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    Decisão da Apple de apostar em fones de ouvido sem fio causa ira e paródias

    DO "FINANCIAL TIMES"

    08/09/2016 12h06

    Por meses, os observadores que acompanham a Apple estavam intrigados sobre como a empresa venderia aos consumidores a ideia de que abandonar a entrada para fone de ouvido do iPhone seria benefício e não incômodo. Muitos especialistas previam reação adversa sobre o abandono de uma tecnologia que, embora velha, continua fielmente a prestar serviços todos os dias a centenas de milhões de pessoas.

    Pouca gente, porém, previa o tipo de reação que a Apple provocou durante o evento de lançamento do iPhone 7, na quarta-feira (7).

    Na preparação de seu anúncio, a Apple tinha ampla experiência em que se basear quanto a conduzir esse tipo de transição.

    Em 2008, quando Steve Jobs tirou o Macbook Air de um saco de papel pardo, o novo modelo de laptop não incorporava o drive de CDs que era padrão em outros computadores, o que permitia que fosse muito mais fino que os laptops rivais.

    Evolução do iPhone

    Jobs previu —e tinha razão— que o software e mídia em breve passariam a ser baixados da Internet, em vez de serem distribuídos em discos. "Não acreditamos que os usuários venham a sentir falta do drive óptico", ele afirmou. "O Macbook Air foi criado para ser uma máquina sem fio".

    O iPhone, que tinha apenas um ano de idade àquela altura, também foi criado para funcionar sem fio. Mas o soquete de 3,5 milímetros para conexão de fone de ouvido, com fio, perdurou graças à sua simplicidade, confiabilidade e compatibilidade universal.

    Quando Phil Schiller, o vice-presidente de marketing da Apple, subiu ao palco em San Francisco na quarta-feira, ele descreveu a porta de fone de ouvido como uma ressaca do século 19 que continuava a prejudicar o progresso no século 21.

    "Nossos smartphones estão carregados de tecnologia, e todos queremos mais", o que significa remover alguns componentes para permitir baterias maiores e processadores mais rápidos, ele disse. "O motivo para ir em frente se resume a uma palavra: coragem —a coragem de avançar, de fazer algo novo que melhora todos nós. E nossa equipe tem imensa coragem".

    Se Schiller estava tentando evitar reações adversas, seu discurso talvez tenha fracassado. Diante daquilo que muita gente viu como novo exemplo de arrogância da parte da Apple, as redes sociais não demoraram a reagir com uma mistura de incompreensão, indignação e paródia.

    "Remover uma entrada de fone de ouvido não requer coragem. Mas cobrar US$ 159 por um AirPod requer", comentou no Twitter Dave Pell, investidor e desenvolvedor de apps para o sistema operacional iOS, da Apple, se referindo aos caros fones de ouvido sem fio que a Apple lançou em companhia do iPhone 7.

    Alex Wilhelm, editor-chefe do Watermark, um site que acompanha empresas iniciantes de tecnologia, comentou no Twitter que "eu gostaria de ter a coragem de ser um cara branco super rico no Vale do Silício, trabalhando para a empresa mais valiosa do planeta #bravura".

    Mike Monteiro, diretor de criação do Mule Design, um estúdio de San Francisco, postou imagens de figuras históricas como Mahatma Gandhi, Rosa Parks e Anne Frank com AirPods nos ouvidos, com a ajuda do PhotoShop. As imagens, com cara de publicidade, portavam todas a legenda "coragem".

    Por trás da zombaria estava a sensação de que, mesmo que os fones de ouvido tenham som superior ao dos concorrentes, a motivação da Apple era primordialmente comercial.

    "Esse tipo de decisão representa o desejo da Apple de restaurar suas receitas em queda no segmento de aparelhos móveis ao capturar o máximo possível dos gastos dos donos de smartphones no florescente mercado de acessórios de áudio", disse Paul Erickson, analista da IHS Technology, uma empresa de pesquisa. "Devemos ressaltar que os modelos sem fio são os produtos que geram mais receita no mercado de fones de ouvido".

    Os novos AirPods da Apple são acionados pelo novo chip W1 da empresa, e tiram vantagem da equipe interna de projeto de chips da companhia e de sua capacidade única para integrar times de hardware, software e serviços sob um mesmo teto.

    Embora o W1 tome por base a tecnologia de comunicação Bluetooth, o padrão do mercado para transmissão de dados sem fio, até agora apenas os AirPods da Apple e os fones de sua subsidiária Beats estão habilitados a usá-los e aproveitar uma instalação mais fácil e conexão mais confiável. Erickson disse que isso levará mais consumidores a comprar acessórios produzidos pela Apple, de preferência a produtos de terceiros.

    GANHOS

    Se essa abordagem fechada incomoda alguns dos luminares do mundo digital, ela talvez seja bem vinda em Wall Street, já que os acessórios são uma porção com alta margem de lucro nos negócios da Apple.

    Geoff Blaber, analista da CCS Insight, prevê que a adoção do áudio sem fio será no futuro vista como "golpe de mestre", graças aos benefícios tanto para os usuários quanto para as vendas de acessórios da Apple.

    "Seria muito difícil para qualquer outra marca convencer um consumidor de que tornar seus fones de ouvido existentes completamente incompatíveis com um novo aparelho é positivo em longo prazo", diz Blaber —mas ele acredita que Apple vá conseguir fazê-lo.

    A preocupação imediata da maioria dos consumidores é atenuada pela inclusão de novos fones de ouvido que funcionam com a porta restante do iPhone, a porta Lightning, bem como um adaptador para os fones de ouvido tradicionais.

    "Se estamos pedindo que os fabricantes levem adiante a evolução do design de smartphones, aceitar compromissos sempre será necessário", acrescenta Blaber.

    Um benefício chave que a Apple atribui à remoção da porta de fone de ouvido é uma bateria maior para o iPhone 7, o que ajuda a resolver aquilo que pesquisas apontam como maior frustração dos consumidores quanto aos smartphones. Os novos aparelhos terão uma ou duas horas a mais de bateria por dia, a depender do modelo, afirmou a Apple.

    Mas a despeito da adoção provocativa da tecnologia sem fio de áudio e da melhora da duração das baterias, os comentaristas estão divididos quanto ao iPhone 7 —cujo design se assemelha bastante ao de seus dois predecessores— representar ou não verdadeira inovação, para a Apple.

    "Os especialistas estavam errados: o iPhone 7 e o iPhone 7 Plus são um grande avanço, e não um pequeno avanço", disse Patrick Moorhead, da Moor Insights, uma consultoria do Vale do Silício, graças a melhores que variam dos processadores e tela ao novo botão home, redesenhado, e ao fato de que agora o aparelho é à prova de água.

    "Há pouco de que não gostar nesse modelo, mas também há pouco que amar", rebate Jefferson Wang, sócio sênior da IBB Consulting, que assessora empresas de tecnologia, mídia e telecomunicações. O "iPhone 7 nem começou a ser vendido e o mercado já está à espera da próxima versão".

    As mudanças que chamam mais a atenção no iPhone 7 —os fones de ouvido e uma nova câmera com lente dupla— podem se provar precursores essenciais de passos mais radicais, no ano que vem e no futuro, como carga sem fio ou telas que circundam o aparelho.

    Talvez a Apple saiba que vai perder a discussão sobre os fones de ouvido sem fio, mas foi adiante do mesmo jeito sabendo que poderá compensar os compradores no futuro.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Novos iPhones e a concorrência

    VELHAS NOVIDADES - Apple lança nova geração de iPhones

    CONCORRENTES

    Quais são as principais mudanças
    > Fim da entrada de fone de ouvido
    > AirPods (fones de ouvido sem fio)
    > Resistência à água e à poeira
    > Botão home deixa de ser clicável
    > Duas câmeras traseiras (no 7 Plus) e flash com quatro LEDs

    Características dos aparelhos
    > Processador A10 Fusion
    > Sistema operacional iOS 10
    > Cores: rosa dourado, dourado, prateado, preto fosco e brilhante
    >Armazenamento: 32 GB, 128 GB e 256 GB (fim da versão com 16 GB)

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