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    Clubes privados em Barcelona permitem consumo da erva

    MARCELO QUAZ
    NA ESPANHA

    20/11/2014 02h00

    Não fosse o aroma, seria só mais um sobrado próximo à Sagrada Família, em Barcelona. Mas o cheiro é de maconha, e ali funciona um dos clubes canábicos da cidade.

    Trata-se de associações privadas autorizadas a comercializar a erva e haxixe a associados. Geralmente ambientados como bares ou baladas, os locais têm o consumo permitido.

    O guia da reportagem na visita –em maio deste ano– é um brasileiro, cidadão espanhol, há seis anos no país.

    Ao toque da campainha, uma porta de ferro se abre. "Quem vai endossar a inscrição do novo associado?", quer saber o recepcionista.

    É obrigatório que alguém que já seja membro apadrinhe novas filiações. O "guia" faz as vezes.

    Padrinho, passaporte, formulários preenchidos, foto tirada na hora e € 5 (aproximadamente R$ 16) fazem um novo sócio, munido de um cartão de plástico, como os de banco.

    A segunda e última porta se abre. Neblina. Sofás, mesa de sinuca, telões transmitindo futebol e uns 15 homens, dos 20 aos 50 e poucos anos. Nos fundos, luz branca, balcão e uma máquina parecida com um caixa eletrônico.

    É nela que se coloca crédito no cartão, inserindo as notas de dinheiro. Na tela, "herbs" ou "resins" são as opções que fazem aparecer os menus com dezenas de tipo de maconha ou de haxixe.

    O cliente faz suas escolhas, indica quantos gramas vai querer, espera a impressão do recibo, assina e leva ao atendente do balcão.

    Este pega, lê, vira-se e busca em potes de plástico transparente os tipos escolhidos. Pesa, põe num saquinho, fecha, etiqueta e entrega para o associado.

    Com € 20 (R$ 64) é possível comprar cerca de três gramas dos tipos mais baratos –ainda assim, tem mais qualidade do que os produtos encontrados no Brasil.

    LEI EM EVOLUÇÃO

    Desde os anos 1970, o porte de drogas para consumo próprio ou coletivo em lugares privados não é crime na Espanha. Os traficantes, porém, estão fora da lei.

    Na década de 1990, surgiram em Barcelona e no País Basco as primeiras associações canábicas do país. No começo, intituladas "associações de estudo", elas iniciaram plantações coletivas.

    Inúmeros embates com a Justiça, e frequentes ganhos de causa das associações que se provaram privadas e focadas no autoconsumo e não no tráfico, impulsionaram a abertura de clubes a partir dos anos 2000.

    O boom, no entanto, foi no início desta década, quando Barcelona partiu de 40 para 300 clubes, alguns com dezenas de milhares de membros.

    A questão preocupa órgãos do governo ligados à saúde e ao turismo. Há temor de que a cidade se transforme em uma nova Amsterdã.

    No início deste mês, a Federación de Asociaciones Canábicas entregou ao governo uma nova proposta para regular a questão.

    No projeto, já está prevista, por exemplo, a obrigatoriedade de o consumidor ser residente legal da Espanha.

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