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    iPhone 7 deve ter fone de ouvido sem fio e ser à prova d'água

    DAVID STREITFELD
    DO "NEW YORK TIMES", EM SAN FRANCISCO

    06/09/2016 12h51

    Se as coisas fossem como a Apple quer, esta semana seria mais ou menos como a semana do Natal para uma criança de cinco anos de idade —primeiro, antecipação inacreditável. Depois, grande surpresa. No fim, imensa satisfação.

    Quando o mais recente iPhone for mostrado pela primeira vez, quarta-feira (7), em um auditório lotado com 7.000 espectadores em San Francisco, no entanto, a sensação será mais a do Natal de um moleque curioso de 10 anos de idade que descobriu há algum tempo qual será o seu presente: "Obrigado. É só isso?"

    Quem quer que se preocupe com o iPhone a ponto de saber que o novo modelo sai neste mês já está informado sobre o que ele teoricamente contém: um smartphone um pouco mais fino, um pouco mais rápido e, no modelo Plus, equipado com câmeras superiores.

    Mas o recurso mais controverso será aquele que estará faltando: um conector para fone de ouvido. Elemento padrão da tecnologia, disponível desde 1878, quando foi inventada a mesa telefônica manual, o conector aparentemente seguirá o caminho dos disquetes e dos mapas dobráveis. O futuro não terá fio.

    Sabemos dessa potencial ausência graças a uma cadeia mundial de informações que acompanha a cadeia de suprimento e a base industrial que fabrica os produtos da Apple. Essa cadeia paralela tem por objetivo investigar rumores sobre a empresa: promovê-los, discuti-los, discuti-los mais um pouco —tudo isso antes que se tornem fatos.

    Essa fábrica de rumores é tanto uma vantagem quanto um fardo para a Apple, um sinal de que a companhia não perdeu seu toque mágico, mas um alerta de que todos estarão de guarda quando isso acontecer. Nenhuma outra companhia é acompanhada com persistência tão incansável.

    Evolução do iPhone

    Sob o comando do cofundador Steve Jobs, a Apple curtia essa capacidade de manter as notícias sob controle, e se esforçava imensamente, em termos jurídicos e de outras maneiras, para garantir que as coisas não mudassem, nessa frente. "Há uma coisa mais, e conseguimos mantê-la em segredo", exultou Jobs em 1999 ao lançar iMacs em cores como azul e tangerina. "Pode ser difícil de acreditar, mas conseguimos".

    Foi uma ambição que seu sucessor, Tim Cook, destacou que gostaria de manter, em uma conferência quatro anos atrás. "Vamos redobrar o sigilo quanto aos nossos produtos", ele afirmou.

    Mas as coisas não funcionaram exatamente como ele gostaria.

    "Quando Steve Jobs estava no comando, havia sempre a esperança de que ele pudesse nos surpreender", disse Gene Munster, analista especializado em tudo que se refere à Apple. "Hoje, essa esperança praticamente desapareceu".

    A longa estrada para o lançamento desta semana começou em novembro, menos de três meses depois que o iPhone 6 chegou ao mercado, com vendas recorde em seu primeiro final de semana no varejo. O site japonês Mac Otakara, considerado como fonte em geral confiável de informações e bem conectado com fábricas que produzem o celular, escreveu sobre a remoção do soquete de fone de ouvido no novo iPhone, sob a rubrica "rumor".

    Para as pessoas que não querem viver sem fio, a reportagem afirmava, fones de ouvido com fios poderiam ser conectados ao iPhone por meio do Lightning, um conector da Apple usado comumente para carregar a bateria. Os fones de ouvido tradicionais provavelmente continuariam a funcionar por meio de um conversor.

    Era uma notícia grande. "Os fones de ouvidos são uma das funções mais básicas, e assim essa informação é algo que afetará usuários de todos os tipos", disse Eric Slivka, editor chefe do site MacRumors.com. "Eu sabia imediatamente que o assunto seria extremamente controverso até o momento do lançamento".

    Um post no site MacRumors, baseado na reportagem do Mac Otakara, incluía um alerta que começava pelo texto "caso esse rumor se confirme". O post recebeu 1.100 comentários de fãs da Apple que não tinham dúvida de que o boato fosse verdade e em geral não apreciavam a ideia de um aparelho sem conector para os fones de ouvido. No passado, um celular era como um tijolo, mas perder o soquete para que o iPhone possa ser ainda mais fino era visto por alguns como uma má barganha.

    "Se ele ficar ainda mais fino, se perderá para sempre no contínuo espaço-temporal", brincou uma das pessoas que comentou.

    O MacRumors existe para essa espécie de momento. O mesmo vale para sites como AppleInsider, Cult of Mac, 9to5Mac e outros sites em diversos idiomas, todos os quais reproduziram a notícia e a discutiram ainda mais. Nas seis semanas seguintes, ajudada por novas reportagens publicadas em blogs chineses, a mídia convencional também apanhou o assunto.

    FONES SEM USO

    Um artigo no Fast Company, escrito em tom de exagero, trazia o título "será que a Apple está se preparando para matar o nosso amado soquete de fone de ouvido?"

    Pelo começo de janeiro, o clima era febril. Uma petição on-line na SumofUs.org, assinada por mais de 300 mil pessoas, atacava a Apple por criar "mais lixo eletrônico" —presumivelmente os fones de ouvido que não terão mais uso quando o iPhone mudar, e terão de ser jogados fora.

    Alguns comentaristas explicaram que mesmo que as pessoas usem adaptadores para seus velhos fones, estariam tendo de consumir mais. Outros comentaristas apontaram que todo mundo se queixava que a Apple havia deixado de inovar, e que agora estavam se queixando de uma inovação.

    Depois veio o rumor de que o soquete de fone de ouvido não seria retirado, enfim. O site chinês Mydrivers.com publicou uma foto do que disse ser o interior do novo iPhone, e o soquete estava lá. "Será que a indústria do rumor estava mentindo para nós?", questionou o Cult of Mac. "Certamente não!"

    Duas semanas atrás, com o volume dos comentários em alta dada a aproximação da data do lançamento, até mesmo o outro cofundador da Apple, Steve Wozniak, decidiu se pronunciar. "Se o soquete de 3,5 milímetros para o fone de ouvido for retirado, muita gente vai se irritar", ele disse em entrevista à revista "Australian Financial Review". Mas acrescentou, em tom conciliador: "Veremos. A Apple é boa no que tange a avançar rumo ao futuro, e vou gostar de acompanhar o que acontece".

    Talvez seja melhor estar ciente do que o futuro reserva do que ter de encará-lo sem aviso. "Nós servimos para atenuar os golpes", disse Neil Hughes, editor executivo do AppleInsider. "Imagine se ninguém soubesse e a Apple simplesmente aparecesse com essa bomba na quarta-feira. As pessoas perderiam a cabeça".

    A Apple, que se recusou a comentar para este artigo, provavelmente tem opinião diferente. No final de 2004, processou diversos sites, entre os quais o AppleInsider, afirmando que ao postarem detalhes sobre produtos ainda não lançados eles estavam comerciando propriedade roubada. No começo, a Apple teve sucesso na Justiça, mas a decisão foi abruptamente revertida no recurso. A empresa teve de pagar US$ 700 mil em custas judiciais dos sites, e saiu da história parecendo ditatorial.

    Por diversos anos, a Apple tinha à venda na loja de sua sede em Cupertino, Califórnia, uma camiseta com os dizeres "visitei o campus da Apple. Mas não posso contar mais nada". Uma recente apresentação da empresa zombava das extensas medidas de segurança que ela adota. Mas mesmo que brinque um pouco às próprias custas, sua filosofia não mudou.

    "Você se lembra de quando era criança, e a noite da véspera de Natal era empolgante? Você nunca sabia o que estava acontecendo no andar de baixo", disse Cook, quando perguntado sobre os rumores de um carro da Apple, durante a assembleia geral de acionistas da empresa em fevereiro. "Bem, por aqui a véspera de Natal vai durar um bom tempo".

    A Apple pode ser a empresa mais rica do mundo, e possivelmente a mais bacana, mas isso não deveria impedir que tenhamos pena dela por um instante. Precisa continuar criando iPhones empolgantes a ponto de milhões de pessoas quererem comprar um modelo novo de imediato. A Apple depende disso. Jamais uma empresa tão grande e tão influente esteve tão presa a um só produto.

    E esse produto, que recentemente atingiu a marca do bilhão de unidades vendidas, pode ter chegado ao ponto de saturação. A Apple vendeu 40,4 milhões de iPhones no trimestre passado, uma queda ante os 47,5 milhões de unidades vendidas no segundo trimestre de 2015. Foi o segundo trimestre consecutivo de declínio.

    "Acho que o iPhone chegou ao pico", disse Seth Weintraub, do 9to5Mac.

    Mas só por enquanto. Enquanto os fiéis da Apple esperam para ver a confirmação de todos aqueles boatos, já começaram as especulações quanto ao modelo do ano que vem. Será o 10º aniversário do iPhone, o que significa que haverá mais em jogo.

    "A esperança é de que a Apple esteja colocando força total no desenvolvimento", disse Weintraub. "Ouvimos dizer que eles querem que o aparelho pareça um esguio bloco de vidro. Será um marco, algo de realmente importante".

    Presumindo, claro, que os rumores se comprovem.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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