QUINTA-FEIRA

A viagem começa em Pelotas (RS), às 20h de um dia com muita chuva e frio de 13°C. O motorista Jacir Vaguetti diz que, nos oito anos em que trabalha na linha, só viu três pessoas percorrerem o trajeto do começo ao fim –incluindo aí a reportagem da Folha.

Em Porto Alegre (RS), ainda sob chuva, o ônibus segue para a garagem da empresa e os passageiros são transferidos para outro veículo. Na rodoviária, sobem os primeiros viajantes com destino a Fortaleza (CE).

	Divulgação
	Um dos ônibus da empresa Nossa Senhora da Penha que faz a linha de Pelotas a Fortaleza

SEXTA-FEIRA

Por volta das 10h, vejo pela janela belas casas que lembram chalés europeus, com telhado inclinado e sem portão

A temperatura baixa persiste em Curitiba (PR), onde o ônibus vai até a garagem para uma limpeza externa do veículo. Na rodoviária, aumenta o número de passageiros que irão até o final da linha.

O primeiro ponto de parada com chuveiros da viagem é o de Registro (SP), por volta das 17h.

Mesmo à noite, é possível ver a densa fumaça saindo das chaminés industriais em Volta Redonda (RJ), importante polo metalúrgico e siderúrgico do país.

SÁBADO

Ao amanhecer, o ônibus para em Leopoldina (MG) para o café da manhã. Com a claridade, nota-se que a paisagem até então verdejante, de mata atlântica, começa a secar conforme a linha adentra o cerrado.

A temperatura de 31°C, em Santa Rita de Minas (MG), é a mais alta de toda a viagem.

Alguns passageiros aproveitam os chuveiros da parada de Teófilo Otoni (MG) para tomar banho, por R$ 10, enquanto o ônibus passa por mais uma limpeza. É meu primeiro banho.

No restaurante de beira de estrada de Ponto dos Volantes (MG), última parada mineira, bandeirolas coloridas pendendo do teto sugerem que ainda é época de Festa Junina na cidade. Ao microfone, uma mulher anuncia os destaques do jantar: macarronada, frango assado e feijoada. Na lojinha, há cachaças de até R$ 700.

DOMINGO

De manhã, o ônibus começa a esvaziar, em Feira de Santana (BA). Na paisagem seca, com árvores esparsas, veem-se também cactos.

No calor de Petrolina (PE), no sertão pernambucano, embarca um jovem casal com um recém-nascido, seguindo para Fortaleza. Divulgando a cultura sertaneja, o restaurante da rodoviária vende revistas de cordel por R$ 3.

O último jantar da viagem acontece em Barro (CE). Nos aparadores do restaurante por quilo, os pratos são basicamente os mesmos oferecidos em todos os estabelecimentos pelo caminho, do Sul ao Nordeste: arroz, feijão, macarronada, frango assado, alface e tomate.

Em uma a cada duas casas vejo moradores conversando sentados à calçada em Icó, cidade agradável do interior do Ceará. Numa praça circular, casais aproveitam a noite domingueira para namorar.

SEGUNDA-FEIRA

Após quase 80 horas de viagem, são 11 os passageiros remanescentes, que desembarcam na rodoviária de Fortaleza (CE) às 3h30 da manhã (a previsão de chegada ao destino era às 23h do domingo).

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QUEM FOI

Arquivo Pessoal

Mariana Bomfim, colaboradora da Folha de São Paulo.

Logística voei de São Paulo até Pelotas (RS); depois, fui de ônibus até Fortaleza; voltei da capital do Ceará à capital paulista de avião

Sem banho poucos postos de apoio têm chuveiros e, como as paradas são breves, algumas vezes foi necessário escolher entre comer e tomar banho. Só entrei no chuveiro no sábado à tarde.

Conforto embora não fiquem totalmente na horizontal, as poltronas do ônibus reclinam bastante, e há muito espaço entre elas –houve certo conforto na viagem.