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FERNANDA ATHAS
DA EDITORIA DE TREINAMENTO

09/07/2015 00h01

O almoço em uma churrascaria movimentada da cidade de São Paulo reúne 48 pessoas. Beijos e abraços indicam um animado encontro de amigos. Eles se conhecem há longa data –dez anos, história que começou na internet. Há seis anos, trocaram o virtual por reuniões pessoais. Chamado Mais de 50, o grupo tem casais, viúvos, divorciados e namorados nessa faixa etária.

"É um almoço muito divertido, um grupo superacolhedor, todo novo amigo é bem-vindo", conta Maria Inês Zocchio, 65, professora aposentada. "Aqui, a gente se prioriza, afasta a tristeza, compartilha histórias..."

Maria Inês é uma das responsáveis por manter o grupo unido e promover atividades, almoços e viagens. "Fazemos amigos, criamos laços, somos como uma grande família."

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Segundo o Ministério da Saúde, procurar companhia durante as refeições pode prevenir depressão e estimular as funções cognitivas, a memória e a inteligência. Embora válida para todas as idades, a recomendação está disponível no guia oficial do governo de 2010 sobre alimentação para pessoas idosas, consideradas no Brasil aquelas com mais de 60 anos.

Para Ligiana Corona, nutricionista e pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), socializar influencia todas as ações ligadas à alimentação. "Sempre que o idoso tiver condições de participar das compras dos alimentos, do preparo e do consumo em boa companhia, é saudável incluí-lo", diz.

Segundo a pesquisadora, o idoso tende a ter uma alimentação pouco nutritiva e em menores quantidades quando está em um ambiente que negligencia sua presença e participação.

A preocupação é global e se deve ao envelhecimento da população. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), até 2020 a população mundial terá mais pessoas acima dos 60 anos do que crianças com até cinco anos.

No Brasil, a expectativa de vida superou os 70 e as previsões são otimistas. Nos próximos cinco anos, devemos chegar à marca dos 76.

NO PRATO

Dentre os caminhos que levam a uma vida longeva, cuidar da alimentação é essencial. No prato de Maria Inês, por exemplo, não podem faltar folhas.

Diagnosticada com hipertensão aos 39 anos e portadora de talassemia (um tipo de anemia), ela precisa manter um regime alimentar rico em verduras e evitar sal, produtos condimentados e temperos prontos.

Mesmo com a hipertensão controlada por remédios e alimentação balanceada, ela conta que o fator emocional interfere muito no comportamento da doença. "Ano passado, meu pai faleceu. Isso mexeu muito comigo e, em certos momentos, minha pressão aumentava.", conta.

Estar rodeada de amigos, receber apoio nas redes sociais, por telefone e pessoalmente, como aconteceu com Maria Inês, foi o que a fez ficar emocionalmente forte para retomar a rotina.

"Não é obrigatório que as pessoas se sintam solitárias", diz Anita Neri, 68, professora da pós-graduação em ciências médicas da Unicamp. Para ela, hoje o processo de envelhecimento é variado.

"Há 20 anos, a realidade da velhice era muito uniforme. Atualmente, temos uma enorme variabilidade de experiências", diz. "As facilidades trazidas pelas redes sociais, por exemplo, proporcionaram um salto qualitativo nessa etapa da vida para aqueles que desenvolveram afinidade com a tecnologia".

REVIGORAR É PRECISO

Ver os filhos saírem de casa, aposentar-se, enfrentar um divórcio ou a perda do companheiro são experiências recorrentes entre os mais velhos, que podem provocar tristeza e solidão. Dados obtidos pela Pesquisa Nacional de Saúde mais recente, de 2013, divulgada pelo IBGE, revelam que a faixa etária com maior proporção de diagnósticos de depressão é a de pessoas entre 60 e 64 anos.

"Quando um filho sai de casa, a gente sente bastante. Fica uma lacuna. Mas depois vamos criando uma nova rotina, conhecendo pessoas e agora seguimos a vida somente eu e minha mulher. Vamos viver o nosso momento", diz Rui Bastos. Ele e Sandra Kammsetzer são casados há 49 anos e participam há seis do Mais de 50. Eles têm três filhos morando em outros Estados.

Com a saída deles, o casal ficou com mais tempo livre. Sandra descobriu o grupo Mais de 50 na internet e convidou o marido para participarem juntos dos almoços. Logo, fizeram amizades que preencheram o dia a dia do casal com outros eventos, como caminhadas, videoquês e sair para comer.

Veterano do grupo, José Benedito Oliveira, 68, aposentou-se e virou taxista. Vegetariano há mais de 30 anos, adora cozinhar para os outros. Não consome açúcar e tudo o que adoça é com mel. Por mês, chega a consumir dois quilos do produto.

Ele defende que sua boa saúde se deve, em boa parte, ao mel. O contato com passageiros sentindo dores de garganta e gripados é uma constante, mas sua saúde permanece intocável graças, segundo ele, ao consumo de mel e à alimentação balanceada, equilibrada.

Após cinco anos cuidando da mulher, que ficou doente, José enviuvou. "Eu baqueei depois que minha esposa faleceu. Chegou um momento em que me sentia muito triste, mas revigorei", comenta. Hoje, ele namora uma pessoa que conheceu no Mais de 50.

"Não há regras, envelhecer é também dar espaço para novas experiências marcarem o tempo. O convívio social ao redor da mesa tem poderes revigorantes.", afirma Neri. Maria Inês considera que essa é a razão de o grupo persistir há tantos anos.

Ela comenta que, quando era mais jovem, tinha uma visão um tanto sombria sobre como seria a velhice. Mas hoje se sente privilegiada por fazer parte de uma geração que, nas suas palavras, "não tem nada de ultrapassado". "Minha perspectiva de vida ficou muito mais alegre", diz.

FERNANDA ATHAS fez o 3º Programa de Treinamento em Jornalismo de Ciência e Saúde da Folha, patrocinado pela Pfizer.

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