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    EUA usam velho truque para combater o SMS ao volante

    MATT RICHTEL
    DO "NEW YORK TIMES"

    28/04/2016 14h52

    Brett Carlsen/The New York Times
    EUA tentam combater hábito de enviar SMS ao volante
    EUA tentam combater hábito de enviar SMS ao volante

    Nos últimos sete anos, a maioria dos Estados norte-americanos proibiu que motoristas leiam ou escrevam mensagens de texto ao volante, e campanhas de utilidade pública tentaram diversas táticas —entre as quais "deixe para mais tarde"— para persuadir as pessoas a não usarem o celular quanto estão por trás do volante.

    Mas o problema, de acordo com qualquer dos indicadores disponíveis, parece estar se agravando. Os norte-americanos confessam em pesquisas que continuam a escrever SMS enquanto dirigem, além de usar o Facebook e o Snapchat, e tirar selfies. O número de vítimas fatais de acidentes rodoviários, que vinha caindo há anos, agora vem crescendo acentuadamente, por 8% em 2015, ante o ano anterior, de acordo com estimativas preliminares.

    Isso acontece em parte porque as pessoas estão dirigindo mais, mas Mark Rosekind, o diretor da Administração Nacional da Segurança Rodoviária, disse que o costume de dirigir distraído "não para de crescer, infelizmente".

    "Mudança radical requer ideias radicais", ele declarou em discurso no mês passado, em uma referência ampla à necessidade de melhorar a segurança nas estradas.

    Para tentar mudar um comportamento distintamente moderno, legisladores e especialistas em saúde pública estão recuando a uma velha estratégia. Eles querem tratar os motoristas que distraem ao volante como tratam os motoristas embriagados.

    A Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, por exemplo, está desenvolvendo um novo esforço baseado em uma efetiva campanha que promove a ideia de que o motorista de um grupo não deve beber, veiculada nos Estados Unidos no final dos anos 80.

    Candace Lightner, fundadora da organização Mothers Against Drunk Driving [mães contra a embriaguez ao volante], ajudou a fundar este ano uma organização chamada Partnership for Distraction-Free Driving [parceria por dirigir sem distrações], que está circulando uma petição para pressionar companhias de mídia social, como o Facebook e o Twitter, a desencorajar o multitasking da parte de motoristas, da mesma forma que Lightner pressionou os fabricantes de cerveja e bebidas mais fortes a desencorajar a embriaguez ao volante.

    A ideia mais provocativa, de legisladores do Estado de Nova York, é equipar os policias com um novo aparelho que serviria como equivalente digital do bafômetro - um sistema de teste rodoviário chamado Textalyzer.
    O aparelho funcionaria assim: um policial que chegue à cena de um desastre pediria os celulares de quaisquer motoristas envolvidos, e usaria o Textalyzer para verificar o sistema operacional em busca de atividade recente.

    A tecnologia pode determinar se um motorista usou o celular para enviar SMS, e-mail ou fazer qualquer outra coisa proibida sob as leis de trânsito de Nova York, que requerem que os motoristas tenham as mãos livres ao guiar. Se o motorista envolvido em acidente se recusar a entregar o celular, pode ter sua carteira de motorista suspensa, uma consequência semelhante à que sofreria caso recusasse um teste com bafômetro.

    PRIVACIDADE

    O projeto de lei enfrenta dificuldades de aprovação, entre as quais preocupações referentes à privacidade. Mas Félix Ortiz, deputado estadual pelo Partido Democrata e um dos proponentes do projeto do Textalyzer, disse que ele não ofereceria à polícia acesso ao conteúdo dos e-mails ou SMS. O aparelho simplesmente permitiria que policiais identificassem que motoristas estavam distraídos ao dirigir, ele disse.

    "Precisamos de algo no nosso código legal que leve a uma mudança no comportamento das pessoas", disse Ortiz, que pressionou por uma proibição estadual, em 2001, ao uso de aparelhos de comunicação portáteis por motoristas. Se o projeto do Textalyzer se tornar lei, disse ele, "as pessoas terão mais medo de dirigir com o celular na mão".

    Se o projeto for aprovado em Nova York, o primeiro Estado a propor essa ideia, ela bem pode se espalhar, do mesmo modo que as leis que proíbem portar aparelhos portáteis nas mãos ao dirigir se espalharam pelo país desde que Nova York as adotou.

    Lightner disse que intensificar os esforços quanto à distração ao volante era "o equivalente à campanha contra a embriaguez ao volante" no começo dos anos 80, quando a pressão levou a leis mais duras e campanhas que enfatizavam a responsabilidade das empresas.

    A distração ao volante "não vem sendo tratada com a mesma seriedade da embriaguez ao volante, e deveria ser", ela disse.

    "É perigosa, devastadora, paralisante, e mata, mas continua a ser socialmente aceitável", ela acrescentou.

    A administração da segurança rodoviária planeja divulgar os números finais de mortes no trânsito na quinta-feira, mas já havia informado anteriormente que os números parecem ter crescido acentuadamente.

    Agora, a polícia pode obter um mandado que confere acesso aos registros de uso de celulares, mas o processo requer tempo e recursos, e limita a probabilidade de investigação, disse Ortiz. Mas essas proteções existem por bons motivos, de acordo com defensores da privacidade que se opõem ao projeto de lei do Estado de Nova York.

    "Isso é um convite a que a polícia apreenda celulares sem justificativa ou mandado", disse Donna Lieberman, diretora executiva da divisão da União Norte-Americana pelas Liberdades Civis em Nova York.

    Uma decisão unânime da Suprema Corte federal norte-americana em 2014 determinou que a polícia não podia extrair informações de um celular sem mandado, mesmo depois de uma prisão, o que tornará difícil a batalha pela aprovação do projeto no Legislativo estadual de Nova York.

    Mas os autores do projeto dizem que basearam o conceito do Textalyzer na mesma teoria legal de "consentimento implícito" que autoriza a polícia a usar o bafômetro. Quando um motorista obtém uma carteira de habilitação, ele está consentindo com antecedência a um teste com bafômetro, sob pena de ter sua habilitação suspensa.

    APOIO POPULAR

    Matt Slater, chefe de gabinete do senador estadual Terrence Murphy, republicano e um dos proponentes do projeto, disse que as preocupações constitucionais podem e devem ser resolvidas. "Seria monumental, se conseguíssemos aprovar o projeto", ele disse.

    Slater afirmou que espera que isso possa acontecer ainda na atual sessão, que se encerra em junho, mas, acrescentou, talvez sejam necessárias mais tentativas, e buscar apoio do público.

    "Estamos enfrentando os mesmos obstáculos que enfrentamos no caso da embriaguez ao volante", ele disse. "Estamos tentando garantir que a segurança e as liberdades civis sejam igualmente protegidas".

    Deborah Hersman, presidente do Conselho Nacional de Segurança, uma organização sem fins lucrativos, disse que gostava da ideia do Textalyzer porque isso daria uma ferramenta importante para a polícia, e ajudaria a obter estatísticas sobre o número de colisões causadas por distrações.

    Ela disse que a comparação entre o Textalyzer e o bafômetro era válida porque usar um celular, ou olhar a tela atentamente, pode ser tão perigoso quanto dirigir bêbado.

    "Por que estamos fazendo uma distinção entre uma substância que você consome e uma que consome você?", disse Hersman.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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