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    Com crise e inflação, Buenos Aires lidera em bitcoin na América Latina

    LUCIANA DYNIEWICZ
    DE BUENOS AIRES

    04/07/2016 02h00

    Luciana Dyniewicz /Folhapress
    28.abr.2016 Legenda: Café Bitcoffee, no centro de Buenos Aires, que aceita pagamentos em bitcoin Foto Luciana Dyniewicz /Folhapress ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Café Bitcoffee, no centro de Buenos Aires, que aceita pagamentos em bitcoin

    As várias crises financeiras pelas quais a Argentina já passou e a inflação historicamente elevada tornaram Buenos Aires uma campeã latino-americana do mundo do pagamento tecnológico.

    A cidade tem hoje o maior número de estabelecimentos da região que aceitam bitcoins, moedas digitais que circulam sem o controle de um banco central.

    O coinMap, site na internet que indica lugares que trabalham com a moeda virtual, mostra que 126 negócios aceitam o meio de pagamento na Grande Buenos Aires. Em São Paulo, são 34. No Rio, 11, e, em Aracaju, surpreendentes 50 –o mercado da cidade do Nordeste se desenvolveu impulsionado por uma empresa, a Rexbit, que ensina as pessoas a usar bitcoins.

    Em Buenos Aires, o crescimento decorreu de outros fatores. Além das constantes crises econômicas argentinas e da inflação –que fizeram as pessoas procurarem formas diferentes para proteger suas riquezas–, a restrição à compra de moeda estrangeira que vigorava até 2015 também favoreceu a moeda alternativa.

    A avaliação é do economista Garrick Hileman, pesquisador da Universidade de Cambridge e da London School of Economics, que elaborou, em 2014, um ranking dos países mais propensos a adotar o meio de pagamento. A Argentina ficou em primeiro lugar –o Brasil, em 17º.

    Luciana Dyniewicz /Folhapress
    Taxi de Buenos Aires que aceita pagamentos em bitcoin Foto: Luciana Dyniewicz /Folhapress ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Táxi de Buenos Aires que aceita pagamentos em bitcoin

    Diferentemente do Brasil, onde a negociação de bitcoins é feita sobretudo para especular, na Argentina a moeda é usada por empresas pequenas (para as quais as taxas do cartão têm forte peso) e por companhias com funcionários e fornecedores em várias países. Para essas, a vantagem é não ter de trabalhar com diferentes tipos de câmbio e evitar o custo de transferências.

    "Para as pequenas, também é positivo o fato de o dinheiro ser transferido instantaneamente de conta para conta. Não tem que esperar 30 dias, como no cartão", diz Gutiérrez Zaldívar, presidente da ONG Bitcoin Argentina.

    Daniel Alof, dono do bar e restaurante AntiDomingo, diz que guarda todas as bitcoins que recebe. "Uso como poupança, até porque o volume não é grande. São, em média, três transações semanais."

    A grande vantagem, diz, é a publicidade: estar no coinMap atrai estrangeiros.

    Segundo o professor Marcelo Minutti, do Ibmec, as bitcoins são bastante seguras, sendo quase impossível falsificá-las. A desvantagem, diz, é o fato de o segmento ainda ser incipiente.

    Para o vice-presidente do banco central argentino, Lucas Llach, porém, há outros inconvenientes, como a instabilidade da moeda decorrente da falta de um governo que a regule. O economista, que já dedicou vários artigos ao assunto, também destaca que os valores transacionados são irrelevantes. "A bitcoin é algo de nicho."

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    ENTENDA O BITCOIN

    O que é?
    "Moeda" virtual que não é emitida nem lastreada por bancos centrais. Todas as transações são registradas na rede bitcoin, e a identidade dos usuários é sigilosa

    Como funciona?
    É obtida em uma rede de "mineração" on-line: o usuário baixa um programa que cede o poder de seu computador para processar problemas de criptografia e matemática. Podem ser trocadas e compradas em dinheiro real

    Quando surgiu?
    Criada em 2008 por um internauta de pseudônimo Satoshi Nakamoto

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