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    Condição de Patrimônio da Humanidade de Valparaíso está sob análise

    DA FRANCE PRESSE

    18/01/2014 09h50

    A cidade velha do porto de Valparaíso, famosa pelas casas coloridas que preenchem os mais de 40 morros, luta para não perder sua condição de patrimônio da humanidade.

    Neste sábado (18), será concluído na cidade o rali Dakar-2014, competição automobilística que começou em 5 de janeiro na Argentina. Uma premiação está prevista para a tarde, na praça Echaurren, no porto, que fica a 120 km de Santiago.

    Mas no mesmo cenário em que os veículos terão sua chegada triunfal, a construção de um centro comercial em frente à beira mar causa polêmica entre moradores.

    As opiniões se dividem entre aqueles que pensam que a intervenção mudará a paisagem de um dos principais cartões postais do país - e enterrará o título de patrimônio adquirido em 2003 pela UNESCO - e os que acham que as consequências econômicas valem o risco.

    Há alguns meses as obras do centro comercial começaram, mas um recurso judicial - embasado em um estudo arqueológico - paralisou os trabalhos.

    Em novembro, uma missão técnica da UNESCO visitou o lugar para avaliar seu estado de conservação.

    Nos próximos meses será conhecido o laudo dessa visita, que poderia ameaçar, uma década depois, a condição de patrimônio de Valparaíso.

    "Valparaíso é uma cidade que ainda tem um longo caminho a percorrer. Temos recém 10 anos de patrimônio (...) e creio que, como todas as etapas desses 10 anos, há muito o que fazer; algumas coisas estão apenas começando, enquanto outras já estão na etapa de término", disse o prefeito do porto, Jorge Castro.

    "Eu acho que o que vai entrar no relatório final da UNESCO é que temos feito esforços e trabalhado duro e que estamos tentando conseguir um emprego a longo prazo para uma cidade que que, em si, é muito complexa", diz o prefeito.

    UM CENTRO COMERCIAL EM DISCÓRDIA

    As obras paralisadas do centro comercial são hoje um reflexo do que Valparaíso está se tornando. A cidade é visitada por milhares de turistas que se maravilham com a topografia única da cidade, formada por 44 colinas, onde se encontram milhares de casas suspensas multicoloridas, acessadas por meio de escadas intermináveis, elevadores para idosos e passagens estreitas.

    Mas o porto é também uma região com pobreza acima da média nacional e que precisa lidar com as vicissitudes da sua geografia.

    Precisamente os quase US$ 150 milhões de investimento que envolvem o shopping e os cerca de 4.000 postos de trabalho criados durante a construção e, depois, durante a sua operação, são os melhores argumentos do prefeito do porto.

    Com eles, explica, poderiam melhorar as condições do município. Hoje, há dificuldade para enfrentar problemas urgentes como a limpeza e a coleta de lixo, especialmente difícil nas colinas, onde proliferam aterros.

    "A construção do centro comercial é uma visão muito simplista do crescimento da economia da cidade", critica o economista Camilo Vargas, que luta contra a construção.

    "Achamos que existem funções muito mais importantes para Valparaíso do que abrigar um shopping e que existem outras zonas da cidade, especialmente na periferia, que servem muito melhor para instalar esse centro", explica.

    A BELEZA DE UM LUGAR ÚNICO

    No século 19, imigrantes europeus chegaram ao porto para começar uma nova vida, fazendo dele a capital mais cosmopolita de um país ilhado. Agora são os turistas que vêm, atraídos pela conservação do antigo esplendor que tinha quando era o principal porto do Pacífico Sul.

    Hoje Valparaíso não é o principal porto do Chile. Seu vizinho, o porto de San Antônio, roubou esse lugar. A cidade concentra uma grande oferta de universidades e tem no turismo uma de suas principais fontes de renda.

    Os lugares mais visitados de Valparaíso são La Sebastiana, uma das três casas do poeta prêmio Nobel chileno Pablo Neruda, que fica no monte Florida, e o monte Alegre, onde estão os hotéis, as lojas, restaurantes, galerias e cafeterias.

    Para chegar até aqui, muitos usam o elevador Reina Victória, um dos poucos elevadores centenários que funcionam normalmente, como uma alternativa para subir ou descer os montes.

    Movidos primeiramente pela força hidráulica, depois a vapor e hoje com eletricidade, 30 elevadores já funcionaram na mesma época em Valparaíso. Hoje, só restaram cinco deles, e outros quatro estão em conserto.

    Para subir ou descer no Reina Victória devem ser pagos 100 pesos (menos de um real). O trajeto dura apenas dois minutos, mas quando se alcança seu topo é possível apreciar todos os contrastes de Valparaíso: de um lado, as brancas tumbas do cemitério Disidentes e as empobrecidas casas multicoloridas; do outro, a baía e a atividade portuária incessante.

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