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    Apps investem em robôs que falam com o usuário e até planejam festa

    BRUNO SCATENA
    DE SÃO PAULO

    11/04/2016 02h00

    Quando a Folha perguntou a Meeka se o amor existe, a organizadora de casamentos preferiu desviar da questão e ir direto ao ponto: não seria melhor falar do orçamento? Não que Meeka seja cínica ou desiludida. Na verdade, ela tem um pragmatismo autômato. Não se trata também de insensibilidade. É que Meeka, de fato, é um robô.

    A especialista em bodas faz parte de uma leva de ferramentas inspiradas nos assistentes virtuais, nos moldes de Siri (Apple), Cortana (Microsoft) e Now (Google). Com o mercado de aplicativos saturado, em que usuários usam cada vez mais um grupo pequeno de programas, desenvolvedores apostam na inteligência artificial para chegar ao consumidor –pelos apps que ele já está usando.

    "As pessoas estão acostumadas a usar o WhatsApp, o Messenger, então a gente optou por trabalhar com mensagens de texto", diz Márcio Acorci, cofundador do Mecasei.com, a plataforma para noivos que desenvolveu a Meeka. Por enquanto, ela usa um aplicativo próprio para conversar com o casal, mas a ideia, segundo Acorci, é que ela passe a usar aplicativos de mensagens. "Fizemos uma prova no Telegram e estamos esperando que as empresas abram suas plataformas."

    Reprodução
    Meeka, assistente pessoal para casamentos
    Meeka, assistente pessoal para casamentos

    Por enquanto, o WhatsApp não permite que bots (como são chamados os sistemas que simulam ações humanas) funcionem em seu sistema.

    Mas o Facebook já experimenta com o Messenger. Alguns desenvolvedores puderam integrar seus aplicativos à rede social. É o caso do Assist, que funciona como um intermediário robótico para uma série de serviços, como o Uber, o Foursquare e deliveries de comida. A ideia é que os robôs falantes sejam uma interface completamente nova a ser explorada.

    "É muito parecido com a explosão de oportunidades de negócio quando o navegador ou as redes sociais emergiram", diz Shane Mac, cofundador do Assist, que já recebeu US$ 4 milhões de investidores. "As pessoas querem as coisas feitas da maneira certa, rapidamente e com o mínimo de atrito. Bots serão muito fáceis de lidar, especialmente quando ficarem mais espertos."

    E eles já estão ficando. A plataforma de computação cognitiva Watson, da IBM, começou a ser desenvolvida em 2006. Cinco anos depois, a tecnologia venceu humanos no tradicional jogo norte-americano de perguntas e respostas "Jeopardy".

    "Nós treinamos o Watson com informações da Wikipedia", diz Thiago Rotta, que lidera a equipe do sistema no Brasil. "É claro que ele errou algumas coisas, mas ele informa especialistas quando isso acontece para que seja retreinado."

    REVOLUÇÃO ANTIGA

    A ideia de um sistema que aprenda e possa ser treinado é uma revolução recentemente acelerada por um guarda-chuva que abriga uma série de algoritmos chamado "deep learning" (aprendizado profundo).

    Os bots, na verdade, são tão antigos quanto o advento da computação moderna. Um teste desenvolvido por um dos pais dos computadores, o matemático Alan Turing, previa um conjunto de perguntas que uma máquina deveria responder sem que um humano identificasse estar falando com uma inteligência artificial.

    Um dos primeiros bots a passar no teste foi um programa chamado Eliza, criado entre 1964 e 1965 no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Era um robô dotado de capacidades primitivas de reconhecimento de padrões de linguagem que se passava por um médico ao perguntar os sintomas de humanos.

    Reprodução
    Robô Ed, criado pela Petrobras para educar sobre o ambiente
    Robô Ed, criado pela Petrobras para educar sobre o ambiente

    Eliza usava um sistema simples de scripts, que dá respostas genéricas ou responde com outras perguntas, dando a ilusão de inteligência. Mais ou menos como funciona o Robô Ed, criado em parceria com a Petrobras para ensinar economia de recursos naturais.

    Os novos bots são de outra natureza. Em vez de iludir, são capazes de captar intenções e agir segundo elas. É por isso que a Meeka e a Siri são boas para organizar orçamentos ou fazer ligações, mas se atrapalham com questões existenciais.

    "Toda vez que há uma digressão, tentamos voltar para o problema em questão", diz Matty Marianksy, gerente de produto do bot Meekan, que ajuda usuários a gerenciar suas agendas. Questionado se é possível chamar esses programas de inteligentes, Marianksy diz que não. "Mas há algumas coisas em que eles são melhores que os humanos."

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