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    Seu próximo par de sapatos pode vir de uma impressora 3D

    CONSTANCE GUSTKE
    DO "NEW YORK TIMES"

    15/09/2016 14h39

    Tara Pixley/The New York Times
    Sapatos impressos em 3D na loja da Feetz em San Diego, Califórnia
    Sapatos impressos em 3D na loja da Feetz em San Diego, Califórnia

    A linha de montagem da Feetz conta com 100 impressoras 3D em constante atividade. O propósito único delas é fabricar sapatos.

    As impressoras têm os nomes de personagens de quadrinhos —Mulher Maravilha, Scooby Doo. Apesar do tom brincalhão, as impressoras, que custam US$ 5.000 cada, têm por objetivo revolucionar o varejo de massa, produzindo cada par de sapatos sob encomenda e a baixo custo.

    "Somos a tecnologia, chegando para ajudar", disse Lucy Beard, presidente-executiva da Feetz, uma start-up criada dois anos atrás em San Diego. "Vi impressoras 3D em uma revista e pensei que elas permitiam personalização em massa".

    Cada impressora pode ser reprogramada para produzir tamanhos diferentes, e a produção de um par de sapatos pode demorar 12 horas. A empresa, que começou recentemente a vender seus produtos, só tem 15 funcionários.

    Mas Beard, 38, que antes trabalhava com cálculo atuarial, planeja um futuro em que sapatos serão impressos em menos de uma hora. Com custos baixos de mão de obra e transporte, e sem estoques, a Feetz oferece margem de lucro de 50% sobre cada par de sapatos vendido, ela acrescentou.

    Os pedidos são feitos on-line, e os compradores podem baixar um app, tirar fotos de seus pés com seus smartphones e criar um modelo em 3D da imagem. Os sapatos, que custam US$ 199, são feitos de materiais reciclados e fortemente acolchoados para oferecer mais conforto.

    Com a ascensão de novas tecnologias como os smartphones e as impressoras 3D, empresas iniciantes de moda como a Feetz estão mudando a maneira pela qual bens são encomendados, produzidos e vendidos.

    Como Beard, diversas fundadoras dessas companhias não têm histórico na moda. Em lugar disso, consideram a tecnologia como resposta aos bens produzidos em massa, em tamanho padronizado, que a geração milênio vem rejeitando cada vez mais. Os consumidores que usam tamanhos difíceis de encontrar —pequenos demais, ou grandes e altos demais— verão mais facilidade em suas compras.

    Tradicionalmente, a fabricação é a parte mais dispendiosa na cadeia de suprimento do varejo. Criar bens em pequenos lotes é difícil e dispendioso. A maioria deles são fabricados no exterior, e o transporte dos produtos aos Estados Unidos aumenta o tempo e o custo do processo. Assim, até mesmo a "moda rápida" pode demorar seis semanas a levar um produto às lojas.

    Tara Pixley/The New York Times
    Lucy Beard, presidente da Feetz, empresa de tecnologia que produz sapatos com materiais reciclados
    Lucy Beard, presidente da Feetz, empresa de tecnologia que produz sapatos com materiais reciclados

    A beleza da moda instantânea e personalizada, dizem os especialistas, é que os produtos podem ser fabricados a menor custo, e mais rápido, e ainda assim ter estilo personalizado.

    Ainda que o desordenamento seja uma ideia quente no mundo da tecnologia, nem todo mundo está convencido de que esse tipo de inovação vá revolucionar a moda. James Dion, consultor de moda em Chicago, disse que considerava a moda personalizada como uma "onda passageira", com apelo limitado.

    E o setor já conta com um grande fracasso, a Tinker Tailor, que produzia roupas de luxo para mulheres, mas fechou as portas no ano passado porque não conseguiu capital adicional.

    Os dias da impressão 3D estão apenas começando, disse Uli Becker, antigo presidente-executivo da Reebok e investidor na Feetz. As ofertas não são muito diversificadas e se limitam a produtos básicos. E ainda não há como imprimir tecidos. Mas ele vê grande potencial na impressão 3D.

    "Será possível começar a produzir nos Estados Unidos", ele disse. "As instalações de produção podem estar no mesmo lugar em que você vende o produto, o que cria empregos".

    E a tecnologia melhora a cada mês, além disso, acrescentou Becker.

    "Estamos vivendo o equivalente dos anos 80, quando os celulares tinham o tamanho de uma valise, com fones do tamanho de um tijolo", ele disse. "No futuro, o comprador irá a um show room, escolherá on-line o que deseja e o produto será impresso na hora", ele disse.

    Fabricantes de calçados personalizados, como a Feetz, também tornarão obsoleta a ideia de experimentar sapatos em uma loja, dizem os especialistas.

    "Dentro de 10 anos, a pessoa não precisará experimentar um par de sapatos fisicamente", disse Beard.

    Essa promessa está fazendo com que o Vale do Silício preste atenção ao segmento.

    "Estamos em busca de empresas capazes de usar tecnologia avançada", disse Vijit Sabnis, sócio do fundo de capital para empreendimentos Khosla Ventures e investidor na Feetz. "E os geeks e os nerds a estão desenvolvendo. A Feetz, por exemplo, pode mudar nossa experiência de compra de produtos".

    Os bens de varejo um dia serão produzidos por robôs e impressoras 3D, ele disse. E serão produzidos em centrais e não em grandes fábricas.

    "Nós nos livraremos dos custos de transporte, e a cadeia de suprimento será repensada", ele disse. "É um processo muito bacana".

    A Khosla Ventures também investiu em start-ups de moda que usam outras tecnologias que não a impressão 3D. Uma delas é o Shoes of Prey, site que permite que compradores escolham cores e estilos de sapatos femininos, em muitos casos por menos de US$ 200. Outro de seus investimentos, a MTailor, fabrica camisas masculinas e ternos personalizados, tirando medidas via smartphone. O preço das camisas começa em US$ 69.

    CAMISA PERSONALIZADA

    Mesmo a humilde camiseta está sendo reinventada. A Teespring, fundada em 2011, embarcou mais de 20 milhões de camisetas personalizadas, no ano passado. Ela permite que qualquer pessoa desenhe uma camiseta personalizada com mensagens sobre assuntos como café, ioga e futebol americano, e as venda aos consumidores.

    "Somos uma empresa de tecnologia que cria camisetas", disse Walker Williams, 27, presidente-executivo da Teespring, que criou a empresa em sociedade com Evan Stites-Clayton, seu colega na Universidade Brown. "O futuro da moda está nas marcas menores, que estabelecem relacionamentos com o consumidor".

    No futuro, eles planejam oferecer roupas personalizadas. A Teespring recebeu investimentos de grupos de capital para empreendimentos como a Andreessen Horowitz, Khosla Ventures e Y Combinator, em valor total de US$ 56 milhões.

    A companhia criou sistemas próprios de produção em uma fábrica no norte do Kentucky, no passado usada para produzir helicópteros. De seus 400 funcionários, 40 fazem parte da equipe de engenharia, criando tecnologia patenteada para a impressão rápida de pequenos lotes de camisetas. As margens de lucro são mínimas, reconhece Walker, mas estão subindo.

    "Qualquer um pode dar vida a uma ideia criativa sem ter de ser especialista em varejo", disse Lars Dalgaard, sócio geral da Andreessen Horowitz. Por isso os consumidores agora podem se expressar de uma maneira que "era impossível no passado", ele acrescentou.

    Uma área promissora é a moda feminina personalizada. Shelly Madick e Aubrie Pagano, que se conheceram quando estudavam na Universidade Harvard, criaram a Bow & Drape.

    No ano passado, a empresa criou uma pop-up store de personalização em uma loja da rede Nordstrom. Os clientes podiam criar seus produtos com um iPad e retirá-los no mesmo dia.

    "Foi um grande sucesso", disse Pagano, presidente-executiva da companhia, e "neste ano vamos montar lojas em 18 locais da rede Nordstrom e junto a outros varejistas".

    Depois de uma campanha bem sucedida de capitalização no Kickstarter, a empresa até agora levantou US$ 2,6 milhões de investidores como a VTF Capital, criada por Tony Hsieh, o fundador da Zappos. O faturamento no ano passado foi de US$ 1,2 milhão, e a empresa começará a apresentar lucro em 2017, de acordo com Pagano.

    Como no caso de qualquer setor jovem, houve tropeços. A Bow & Drape estava usando impressoras 3D para produzir fivelas de cintos de US$ 100, em aço inoxidável, mas abandonou o esforço por conta da baixa demanda.

    "On-line, nossos clientes não podiam pagar esse tipo de preço", disse Pagano.

    Por isso, a empresa agora não faz impressão 3D. Em lugar disso, a personalização é realizada na fábrica que produz as roupas, com uma prensa a quente.

    A tecnologia também está ajudando as start-ups a aperfeiçoar suas ofertas com recursos de análise de dados e algoritmos. A Stantt, uma start-up de Nova York, oferece camisas masculinas em 75 tamanhos com base em apenas três medidas, guiada por um algoritmo.

    Os fundadores, antigos gerentes de marcas na Johnson & Johnson, já levantaram US$ 2,1 milhões junto a investidores iniciais.

    As camisas são fabricadas em um dia, na América Central. Mas porque não há intermediários e nem estoque não aproveitado, a Stantt consegue vender suas camisas por preços mais baixos que os de outros produtores personalizados. As camisas sociais, por exemplo, têm preço a partir de US$ 98.

    "Não somos uma marca de moda", disse Matt Hornbuckle, 31, presidente-executivo e cofundador da Stantt. "Estamos criando algo melhor: o guarda-roupa perfeito".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa
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