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    Repórter vive experiência de ser gueixa por um dia no Japão

    HELENA CARONE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    13/11/2014 02h00

    Elas são como bonecas de porcelana que se movem graciosamente, equilibrando-se sobre tamancos. Parecem delicadíssimas. E, de fato, o são, no gestual adquirido em anos de treinamento exaustivo. Mas a fragilidade, por assim dizer, das gueixas termina aí. Algumas, na verdade, tornam-se mulheres poderosas e ricas. São cobiçadas, e competitivas. Kyoto é onde essa cultura ainda prolifera.

    Em japonês, a palavra "geisha" significa artista, mas, no Ocidente, convencionou-se associar o ofício às atividades de uma cortesã ou prostituta.

    A sensação de ser uma gueixa ainda provoca a fantasia de muita gente, até neste século 21.

    Mas é comum jovens irem a Kyoto para serem "gueixas" por um dia. "Há vários estúdios fotográficos onde elas são maquiadas e vestidas a caráter", conta a guia de turismo Mariko Okunishi. Os habitantes sabem distinguir de longe as falsas gueixas que circulam por pontos turísticos e no centro de Kyoto.

    Instituições consagradas oferecem serviço semelhante para visitantes. Uma delas é a WAK Japan (associação de mulheres de Kyoto), criada nos anos 90 para dar a donas de casa uma oportunidade de gerar renda ensinando a estrangeiros algumas tradições da cultura japonesa.

    São atividades que proporcionam momentos preciosos de interação com a cultura e com habitantes locais.

    GOSTINHO DA NATUREZA

    Sem precisar passar por uma maquiagem exaustiva para se transformar numa gueixa de mentirinha, a visitante ocidental pode, por exemplo, ter um gostinho da dureza que é parecer elegante num quimono ao mesmo tempo em que aprende os princípios básicos da cerimônia do chá, que muitas vezes é conduzida por uma maiko, ou aprendiz de gueixa. São ao todo duas horas. Meu marido e eu resolvemos encarar.

    Fomos recebidos na porta por duas sorridentes senhoras de meia idade, deixamos os sapatos na entrada e fizemos um breve tour na compacta casa de mais de cem anos. No térreo, sala, cozinha, banheiro e um jardim interno. Tivemos uma noção clara de como devia ser difícil passar o inverno japonês rigorosíssimo naquelas construções de madeira vazada.

    Onde ficam os quartos, aprendemos a arte de portar um quimono tradicional.

    MICO

    Cada anfitriã cuida de um de nós. Para começar, protegidos por um biombo, somos despidos da roupa ocidental.

    Sou vestida, primeiro, com uma blusa curta fininha, com mangas compridas. A segunda camada é um quimono de seda florido. Funciona um pouco como um espartilho.

    Para arrematar o conjunto, enfeites para o cabelo, bem femininos. Nos pés, um par de meias brancas curtas especiais para serem usadas com tamancos.

    Seria impossível ajeitar todas as peças sem ajuda.

    Meia hora depois (meia hora!), estou pronta, sentindo-me como que embrulhada para presente, um tanto apertada. Incrível pensar que muitas mulheres dão conta dos afazeres domésticos metidas em trajes semelhantes.

    É difícil conter o riso ao me olhar no espelho: morena, olhos grandes, óculos de grau e cabelos cacheados –estou uma "japonesa" incongruente, mas ainda assim elegante.

    O quimono masculino é bem mais simples e confortável –meu marido parecia um pseudo-samurai. É um mico que se paga feliz.

    Dali, descemos para a cerimônia do chá, que é altamente ritualizado e pode durar até quatro horas. A alma dessa cerimônia é o matcha, chá geralmente de alta qualidade, de um verde intenso, sabor amargo, sempre acompanhado por um docinho.

    Paramentados, ajoelhados a duras penas no tatame à moda japonesa, cuia de matcha nas mãos, vista para o belo e centenário jardim interno da machiya –o que mais pode querer uma turista numa tarde em Kyoto?

    QUERO SER GUEIXA

    >> As experiências de tradições culturais japonesas oferecidas pela WAK (Associação de Mulheres de Kyoto) têm preços que começam em 3.800 ienes (R$ 90), por exemplo, para uma hora de introdução à cerimônia do chá ou para aprender como vestir um quimono

    >> Para ter contato com a tradição das gueixas em ambiente mais informal (já que a companhia de uma gueixa costuma ser privilégio da elite, em restaurantes e clubes exclusivos). O programa de pouco mais de três horas inclui tour guiado de Gion, o bairro das gueixas, seguido de um lanche no fim da tarde acompanhado de uma delas. Custa pouco menos de 30 mil ienes (cerca de R$ 700) por pessoa (mínimo de duas). Grupos maiores pagam menos

    ONDE wakjapan.com

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