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    Chegada de hotéis asiáticos colocam hotéis da capital francesa em alerta

    ADAM THOMSON
    DO "FINANCIAL TIMES", EM PARIS

    11/09/2014 02h00

    O edifício do começo do século 20 que fica na esquina das avenidas Kléber e des Portugais, em Paris, sofreu inúmeras transformações desde que foi inaugurado como hotel Majestic, em 1908.

    Ele foi sede do Ministério da Defesa francês e, depois, quartel-general do comando alemão em Paris na Segunda Guerra Mundial.

    Se você passar hoje por sua entrada e pelo pórtico de vidro e dois imensos leões chineses ladeando os degraus da escada, estará vendo os sinais de que o hotel acaba de passar por uma transformação.

    Em agosto, ele foi reaberto como Peninsula Paris, a primeira unidade da cadeia de Hong Kong aberta na Europa. Com investimento de quase € 800 milhões (R$ 2,3 bilhões), é um dos maiores projetos de hotelaria já empreendidos na capital francesa.

    Mas o novo hotel não está sozinho. Dois outros empreendimentos cinco-estrelas foram inaugurados, de 2010 para cá. O Mandarin Oriental tem suítes com vista para um luxuriante pátio central, por € 925 (R$ 2.700).

    Editoria de Arte/Folhapress

    No 16º arrondissement, os hóspedes podem relaxar no Shangri-La Hotel, que já serviu de lar ao sobrinho-neto de Napoleão Bonaparte e tem a melhor piscina entre as casas cinco-estrelas de Paris.

    O que todos esses hotéis têm em comum, além das raízes asiáticas, são as instalações modernas que uma nova classe de turistas, de altíssimo patrimônio –muitos vindos de economias emergentes como China e Brasil–, costumava buscar junto à velha guarda de hotéis parisienses.

    A nova presença asiática na cena hoteleira de Paris causou tremores a alguns dos mais famosos nomes no setor.

    Para a maioria dessas casas, a chegada dos rivais serviu como alerta, forçando-as a realizar altos investimentos e a ingressar em uma corrida para transformar, por exemplo, academias em spas.

    Este ano, o Bristol concluiu uma reforma de seis anos para adaptá-lo aos muito ricos. O Ritz, que fechou em 2012 para uma mudança de € 140 milhões (R$ 407 milhões), mais ou menos um ano depois que o Shangri-La e o Mandarin Oriental chegaram a Paris, só reabrirá em 2015, mesmo ano em que o Hôtel de Crillon deve voltar a funcionar.

    O Plaza Athénée acaba de ser reinaugurado depois de dez meses e € 200 milhões (R$ 580 milhões). François Delahaye, diretor-geral do hotel, diz que a decisão mais importante foi a de manter os 550 funcionários. "Não quis permitir que os demais hotéis os contratassem."

    O NOVO E O VELHO

    Assim, que cara tem o novo e mais competitivo cenário da hotelaria parisiense? Hospedei-me em dois dos hotéis –um novo e um velho– para descobrir.

    Da nova onda, fiquei no Peninsula, onde o estilo fica a meio caminho entre o art déco e a moderna funcionalidade empresarial. Todos os complementos são de bom gosto, mas sóbrios. Exceto o secador de unhas embutido na parede do closet de cada quarto, a sensação é predominantemente masculina.

    Mas quando você começa a pensar que o quarto é só uma caixa, duas coisas o levam a mudar de ideia. A primeira é o banheiro oval em mármore. Se somarmos a isso um televisor protegido contra respingos, um console com tela de toque para controlar as luzes e um assento de vaso sanitário em estilo asiático, fica difícil querer sair.

    O segundo trunfo é um tablet que permite que o hóspede controle tudo.

    O Plaza Athénée de muitas maneiras é a antítese do Peninsula. As paredes com painéis de carvalho no bar do Peninsula e os detalhes em gesso de seu saguão e salão de baile servem como exemplo. Mas enquanto a escala grandiosa do Peninsula impressiona, o Plaza Athénée, com seus clássicos toldos vermelhos e floreiras, seduz.

    Do saguão com piso de mármore aos múltiplos espelhos, o hotel de 103 anos é rebuscado.

    Os raros esforços do Plaza Athénée para se acomodar ao século 21 são pouco mais que superficiais: ligar o televisor de tela plana na suíte real requer algum esforço; o elevador, novo, range.

    A razão irresistível para visitar o térreo do Plaza Athénée é o suntuoso restaurante de Alain Ducasse.

    É tentador pensar que a perfeição hoteleira seria o filho ilegítimo de um encontro entre o Plaza Athénée e o Peninsula. Mas já que isso é impossível, é no mínimo reconfortante saber que, com o advento dos grupos hoteleiros asiáticos e a resposta dos rivais locais, Paris hoje tem ainda mais a oferecer aos viajantes internacionais de luxo.

    Tradução de Paulo Migliacci

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