso ainda deixa a responder a questão de se os computadores um dia voltarão a ser bacanas.
    Mesmo pessoas que dependem do setor de computadores hoje já não mostram paixão por esses produtos, um dia miraculosos. "Eles são só um dos muitos meios de usar a Internet, agora", disse Mikako Kitagawa, analista do Gartner, sobre os computadores. "As grandes empresas estão todas fazendo aparelhos praticamente iguais".

    Isso claramente é difícil de engolir, para o setor de computadores.

    "Ouço falar em era pós-PC e para mim isso é besteira", disse Jeff Clarke, presidente de soluções para clientes na Dell. "Vendemos um quarto de bilhão de aparelhos. A base instalada é de 1,9 bilhão de aparelhos. Talvez ninguém mais lhes dê importância, mas a inovação que vemos é sem paralelos".

    Weisler, que se tornou presidente-executivo da GP em novembro, quando a Hewlett-Packard original se dividiu em duas empresas - uma fabricando computadores e impressoras, a outra fornecendo tecnologia para companhias - diz não concordar em que os computadores se tornaram monótonos. Eles ainda podem ser objetos de fetiche, ele afirmou.

    "No geral, aparelhos como computadores, tablets e smartphones continuam a crescer, e também a mudar", disse Weisler, 48, que fez carreira trabalhando com computadores, na Acer e Lenovo, antes de ser contratado pela HP. "Pode-se criar novas categorias".

    Para tanto, Weisler elevou modestamente o investimento em pesquisa e desenvolvimento da HP e planeja novos aumentos de verba. Sob Meg Whitman, a antiga presidente-executiva da Hewlett-Packard, as impressoras e computadores pessoais "não recebiam investimento", disse Weisler. Ele também planeja fundir os negócios de computação pessoal e empresarial da HP, esperando dar mais prestígio aos computadores tanto nos lares quanto nos escritórios.

    Restam obstáculos para a realização da visão de Weisler. Quando a Hewlett-Packard era uma empresa gigante, seu valor de mercado era estimado em US$ 60 bilhões. Hoje, a HP e a segunda companhia de tecnologia para empresas, a Hewlett Packard Enterprise, valem cerca de US$ 53 bilhões.

    Boa parte do sofrimento aconteceu no setor de computadores. Não só a receita da HP em seu primeiro trimestre fiscal caiu em 12%, ante o ano passado, para US$ 12,2 bilhões, como sua margem operacional caiu em meio ponto percentual, para 7,6%, ante a média nacional de 10,7% de margem operacional do setor. Em resposta, Weisler acelerou os planos para demitir três mil dos 50 mil funcionários da HP.

    Mesmo assim, ele insiste em um brilhante futuro. Em um dia recente, ele mostrou os primeiros resultados de seus esforços na sede da empresa no Vale do Silício. Um aparelho que parecia um pequeno tablet ou grande smartphone podia na verdade ser qualquer dos dois, ou um computador de mesa, ou um laptop. O aparelho funciona por si só, ou pode ser afixado a um teclado e grande tela, funcionando como computador de mesa. Conectado sem fio a um teclado e tela dobrável, ele funciona como laptop.

    E apesar de todos os desafios, Weisler acredita que a HP possa prosperar quando a demanda por computadores se recuperar, e pode até subtrair parte do brilho que cerca a Apple - cujo valor disparou com base no iPhone - depois que o último dos computadores decorados com diamantes deixar sua mesa.

    "Há valor em produzir coisas próximas às pessoas e que compreendam coisas como as expressões faciais", ele disse. "Se o seu foco é criar para a ponta alta do mercado, seus outros aparelhos também melhoram".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024