• Turismo

    Monday, 06-May-2024 06:43:00 -03

    Cusco, no Peru, homenageia seu maior fotógrafo, Martin Chambi

    LEÃO SERVA
    COLUNISTA DA FOLHA

    11/09/2014 02h00

    A cidade de Cusco homenageia seu maior fotógrafo a partir do próximo dia 19.

    Cerca de 35 fotografias feitas por Martin Chambi (1891-1973) ao longo de sua carreira serão expostas em ampliações junto a lugares da cidade que ele retratou.

    Permitirá ao observador de hoje se deliciar com sua obra ao mesmo tempo em que ele perceberá como a cidade mudou desde a primeira metade do século pas- sado, período em que as fotos foram feitas.

    A exposição é organizada por seu neto Teo Allain Chambi, também fotógrafo, responsável pelo Arquivo Martin Chambi, que cuida da obra deixada pelo avô.

    As fotos terão 3m x 4m e incluem alguns dos principais pontos da cidade que foi capital do imenso império Inca até a conquista pelos espanhóis em 1532.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Há várias delas localizadas em torno da Praça das Armas, ao redor da qual se concentra a vida mais intensa da cidade, tanto as mais importantes igrejas do período colonial quanto as lojas e restaurantes que atraem os milhares de turistas que visitam Cusco.

    'ROMA ANTIGA'

    Muitas de suas fotos são de prédios em Cusco, a grande metrópole pré-hispânica.

    Chamada de "Roma das Américas", pelo número de ruínas de grandes palácios antigos, Cusco está localizada no topo da Cordilheira dos Andes, a cerca de 3.500 metros de altitude.

    Com uma população atual de cerca de 500 mil pessoas, a cidade já era a maior da América, uma das maiores do mundo, quando os espanhóis ocuparam o centro do poder.

    Tinha um traçado urbano organizado, como não conheciam os europeus e grandes edifícios construídos sobre grandes blocos de pedra talhada com técnicas esquecidas desde a decadência do império pré-colombino.

    Ao conquistar o poder, os espanhóis adotaram os muros dos prédios incas como alicerces sobre os quais subiam paredes de adobe à moda europeia.

    TERREMOTOS

    Por duas vezes, a arquitetura dos espanhóis foi testada: desde a conquista, dois grandes terremotos aconteceram, um em 1650 e outro em 1950. Sem exceção, os muros incas resistiram intactos; muitos prédios foram destruídos em sua parte construída com a técnica europeia.

    O violento terremoto de 1950 forçou a reconstrução de inúmeros prédios. Era um tempo de desenvolvimentismo: o estilo das novas construções se choca com o da arquitetura colonial.

    "Um horror", classifica Teo Allain Chambi, para quem a exposição de fotos feitas por seu avô (as mais recentes mostram exatamente as a destruição provocada pelo tremor) vai permitir que o espectador compare como os arquitetos dos anos 1950 enfeiaram a velha cidade.

    *

    DE FAMÍLIA POBRE, CHAMBI É GÊNIO DA FOTOGRAFIA

    Nascido em família indígena na cidade de Puno, Martin Chambi (1891-1973) era filho de um mineiro pobre.

    Ainda pequeno, a família mudou para outra localidade, onde o pai se empregou numa mina de ouro, de uma empresa americana.

    Ali, o garoto conheceu o fotógrafo contratado pela multinacional e se apaixonou por seu trabalho. Apesar de humilde e sem qualquer formação artística, o pai permitiu que o filho se dedicasse à fotografia.

    Por isso, aos 17 anos, o jovem Martin foi morar na cidade de Arequipa, onde tornou-se aprendiz em um importante estúdio fotográfico.

    Depois de nove anos, criou seu próprio estúdio em Sicuani, próxima de Cusco, e começou a imprimir suas fotos como cartões-postais, uma novidade em seu tempo.

    Em 1920, mudou-se para Cusco, onde viveu até morrer.

    Chambi se concebia como um artista de tradição indígena. Os críticos o classificam como "neo-indígena".

    Em 1979, o MoMA (Museu de Arte Moderna) de Nova York fez uma grande retrospectiva de seu trabalho e, desde então, Chambi é considerado um dos grandes gênios da fotografia, a principal referência da arte no Peru do século 20.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024