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    Maior linha de ônibus do Brasil vai do Rio Grande do Sul ao Ceará em 5 dias

    MARIANA BOMFIM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PELOTAS A FORTALEZA

    11/09/2014 02h00

    "Vou com vocês até Vitória da Conquista, na Bahia. São seis horas de viagem", anuncia o motorista, atravessando o corredor do ônibus. Ele é um dos 11 no revezamento do volante.

    A Folha percorreu 4.530 km na maior linha de ônibus em funcionamento no Brasil, segundo a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). A reportagem relata nesta edição como é o trajeto –feito pela empresa Nossa Senhora da Penha há mais de 30 anos– e quem são os passageiros que entram e saem durante o percurso.

    A viagem começou na noite de quinta-feira em Pelotas (RS) e terminou em Fortaleza (CE), quase 80 horas depois.

    Passa das 16h30 de sábado e o ônibus está parado na rodoviária de Teófilo Otoni (MG), o que significa que mais da metade do caminho ficou para trás.

    Divulgação
    Um dos ônibus da empresa Nossa Senhora da Penha que faz a linha de Pelotas a Fortaleza
    Um dos ônibus da empresa Nossa Senhora da Penha que faz a linha de Pelotas a Fortaleza

    Numa poltrona na janela, uma das mãos de Antônio Cruz segura a imagem de uma santa de gesso com cerca de um metro de altura, da qual ele não desgrudou desde o seu embarque, em Curitiba (PR).

    É por causa dela que o aposentado, 74, escolheu o ônibus para ir a Fortaleza.

    "Já viajei de avião uma vez", Antônio conta. "Mas minha Nossa Senhora de Fátima tinha que vir comigo, ia ser complicado".

    Com a outra mão, ele segura uma pasta de documentos. A certidão registra Quixeramobim, no sertão cearense, como o local de nascimento. É para lá que ele vai, visitar a família. "Em Fortaleza, pego mais um ônibus para chegar."

    São poucos os passageiros que viajam do início ao fim.

    Ilustração Carolina Daffara Ferreira/Editoria de Arte/Folhapress

    VIAGEM É AULA SOBRE BIOMAS BRASILEIROS

    Do Sul ao Nordeste, a paisagem emoldurada pela janela do ônibus na linha rodoviária mais longa do país muda lentamente. É como assistir a uma aula prática sobre os biomas brasileiros, dos pampas e da mata atlântica ao cerrado e à caatinga.

    Os 13°C marcados pelo termômetro na rodoviária de Pelotas (RS) sobem lentamente e, quando a BR-116 atravessa uma série de cidades mineiras pequenas e parecidas, como São João do Manhuaçu e Santa Rita de Minas, um mostrador dentro do ônibus informa que a temperatura externa está na casa dos 31°C.

    Por causa do ar-condicionado no interior do veículo, os passageiros só sentem o calor nas breves paradas de 30 minutos que, em geral, ocorrem a cada três horas.

    Durante a parada para o almoço de sábado, em Governador Valadares (MG), Irandir Barbosa de Moura, 64, conta que pegou a linha em Itajaí (SC) para descer em Icó (CE). Depois, seguirá para sua cidade, Lavras de Mangabeira, a 70 km da parada do ônibus.

    Mariana Bomfim/Folhapress
    Antonio Cruz e a santa foram de Curitiba até Fortaleza
    Antonio Cruz e a santa foram de Curitiba até Fortaleza

    Viajando com a mulher, a professora Elza Barbosa de Moura, 60, o pedreiro retorna de uma visita de quase um mês aos seis filhos, que moram na cidade catarinense. "O ônibus é muito cansativo", diz. "Prefiro avião, mas minha mulher tem medo."

    O medo de voar, aliás, é, ao lado de questões como a ausência de limite de bagagem e a possibilidade de viajar de graça, um dos motivos que explicam por que há quem prefira passar dias na estrada, em vez de horas no ar.

    Do ponto de vista financeiro, o avião é mais vantajoso. Com três semanas de antecedência, é possível comprar, por exemplo, uma passagem de Navegantes (SC), a 3 km de Itajaí, a Juazeiro do Norte (CE), onde está o aeroporto mais próximo de Icó, por R$ 521. São seis horas de voo. A passagem de ônibus de Itajaí a Icó custa R$ 566,30. E quase 60 horas de estrada.

    PASSAGEIRO ESPECIAL

    No caso da aposentada Raimunda Sousa Régis, 60, o ônibus foi escolhido porque ela tem a Carteira do Idoso, que dá descontos ou gratuidade no transporte coletivo interestadual a quem tem 60 anos ou mais e renda inferior a dois salários mínimos.

    Em cada veículo, são reservadas duas vagas para quem tem o benefício e, nesta viagem, Raimunda é uma delas.

    Nascida em Petrolina (PE), ela mora em Curitiba (PR) há 40 anos e espera encontrar uma grande festa quando desembarcar em sua cidade natal. "Faz 24 anos que não volto pra lá", diz. "A família inteira está me esperando."

    O casal Fernanda, 42, e José Schwartzhaupt, 41, mora em em Alvorada (RS) e tem o Passe Livre, benefício do governo federal que dá direito à gratuidade em ônibus interestaduais para portadores de deficiência que tenham renda familiar per capita de até um salário mínimo mensal (ele não tem uma perna e ela tem restrição de mobilidade de um lado do corpo).

    Com pouco tempo de férias, o passeio será bem curto. Planejam ficar só três dias em Fortaleza e voltar. "Estamos passando a maior parte das férias dentro do ônibus", afirma José.

    VAI ENCARAR?

    Pelotas-Fortaleza saídas às quintas, às 20h
    Previsão de chegada domingo, às 23h
    Quanto R$ 742,15

    Fortaleza-Pelotas saídas às sextas, às 8h
    Previsão de chegada segunda-feira, às 13h25
    Quanto R$ 791,42

    Confira relato da repórter que viajou pela maior linha de ônibus do Brasil

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