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    Em evento anual, Facebook aposta no apelo da realidade aumentada

    YURI GONZAGA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SAN JOSÉ (EUA)

    18/04/2017 19h20

    Jae C. Hong/Associated Press
    Visitante testa Oculus Rift, de realidade virtual, durante a feira CES de 2014, em Las Vegas
    Visitante testa Oculus Rift, de realidade virtual, durante a feira CES de 2014, em Las Vegas

    O Facebook revelou nesta terça-feira (18) uma guinada rumo às tecnologias de realidade aumentada, que une elementos virtuais ao mundo físico e que poderão ser usadas por usuários da rede social em breve.

    O presidente-executivo da companhia, Mark Zuckerberg, disse durante seu maior evento anual que a tecnologia seria capaz de "construir comunidade" (o mote desta edição da conferência), mitigar a "bolha" de opiniões e tornar atividades corriqueiras mais "compartilháveis".

    O evento, chamado F8, é realizado ao mesmo tempo em que a rede social pede desculpas e tenta explicar como um usuário americano pôde publicar, na semana passada, um vídeo em que ele matava a tiros um desconhecido em Cleveland.

    "Vamos fazer tudo o que pudermos para evitar que tragédias como esta aconteçam novamente."

    Em 2014, o Facebook adquiriu a Oculus VR, empresa de realidade virtual (tecnologia que isola do mundo real o seu usuário) que vende um visor do tipo por cerca de R$ 1.900 nos EUA. Mas a ideia é que as novidades não estejam confinadas a óculos grandes e desconfortáveis, mas sim que habitem as câmeras de celular.

    Justin Sullivan/AFP
    Mark Zuckerberg, em evento do Facebook na Califórnia
    Mark Zuckerberg, em evento do Facebook na Califórnia

    "Já vimos versões primitivas do que imaginávamos que seria [e que pode ser] o dispositivo [ideal] de realidade aumentada, em óculos que sobrepõem informação não disponível no mundo real", disse Zuckerberg.

    Segundo o executivo, o que existe de realidade aumentada hoje é desprezado por grande parte das pessoas simplesmente pelo fato de ser pouco sofisticada. Ele citou o exemplo de texto sobre fotos e vídeos, o jogo Pokémon Go e filtros animados.

    "Isso é um primeiro passo —há coisas muito mais malucas vindo." Zuckerberg diz que não só programadores mas qualquer usuário poderá criar filtros, bordas e máscaras animadas para vídeos e videochamadas no Facebook.

    A ideia é também impulsionar o envio de conteúdo pessoal para a rede.

    "Fazemos muitas coisas corriqueiras de que temos orgulho, como correr, arrumar a casa ou trocar fraldas, mas que não achamos dignas de serem compartilhadas", disse. Isso seria transformado com a adição dos elementos de realidade aumentada.

    Com o Facebook Spaces, liberado hoje junto com outras ferramentas para desenvolvedores, usuários do aparelho Oculus Rift poderão se conectar em um "locus" da rede social que poderá ser totalmente digital ou baseado em um ambiente físico, como uma sala ou quintal.

    Avatares encarnariam seus respectivos donos, e elementos como texto, fotos, vídeos e aplicativos poderiam ser empregados na ferramenta. Então, os usuários poderiam desenhar, viajar virtualmente e até tirar "selfies".

    Videochamadas também poderão ter filtros animados e tridimensionais, tais quais os já usados no Snapchat (empresa que anunciou também nesta terça novas capacidades desse tipo), no Instagram e no Facebook Stories.

    Reprodução
    Mark Zuckerberg, presidente do Facebook, na conferência F8
    Mark Zuckerberg, presidente do Facebook, na conferência F8

    Outra capacidade que foi demonstrada por Zuckerberg, que já está sendo implementada, é a de "adesivos virtuais": usando a câmera no aplicativo do Facebook, usuários poderiam deixar recados e imagens em ruas, parques, dentro de restaurantes, no local de trabalho e outros.

    Recentemente, a companhia adicionou a capacidade de compartilhar fotos e vídeos em 360 graus dentro da rede, algo que já havia sido feito pelo YouTube, do Google, empresa que também investe pesadamente em realidade aumentada —outra "pioneira" é a Microsoft, que vende um aparelho para atividades do tipo por cerca de R$ 9.300.

    A empresa também anunciou novidades para o Messenger, serviço de bate-papo que tem agora 1,2 bilhão de usuários, incluindo a integração com serviços como Apple Music, Spotify e Uber.

    Assim como no aplicativo Allo, do Google, usuários do Facebook Messenger passam a poder "convocar" um agregado virtual para conversas individuais ou em grupo para, por exemplo, tocar uma música ou fazer reservas em restaurantes.

    O evento é realizado para cerca de 4.000 participantes entre esta terça e esta quarta (19) em San José, a cerca de meia hora da sede da empresa, na Califórnia.

    SURPRESA

    Para o vice-presidente de pesquisa da consultoria Gartner, Brian Blau, os anúncios desta terça-feira foram surpreendentes pelo tempo despendido só no que ele chama de "tecnologias imersivas".

    "Praticamente metade do tempo [da apresentação principal] foi centrada em realidade virtual e realidade aumentada, e isso com uma companhia que tem diversas tecnologias e questões para discutir", disse à Folha.

    O que chama a atenção, para Blau, é o fato de tais tecnologias terem tão poucos usuários. "Há muito poucos usuários. Algum dinheiro está sendo gerado, na venda de hardware e de software. Mas os aparelhos são tão caros que o nicho é muito pequeno", diz.

    O analista afirma que a ênfase em técnicas imersivas que usam a câmera do smartphone porão o Facebook em posição vantajosa em relação a competidores como o Snapchat, apesar de a companhia também se inspirar nos produtos da concorrência.

    Uma certa ausência de aplausos da plateia deveria preocupar investidores, diz Blau. "Acho que os investidores prestam atenção no entusiasmo da audiência. Eu estaria preocupado com isso, se fosse investidor", diz.

    O problema de notícias falsas, para o executivo, deve continuar a ser uma "preocupação recorrente" para a rede social, apesar de não ter sido mencionado por Zuckerberg. "E acho que o Facebook, assim como seus concorrentes, tem a responsabilidade de fazer tudo o que puderem para prover usuários e a si mesmo com ferramentas para mitigar [boatos]."

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