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DANIELA BERNARDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

28/06/2014 20h15

Minas Gerais teve no ano passado 1.767 casos de dengue confirmados a cada 100 mil habitantes -mais do que o dobro da média nacional, que é 734. Neste ano, a incidência despencou: 146 casos para cada 100 mil pessoas.

Coincidência ou não, é justamente em Minas Gerais que está boa parte da pesquisa nacional dedicada a acabar com o mosquito da dengue, na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Lá, pesquisadores estão há alguns anos tentando acabar com o mosquito que transmite a doença pela picada.

Os químicos Jadson Belchior e Luiz Carlos de Oliveira desenvolveram, em 2013, um novo tipo de material que, em contato com a luz do sol e a água, libera uma substância -sob sigilo por causa do pedido de patente- que impede o desenvolvimento das larvas do mosquito.

São pedaços de tijolos menos densos que água ou manto. Com isso, ele se adapta a diferentes possíveis criadouros: reservatórios de água, piscinas, calhas, pneus e vasos de plantas.

Testes feitos em laboratório durante dez semanas obtiveram sucesso. Nos galões de água com o material, não houve proliferação de nenhum mosquito.

"Ao subir à superfície para respirar, as larvas morrem por causa do ambiente tóxico criado, que destrói sua parede celular", diz Belchior.

Outra tática é que a fêmea do mosquito enxerga a água com os "tijolos"como inadequada. "A fêmea não coloca os ovos ou eles acabam não eclodindo, porque o ambiente não é propício", diz.

Ele calcula que o custo do produto no mercado será baixo. "Para cobrir 500 litros de água, gastamos 20 reais."

A invenção está sendo negociada entre a universidade e a empresa Vértica Serviços e Tecnologia Eireli, que, depois, poderá encaminhar a solicitação de comercialização à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

A previsão é que isso aconteça em até um mês, segundo a empresa.

MONITORAMENTO

Outra invenção da UFMG é a Plataforma MI-Dengue, que gera informações em tempo real sobre a presença de mosquitos fêmeas do Aedes aegypti em pontos da cidade.

Essas informações são úteis para que o poder público consiga mapear a doença e desenvolver estratégias para acabar com o mosquito.

Foi com essa tecnologia que a cidade de Santos, litoral sul de SP, conseguiu recentemente uma redução de 97% dos casos de dengue: de 9.000, entre julho de 2012 e junho de 2013, para 405 no mesmo período do ano seguinte.

A cidade usa a tecnologia desde de 2012. Os dados ajudaram a prefeitura a achar os focos de dengue e a combater o mosquito.

O monitoramento funciona com armadilhas (que podem ser em formato de vaso, chamadas de MosquiTraps) que atraem o mosquito para dentro delas.

O inseto fica preso na superfície adesiva da estrutura ao tentar colocar seus ovos.

Semanalmente, agentes de vigilância vistoriam cada armadilha. A diferença é que as informações coletadas são enviadas por aparelhos celulares a um banco central que as processa em tempo real.

Com isso, são gerados mapas com indicadores sobre a quantidade de mosquitos com o vírus em cada bairro, que está ligado ao número de casos de dengue.

"Os dados ajudam a compreender a sazonalidade do vetor, o que nos permite priorizar áreas estratégicas na cidade", explica Maria Mercedes Bendati, da Equipe de Vigilância de Roedores e Vetores de Porto Alegre (RS).

A cidade gaúcha utiliza a tecnologia desde 2012.

"No ano passado, 49% dos casos estavam em um único bairro. Com o MI-Dengue, conseguimos evitar que a doença se espalhasse para outras áreas", explica.

"Focamos o uso de inseticidas em uma área mais limitada, o que economizou recursos financeiros", diz André Capezzuto, do Serviço de Controle de Mosquitos de Vitória (ES), que adotou a armadilha há sete anos.

EXPORTAÇÃO

A Mosquitrap, diz o biólogo Álvaro Eduardo Eiras, criador da tecnologia e docente da UFMG, será implementada na Flórida (EUA) no próximo mês. Desde 2010, os EUA têm registrado casos da doença no sul do país.
Colômbia e Bolívia também teriam interesse em usá-la ainda neste ano.

Outra novidade do pesquisador é a plataforma gratuita Dengue Map, que foi lançada no início de junho.

Com ela, é possível mapear os casos de dengue na cidade e analisar os dados por semana e por bairros.

DANIELA BERNARDI é trainee do 2º Programa de Treinamento em Jornalismo de Ciência e Saúde, patrocinado pela Pfizer. "Dengue" é o projeto final da turma.

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Leia também: Conheça os trainees do 2º Programa de Treinamento em Jornalismo de Ciência e Saúde

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